Revista Bizz de novembro de 1989: crítica do disco A panela do diabo, de Raul Seixas e Marcelo Nova, assinada por Ayrton Mugnaini Jr. Clique na imagem para ampliar.
A Panela do Diabo — Raul Seixas e Marcelo Nova (WEA)
Quis o Diabo, o grande Pai do Rock, que um de seus mais ilustres netos — e talvez o mais influente músico do rock brasileiro (não confundir com rock feito no Brasil) fosse embora no mesmo dia do lançamento do seu último LP.
Embora, nos seus últimos shows, Raul se mostrasse fora de forma — era Marcelo Nova que segurava a festa —, o vinil prova o contrário. Na verdade, esta Panela é bem melhor do que já prometiam o primeiro LP solo de Marcelo, ou mesmo a parceria de ambos (“Muita Estrela pra Pouca Constelação) no álbum de despedida do Camisa de Vênus (Duplo Sentido, 1987).
O interessante é notar que o tema “morte” aparece apenas nas composições de Marcelo — na metafórica “Quando Eu Morri”, e em “Rock’n’Roll” (“Por aí os sinos dobram... / Se são sinos da morte ainda não bateram para mim”).
Ninguém adivinharia que Raul estava na reta final. Aqui, ele canta melhor do que Marcelo, embora eles acabem formando uma dupla vocal tão desafinada quanto os Vips — o que se encaixa perfeitamente no espírito country rock de todo o LP. Além disso, Raul conta com o acompanhamento instrumental mais do que adequado da Envergadura Moral, secundada por Rick Ferreira (da banda de Raul) na guitarra, e André Christovam, tocando guitarra e violão. Sinal dos tempos: Raul e Marcelo já podem se apresentar na contracapa como “Putos Brothers”.
O LP faz jus à veia debochada de Raul e Marcelo, tratando de assuntos de qualidade como Rushdie ou o cacique Sting. A dupla fala ainda de seus problemas com bebida e/ou drogas (“Banquete de Lixo”, “Quando Eu Morri”). Raul, grande personalista do rock, assume mais um título: “Eu sou o mistério do sol” (em “Nuit”, sua faixa-solo neste LP).
Não deixa de ser tocante ouvir Raul dizendo “Aqui é Raulzito... this is rock’n’roll... the real one” (na faixa “Rock’n’roll”, que começa com vinte segundos a capella de “Be-Bop-A-Lula”, de Gene Vincent). Este LP é uma celebração do rock tão boa quanto os Traveling Wilburys da vida.
Ayrton Mugnaini Jr. (novembro de 1989)
"Pastor João e a Igreja Invisível" (Raul Seixas / Marcelo Nova)
"Pastor João e a Igreja Invisível" (Raul Seixas / Marcelo Nova)
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