sexta-feira, 12 de novembro de 2010

"Do último verso que eu fizer no mundo!"


Essa fui encontrar nO BERRO das antas! Na edição de primeiro aniversário dO BERRO, em novembro de 1997, publicamos o poema "Versos íntimos", do poeta paraibano Augusto dos Anjos. Tinha sido uma escolha do até então Francismário, que hoje devemos chamar de Mário Menezes (cf. perfil do orkut! ¬¬).

A questão é que há 96 anos (12/11/1914), morria Augusto dos Anjos, vítima de pneumonia, aos 30 anos. E pouco importando que a bicharia tenha roído o coração de tal singularíssima pessoa, celebramos, em 3 atos, a poesia que ainda espanta(?!) e encanta(?!).

1 - Repetindo o poema escolhido por Mário, 13 anos atrás:

VERSOS ÍNTIMOS

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente invevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
o beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!


2 - Ouvindo a singularíssima interpretação do poema "Budismo Moderno", musicado por Arnaldo Antunes (disco Ninguém, de 1995):

BUDISMO MODERNO

Tome, Dr., esta tesoura, e...corte
Minha singularíssima pessoa.
Que importa a mim que a bicharia roa
Todo o meu coração, depois da morte?!

Ah! Um urubu pousou na minha sorte!
Também, das diatomáceas da lagoa
A criptógama cápsula se esbroa
Ao contato de bronca destra forte!

Dissolva-se, portanto, minha vida
Igualmente a uma célula caída
Na aberração de um óvulo infecundo;

Mas o agregado abstrato das saudades
Fique batendo nas perpétuas grades
Do último verso que eu fizer no mundo!




3 - Baixando gratuitamente o livro Eu e outras poesias, disponibilizado em PDF pelo site Domínio Público:

Eu e outras poesias (Augusto dos Anjos) - em PDF

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