quarta-feira, 10 de junho de 2020
9 (+1) poemas de ‘O Belo e a Fera’, livro de Geraldo Urano (Lima Batista)
Neste dia 10 de junho, data em que nasceu o poeta cratense Geraldo Urano (ou Efe, ou Lima Batista, ou Gandhi, ou Mérkur...), em 1953, nossa editoria inaugura uma perspectiva diferente das Listas O Berro 9 (+1), com a nossa própria equipe apresentando uma seleção de poemas do livro O Belo e a Fera (cantigas), lançado originalmente em 1989, com a assinatura de Lima Batista.
Em 2015 a obra de Geraldo Urano foi reunida e editada no volume O Ferrolho do Abismo, com design gráfico do Estúdio Caravelas e prefácio da poeta e professora Cláudia Rejanne. No dia 5 de fevereiro de 2017, Geraldo fez sua viagem para outros planetas, deixando como legado tantas histórias e poesias.
A imagem em destaque nesta postagem é uma ilustração de Reginaldo Farias, a partir de fotografia e desenhos do poeta (estes últimos incorporados ao design de O Ferrolho do Abismo) e a capa original do livro O Belo e a Fera.
Livro O Belo e a Fera (cantigas), de Lima Batista
Prefácio
O Poeta chega ao dia em que desperta e tem a certeza de que nunca adormecera. Olha o Sol e inicia um caminho de alguns poucos passos para beber na fonte cuja água lhe molha os pés, enquanto no peito dói a ânsia de sobrevoar o Universo, sem pátria e muito menos pouso certo.
Uma manhã de junho. Na Serra, esperança afoita, donde trinam pássaros coloridos, nas flanelas das bananeiras. O gado pasta indiferente ao triturar das moendas dos engenhos em começo de moagem. E as águas descem gorgolejantes as lajes da Cascata.
Frio bom, brisa gostosa e a música do estio. Uma solidão cúmplice a falar de planos maiores em elaboração na mente de Deus. O homem e a espera, qual centauro que abrisse os olhos pela primeira vez. Vê o Vale que desce das encostas, indo repousar lá embaixo, nas cidades esdrúxulas; minutos que voam em farejo do novo que nasceu.
O Cariri traz, em Geraldo Lima Batista, a escrita da renovação, mais do que poesia, vigília e certeza, aviso de preparação do Futuro.
José Emerson Monteiro Lacerda
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meu amigo geraldo,
acabei de brincar lendo teu livro. e que brincadeira gostosa e tranquila é sentir o encaixe perfeito das tuas palavras. essas palavras são nossas. são palavras de um mundo mágico que você sabe muito bem encontrar no meio de tantos truques baixos.
a vida tem disso. às vezes você recebe um soco por sobre o estômago. é um golpe seco e cruel. às vezes nós encaramos o algoz e partimos para um próximo e infinito round. às vezes nós vamos a nocaute técnico ou violento, humilhante e injusto, mas nunca definitivo.
imagine muhammad ali numa esquina de new york ou de mauriti distribuindo sorrisos em vez de socos, nocauteando a espera, pois quem sorri não tem o que esperar.
é, brother, só nos resta sorrir diante da baixaria. isto é uma arma. e como diz o poeta: uma arma muito quente.
do seu amigo,
carlos rafael dias
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9 (+1) poemas de O Belo e a Fera (cantigas)
os ladrões estão satisfeitos
com a terra nua
todos os poderes
tiram partido dela
políticos artistas e religiosos
fazem loteria de suas vestes
mas não tarda
o dia da verdade
não tarda a hora da justiça
*
o sino está tocando
nada de novo no manicômio
ela tem lábios encarnados
pergunta quando vou fugir
escrevo seu nome na parede
meu anjo
qualquer dia nós vamos sair
*
antes que eu te chame escandalosa
vê se achas uma rosa
deixa o sol entrar
adeus cidade de detroit
vou embora pra chicago
apenas outro lugar
a outra é não me toque
te abaixes nova iorque para o luar passar
*
és como um tigre minha flor de roma
lirismo meu
ou quem dirá que sonhas?
a semana passou
como um cavalo veloz
como uma flexa passou por nós
se eu fosse um bicho
eu não teria sábado
amo israel
saí do mar procurando o céu
meu anjo
essas coisas de menestrel
*
escuta o vento
tu que és inspirado
elas não vão mal?
se aborrecem com a claridade
não és tu que és desajeitado
que só sabes passar mal
é a noite que invadiu o dia
melhora!
lava o teu rosto na pia
*
não sei de nada
não digo nada
nem nadar eu sei
mas sai do meu caminho
tu que és violento
ladrão de ninhos
*
o destino cruel de um país
confusão na praia
hotéis vazios
a juventude castigada
do noticiário sai fumaça
a paz de cachimbo
some por entre dedos nervosos
*
as condições históricas
a distribuição geográfica das raças
os sobradões coloniais
o amarelo da ásia central
tudo é caleidoscópio
eu consulto o relógio
quando se quebrará o espelho?
nada a contar
a não ser cacos prá todo lado
*
lorena sabe o que é
ser nesse tempo mulher.
atirei o meu anzol
para pescar um sonho
pesquei o abandono.
quando o futuro vier
não quero estar tão nua
as multidões carentes
no modernismo das ruas.
o grito do tucano
no domingo pernambucano
lorena sabe o que é
ser nesse tempo mulher
é bolero prá um deus
por telefone um adeus.
sempre ouvindo o vento
guardado o velho senso
no céu o sol e a lua
na terra a vida crua.
*
o planeta amarelo está em brasa
são os vulcões que se espalham
se eu dissesse
as moças de saigon
caminham pela noite azul da ásia
estaria mentindo
a primavera agora é só verdade
quem deterá os oceanos?
ou impedirá os rigores do inverno?
e essas cidades
para onde querem ir?
que crescimento besta é esse?
_
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Grata ao blog "O berro", por lembrarem de Geraldo, hoje, dia 10/06, dia em que estaria aniversariando e por divulgarem alguns dos seus poemas.
ResponderExcluirMuito obrigada!
Lídia Maria Lima Batista (irmã do poeta)
Grata ao blog "O Berro" por *lembrar de Geraldo, hoje, dia 10/06, dia em que estaria aniversariando e por *lembrar de alguns dos seus poemas.
ResponderExcluirMuito obrigada!
Lídia Maria Lima Batista (irmã do pieta).
*poeta
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