segunda-feira, 24 de março de 2014
O Padre Cícero, a Igreja e a devoção popular (por Renata Marinho Paz)
Grifo nosso # 75
"Para o povo padre Cícero já é santo, a despeito da questão religiosa e do não reconhecimento da Igreja. Embora esta estabeleça uma série de princípios rígidos no que tange à devoção e à canonização, a religiosidade popular segue outros parâmetros. O padrinho é considerado pelo povo como sendo virtuoso, generoso, dedicado, e que, apesar de perseguido pelas autoridades diocesanas, manteve-se submisso e obediente, elementos que confirmam aos olhos do devoto sua santidade. A atitude da Igreja de promover a sua legitimação oficial tardia seria uma espécie reconhecimento de algo que o povo já teria efetivado há tempos.
Nas conversas e entrevistas que realizei com vários romeiros, entre os anos de 2001 e 2003, quando este assunto era ventilado, a reação das pessoas em todos os casos foi de considerar esse processo importante, ainda mais tendo como pano de fundo uma possível beatificação e posterior canonização do padre Cícero. Entretanto, essa legitimação oficial, embora seja relevante, acrescenta pouco à intensidade da devoção ao padrinho. Parece-me que a atitude das autoridades eclesiásticas aproxima-se muito mais de uma ratificação de algo há tempos cimentado nas crenças e práticas religiosas dos romeiros (...)."
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Renata Marinho Paz, no livro Para onde sopra o vento: a Igreja Católica e as romarias em Juazeiro do Norte. IMEPH, 2011. (Col. Centenário)
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