por Ythallo Rodrigues
Há cem anos, definitivamente, iniciava-se a formação do que durante todo o século XX e até hoje é a mais bem sucedida empreitada na indústria do entretenimento mundial. Criava-se em 1912 — fontes indicam datas divergentes, há quem diga que o início foi em 30 de abril e outros apontam para 08 de junho como data oficial — o protótipo do primeiro grande estúdio cinematográfico hollywoodiano, a Universal Pictures.
Pouco tempo depois, naquele mesmo ano, viria a ser criada a Paramount Pictures, outro grande estúdio de Hollywood. Ambas formariam, nas décadas seguintes, o grande parque industrial da cinematografia estadunidense, acrescido por outros famosos estúdios criados posteriormente, como Columbia Pictures, Twenty Century Fox, MGM e Warner Bros.
A Universal Film Manufacturing Company (nome original) é o resultado de uma primeira fusão, realizada pelo imigrante alemão chamado Carl Laemmle, que uniu a sua empresa IMP com outras diversas. No entanto, o que menos interessa para mim é essa história de dados — e de saber sobre todas as fusões que foram realizadas ou deixadas de se realizar pelos empresários do entretenimento. O que me interessa nesta postagem é falar e mostrar um pouco sobre os filmes, sobre os grandes diretores, atores, atrizes, enfim, artistas que comprometidos ou não com essa indústria, criaram um panorama infindável de obras-primas para o cinema mundial. Neste caso, em nome dos filmes realizados pelo que hoje conhecemos como NBCUniversal Media, LLC (a Universal Studios é apenas uma parte dessa empresa), inicio essa viagem.
Convido-os a este passeio.
O primeiro grande nome nessa viagem é, sem dúvida, o do austríaco Eric von Stroheim, que certamente é muito mais conhecido entre nós por sua atuação como o mordomo da personagem Norma Desmond (Gloria Swanson) no clássico de Billy Wilder, Crepúsculo dos deuses (Sunset Boulevard, 1950), do que pelos seus filmes. Stroheim realizou dois filmes importantes pela Universal Pictures. O primeiro, que também fora sua estreia como diretor, é Maridos cegos (Blind husbands, 1919) e o segundo é Esposas ingênuas (Foolish wives, 1922). Ao lado o cartaz do filme Maridos cegos; e abaixo o Esposas Ingênuas, para aqueles que se garantem em ver filme longo online.
Esposas Ingênuas, Eric von Stroheim, 1922, na íntegra.
Seguindo, apresento agora as produções que os estúdios da Universal produziram de mais significativo na década de 1930. O primeiro filme que lhes deu um Oscar (iniciado pela indústria apenas três anos antes), fora Sem novidade no front (All quiet on the western front, 1930), realizado pelo diretor Lewis Milestone, que também levou o Oscar de melhor diretor naquele ano. Esta produção teve refilmagem para a TV em 1979.
Sem novidade no front, Lewis Milestone, 1930, cartela com título do filme apresentado por Carl Laemmle.
O estúdio foi o primeiro a investir de forma mais contundente na produção de filmes de horror. Ainda na década de 1920 foi produzida a primeira versão cinematográfica de O corcunda de Notre Dame (The hunchback of Notre Dame, 1923), dirigido por Wallace Worsley, e de O fantasma da ópera (The phantom of the opera, 1925), realizado por Rupert Julian, Lon Chaney, Ernst Laemmle e Edward Sedgwick. Mas foi em 1931 que o diretor Tod Browning realizou o que viria a ser um dos grandes clássicos do horror: Drácula, a primeira adaptação autorizada do livro de Bram Stoker — já que o fabuloso Nosferatu (Nosferatu, eine symphonie des grauens, 1922), realizado por F. W. Murnau e baseado na mesma obra, teve que modificar o título original e os nomes dos personagens, tendo sido inclusive processado por violação de direitos autorais. Mas o que nos interessa, pelo menos aqui, é o clássico hollywoodiano. Existe uma versão na íntegra deste filme legendado em português, para ser vista no youtube, no entanto o "dono" do upload não permite incorporação em outros sites, em breve isso mudará, abaixo o trailer.
Drácula, Tod Browning, 1931, trailer de cinema.
Na sequência, mais um grande clássico. Um filme que influenciou uma série de outras produções, não só nos Estados Unidos: Scarface, a vergonha de uma nação (Scarface, 1932), dirigido por Howard Haws (mestre do cinema estadunidense) – interessante apontar que o filme foi produzido por Howard Hughes através da United Artists, no entanto atualmente consta como sendo um filme da Universal Pictures. Abaixo, imagens do clássico de Hawks e de sua refilmagem, Scarface, de 1983, este realizado realmente pelos estúdios Universal e tendo à frente o diretor Brian de Palma, que de forma magistral atualizou a temática do primeiro filme.
Scarface, a vergonha de uma nação, Howard Hawks, 1932, trailer oficial de cinema.
Scarface, Brian de Palma, 1983, trailer oficial legendado em português.
Da década seguinte, destaco um belo filme, A cidade nua (The naked city, 1948), de Jules Dassin. Este filme está perfilado no estilo ou gênero, chamado de film noir, termo criado no final da década de 1940, pela crítica francesa, para designar uma série de filmes estadunidenses sombrios, misteriosos, em que geralmente existe um crime a ser desvendado. Ao lado deste filme coloco um clássico do mestre do suspense Alfred Hitchcock, produzido pela Universal Pictures. Por esta empresa, Hitchcock realizou Sabotador (Saboteur, 1942) e À sombra de uma dúvida (Shadows of doubt, 1943), tendo ainda realizado todos os filmes da sua fase final após Os pássaros (The birds, 1963) até Trama macabra (Family plot, 1976) — atualmente a corporação ainda detém os direitos de outros seis filmes do mestre, o que soma 14 filmes ao todo.
A cidade nua, Jules Dassin, 1948, trecho inicial legendado em inglês.
Os pássaros, Alfred Hitchcock, 1963, trailer genial, estrelado pelo próprio Hitchcock, legendado em português.
Uma nova fase dos sucessos de bilheteria seria iniciada com Tubarão (Jaws, 1976), um clássico de Steven Spielberg. Filme de produção complicada, mas que juntamente com Guerra nas estrelas (Star wars, 1977), de George Lucas, tornou-se um dos primeiros blockbusters da fase contemporânea do cinema estadunidense. Spielberg foi responsável por diversos grande sucessos das três últimas décadas da Universal, entre eles destaco E.T. - o extra-terrestre (E. T. the extra-terrestrial, 1982); Jurassic Park (Jurassic Park, o parque dos dinossauros, 1993); A lista de Schindler (Schindler's list, 1993), etc.
Tubarão, Steven Spielberg, 1976, trailer assustador.
Existe ainda um outro gênero, do qual eu particularmente gosto muito. São as comédias anárquicas (algumas delas com temática high school), realizadas com maestria, em fins da década de 1970 e por toda a década de 1980, por grandes diretores dessa cinematografia. São eles John Hughes e John Landis. Os filmes mais emblemáticos desse período são Gatinhas e gatões (Sixteen candles, 1984); Clube dos cinco (The breakfast club, 1985); e Mulher nota 1.000 (Weird science, 1986), todos realizados por John Hughes. John Landis, por sua vez, realizou nesse período para a Universal: Clube dos Cafajestes (Animal house, 1978) e Os irmãos cara de pau (The blues brothers, 1980), ambos com um teor de anarquia acima da média, e com o ator John Belushi orquestrando a confusão. À parte destas duas cinematografias cito apenas mais um filme para fechar esse nosso rápido e incisivo passeio entre essa longa história: Picardias estudantis (Fast times at ridgemont high, 1982), da diretora Amy Heckerling, que conta no elenco com atuações incríveis de Sean Penn e Jennifer Jason Leigh.
Clube dos cinco, John Hughes, 1985, trailer oficial.
Picardias estudantis, Amy Heckerling, 1982
Enfim, chegamos a algum lugar, a esse presente tão fugaz. Existe uma produção constante de filmes, em todo o mundo. A NBCUniversal (e sua Universal Studios) ainda produzirá muitos filmes geniais, outros nem tanto e outros execráveis — assim como fez durante toda sua história, e assim como o cinema estadunidense sempre fez. Hoje sinalizo, para aqueles que se interessam por cinema, para conhecerem um produtor e diretor cuja cinematografia acho muito interessante, trata-se de Judd Apatow, que recentemente realizou diversos trabalhos pela Universal. Como diretor: O virgem de 40 anos (The 40 year old virgin, 2005) e Ligeiramente grávidos (Knocked up, 2007) e, como produtor, os também hilários Superbad – é hoje (Superbad, 2007), Greg Mottola; Segurando as pontas (Pineapple express, 2008), de David Gordon Green; Ressaca de amor (Forgetting Sarah Marshall, 2008), de Nicholas Stoller; e o mais recente, Missão madrinha de casamento (Bridesmaids, 2011), de Paul Feig. Este diretor deixo para que vocês o busquem, vale a pena. Já eu vou indo, que é chegada minha hora de partir.
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bom estúdio
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