quinta-feira, 7 de junho de 2012

Paulo Leminski por si, por Haroldo de Campos e por Werner Schumann

Há vinte três anos, em 1989, o poeta, compositor, crítico literário, tradutor, professor, e também judoca, Paulo Leminski, com apenas 44 anos, saía fora desse mundo, com passagem comprada para o infinito. Nasceu curitibano e lá mesmo de Curitiba partiu.

Conheço sua literatura desde tempos, e sempre me trouxe um enorme prazer poder compartilhar, mesmo que etereamente, com esse grande poeta brasileiro, alguns de meus versos. Abaixo um pouco de sua poesia. Vivamos a poesia, vivamos Leminski!

Abaixo, texto de abertura do livro de poemas Caprichos e relaxos, de Paulo Leminski, escrito por Haroldo de Campos, 1983:


PAULO LEMINSKI

Foi em 1963, na "Semana Nacional de Poesia de Vanguarda", em Belo Horizonte, que o Paulo Leminski nos apareceu, 18 ou 19 anos, Rimbaud curitibano com físico de judoca, escandindo versos homéricos, como se fosse um discípulo zen de Bashô, o Senhor Bananeira, recém-egresso do Templo Neopitagórico do simbolista filelênico Dario Veloso.

Noigandres, com faro poundiano, o acolheu na plataforma de lançamento de Invenção, lampiro-mais-que-vampiro de Curitiba, faiscante de poesia e de vida. Aí começou tudo. Caipira cabotino (como diz afetuosamente o Julinho Bressane) ou polilingüe paroquiano cósmico, como eu preferiria sintetizar numa fórmula ideogrâmica de contrastes, esse caboclo polaco-paranaense soube, muito precocemente, deglutir o pau-brasil oswaldiano e educar-se na pedra filosofal da poesia concreta (até hoje no caminho da literatura brasileira), pedra de fundação e de toque, magneto de poetas-poetas.

Das primeiras invencionices ao Catatau, da poesia destabocada e lírica (mas sempre construída, sabida, de fabbro, de fazedor) ao verso verde-verdura da canção trovadoresco-popular, o Leminski vem chovendo no endomingado piquenique sobre a erva em que se converteu a neoacadêmica poesia brasileira de hoje, dividida entre institucionalizadas marginalidades plácidas e escoteiros orfeônicos, de medalhinha e braçadeira. E é bom que chova mesmo, com pedra e pau-a-pique. Evoé Leminski!
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Poema do livro Distraídos venceremos, de Paulo Leminski, 1987:

A lua no cinema

A lua foi ao cinema,
passava um filme engraçado,
a história de uma estrela
que não tinha namorado.

Não tinha porque era apenas
uma estrela bem pequena,
dessas que, quando apagam,
ninguém vai dizer, que pena!

Era uma estrela sozinha,
ninguém olhava pra ela,
e toda a luz que ela tinha
cabia numa janela.

A lua ficou tão triste
com aquela história de amor,
que até hoje a lua insiste:
- Amanheça, por favor!
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Dois poemas do livro La vie en close, de Paulo Leminski, 1991.

Lápide 1
epitáfio para o corpo

Aqui jaz um grande poeta.
Nada deixou escrito.
Este silêncio, acredito,
são suas obras completas.



Lápide 2
epitáfio para a alma

aqui jaz um artista
mestre em desastres

viver
com a intensidade da arte
levou-o ao infarte

deus tenha pena
dos seus disfarces
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Com requintes de poesia e hilaridade, em 1985, o diretor Werner Schumann, realizou um documentário sobre a obra de Paulo Leminski, entitulado Ervilha da Fantasia. Abaixo esta preciosidade completa, para que todos possam conferir:

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