No entanto, o auto-questionamento (ou as nossas batalhas interiores), numa atitude impulsionada pelo ato de refletir sobre alguma coisa, deveras se torna a grande possibilidade que temos de nos fazermos potência, mesmo num complexo esforço de guerrilha individual, para deste modo combatermos as grandes potências que passam por nós e se fazem presentes no nosso cotidiano contemporâneo. São, talvez, por isso tão importantes certas conversações.
Neste ano completa-se vinte anos do lançamento da tradução brasileira do livro Conversações, de Gilles Deleuze, traduzido por Peter Pál Pelbart. No livro uma série de entrevistas e cartas, em que podemos nos aproximar de forma mais direta e clara de alguns dos grandes conceitos do filósofo francês. Dividido em cinco partes: “De O anti-Édipo a Mil platôs”; “Cinema”; “Michel Foucault”; “Filosofia”; e “Política”. Em cada um dos capítulos vão surgindo, e nos sendo entregues, vestígios desta grande obra filosófica do século XX.
Abaixo transcrevo o pequeno prefácio dessas Conversações.
“Por que reunir textos de entrevistas que se estendem por quase vinte anos? Certas conversações duram tanto tempo, que não sabemos mais se ainda fazem parte da guerra ou já da paz. É verdade que a filosofia é inseparável de uma cólera contra a época, mas também de uma serenidade que ela nos assegura. Contudo, a filosofia não é uma Potência. As religiões, os Estados, o capitalismo, a ciência, o direito, a opinião, a televisão são potências, mas não a filosofia. A filosofia pode ter grande batalhas interiores (idealismo — realismo etc.), mas são batalhas risíveis. Não sendo uma potência, a filosofia não pode empreender uma batalha contra as potências; em compensação, trava contra elas uma guerra sem batalha, uma guerra de guerrilha. Não pode falar com elas, nada tem a lhes dizer, nada a comunicar, e apenas mantém conversações. Como as potências não se contentam em ser exteriores, mas também passam por cada um de nós, é cada um de nós que, graças à filosofia, encontra-se incessantemente em conversações e em guerrilha consigo mesmo.”
Nos vídeos a seguir, Deleuze, que odiava a ideia de aparecer na TV, fala sobre alguns temas específicos. Seguindo em ordem alfabética, de A a Z, vários conceitos vão sendo propostos. A entrevista concedida a Claire Parnet, entre 1988 e 1989, resulta no programa “O abecedário Gilles Deleuze”, realizado por Pierre-André Boutang e exibido com autorização do filósofo, entre 1994 e 1995, na TV Arte, da França. O filósofo, em atitude reflexiva, descortina os temas a partir do seu pensamento filosófico. “Então começamos com A. A é Animal. (...)”.
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