Hoje compartilhamos um texto, assinado por Archima, sobre o grande guitarrista Sérgio Hinds, famoso principalmente por integrar o Terço, importante banda do rock progressivo.
O texto foi publicado na seção "Perfil" da revista Guitar Player brasileira (número 06, junho de 1996). Para conferir as páginas ampliadas, basta clicar nas imagens. Boa leitura!
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Sérgio Hinds
A reza progressiva do Terço
Em 1968, quando Sérgio Hinds se juntou a Vinícius Cantuária e Jorge Amiden para a primeira formação do Terço, não poderia imaginar que um dia faria sucesso como guitarrista. Na época, ele era um dos baixistas mais requisitados do Rio de Janeiro, tendo gravado com Ivan Lins, Jorge Ben (ainda sem o "Jor"), Claudete Soares e até Juca Chaves.
Mas seu destino como guitarrista já estava traçado. Com as saídas de Jorge e Vinícius, Sérgio teve de trocar as quatro cordas e assumir a frente da banda empunhando uma SG 62, daquelas com dois single-coil juntos e parafusos como irmãs dos pick-ups, e a tradicional cor "Ferrari Red", uma verdadeira raridade para colecionadores e apaixonados por instrumentos vintage. Com a maioria dos músicos com grande personalidade em seu timbre e estilo de interpretação, Hinds é autodidata, tendo apenas frequentado cursos de teoria. "Acho a música muito parecida com a pintura. Os grandes pintores têm sua própria maneira de escolher as cores e você acaba reconhecendo cada um pelo estilo de sua pinceladas", diz Hinds, quando dá sua opinião sobre estudar guitarra ou não, comparando o timbre e as cores, e as pinceladas ao estilo que caracteriza cada guitarrista.
Com Magrão no baixo e Cezar de Mercês, voz, violão e muita influência nas composições, a partir de 71, o Terço viria a se firmar definitivamente como um grupo de rock progressivo, experimentando o sucesso de dois discos antológicos para o rock brasileiro. Criaturas da Noite e Casa Encantada ultrapassaram as fronteiras verde e amarela, com reedições até na Itália, um dos berços do rock progressivo mundial. Nesta fase, ele já usava uma SG 71 Heritage Cherry, modelo consagrado por Frank Zappa.
Amante de carros e motos antigas, tem em sua garagem uma joia rara, uma Harley Davidson 1940 totalmente recondicionada. Apesar desta queda por antiguidades, Hinds não abre mão da tecnologia quando fala em equipamentos e instrumentos. Seu atual set-up é composto por um JMP1 da Marshall, um Harmonizer Ibanez (salvo de um incêndio, mas em plena forma), GP8 da Roland controlado pelo seu footswitch e um EV5, um Volume da Boss e, para os amps, ele optou por um JCM 900 da Marshall, com 2 caixas 4x12.
Durante muito tempo, suas mãos detonaram uma "Fire Bird", modelo de design arrojado, idealizado por ele mesmo — talvez inspirado em algum Dragster —, e desenvolvido por um dos mais famosos luthiers do Brasil, Tagima. Ele deixou nas mãos de Hinds um novo protótipo ainda sem batismo, de cor branca, e que parece ter sido aprovado, pois levou-o em sua turnê, que começou no dia 11 de julho, no Rio Jazz, para o lançamento de seu novo CD.
Esse trabalho é uma homenagem aos compositores brasileiros, "de Pixinguinha a Arnaldo Antunes", conforme definição dele para o seu décimo disco, quatro dos quais lançados na Europa, EUA e Japão.
Gravado no New Studio, onde ele divide as despesas com seu cúmplice Luiz de Boni, tecladista que há cinco anos toca no Terço. Esta nova parceria, aliás, já rendeu três CDs: Time Travellers, Live At Palace e o novo Compositores (Velas). Grandes nomes participam com canções inéditas, como Flávio Venturini, que já participou da banda, Arnaldo Antunes, Ivan Lins, Daniel Gonzaga e Lula Barbosa. Ainda há uma versão de "Sangue Latino" (Secos & Molhados), o que mostra uma retomada da mistura eclética — MPB e rock progressivo — feita pelo grupo nos anos 70. O disco ainda conta com participações de Gel Fernandez, Franklin Paolillo e Neto Botelho na bateria e Fernando Fernandes no baixo e vocal.
O Brasil viveu um grande momento do rock progressivo na década de 70, com excursões pela Europa de algumas bandas como o próprio Mutantes, de Sérgio Dias, e bandas como Som Nosso de Cada Dia, Moto Perpétuo, de Guilherme Arantes, e Terreno Baldio, de Mozart Mello, que há alguns anos lançou um disco, Recordando o Vale das Maçãs, e muitos outros que até hoje têm trabalhos relançados em países como França e Japão. Mas o Terço parece ser realmente um viajante do tempo, pois nos dias atuais ainda mantém vivos os ideais progressivos que embalaram uma geração inteira de guitarristas.
(Archima)
Muito massa! Junto com Som nosso, bacamarte, a bolha... é pérola da nossa música.
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