sexta-feira, 29 de junho de 2012
Show de Juliana Roza neste sábado, em Juazeiro
"O show "Bem-Vinda", de Juliana Roza, traz em sua essência canções autorais que passeiam pela riqueza rítmica brasileira, como as levadas de ijexá e baião, tendo no samba e suas vertentes o ponto forte do espetáculo. O roteiro musical está revestido pelos arranjos de Jefferson Portela (direção musical e percussão), Thiago Carvalho (piano) e Jerônimo Neto (baixo acústico)." (texto da divulgação do evento)
Show de Juliana Roza (Fortaleza-CE)
Sábado, dia 30 de junho de 2012, 19h30
No Centro Cultural Banco do Nordeste Cariri (Juazeiro do Norte-CE)
Entrada gratuita.
.
Apresentação de espetáculo baseado em texto de Nelson Rodrigues
(clique na imagem para ampliar o cartaz)
Espetáculo Geni - Rendez-vous à sensualité
Recortes do texto Toda Nudez Será Castigada, de Nelson Rodrigues
Exercício de conclusão do curso de formação teatral da Casa Ninho
Dias 29 e 30 de junho e 01 de julho, às 19h
Casa Ninho - Rua Ratisbona, 266 (Crato-CE)
Entrada franca - distribuição de ingressos meia hora antes (no local)
Classificação indicativa: 14 anos.
Exibição do filme 'O Bebê de Rosemary' no Cine Café
Cine Café (com mediação de Elvis Pinheiro)
Exibição do filme O Bebê de Rosemary
Título original: Rosemary's Baby
Direção: Roman Polanski
Roteiro: Roman Polanski, baseado no romance de Ira Levin
Elenco: Maurice Evans, Ralph Bellamy, Mia Farrow, John Cassavetes, Ruth Gordon
Duração: 136 minutos
Ano: 1968
Países de origem: Estados Unidos
"Rosemary e seu marido vão morar num novo apartamento em Nova York e se tornam vizinhos de um casal bastante amigável e prestativo. Essas novas pessoas ficam tão próximas que começam a incomodar a jovem esposa, grávida de seu primeiro filho. A relação de seu marido, um ator fracassado, com essas pessoas fica cada vez mais sinistra e Rosemary teme por seu filho e pelo que ele possa representar de terrível para o mundo. Clássico do suspense de terror." (sinopse da divulgação do evento)
Exibição no sábado, 30 de junho de 2012, às 17h30
No Centro Cultural Banco do Nordeste Cariri (Juazeiro do Norte). Entrada franca.
quinta-feira, 28 de junho de 2012
Raul Seixas em vídeo: raridades
Se não tivesse sua trajetória interrompida em agosto de 1989, Raul Santos Seixas estaria completando hoje, dia 28 de junho de 2012, 67 anos de idade.
Para registrar a data, resolvemos selecionar alguns vídeos (entre os mais raros) que estão no Youtube e passam um pouco da imagem do 'Maluco Beleza'. Além da obra do artista, muito ficou conhecida a imagem da "personalidade Raul Seixas", marcante na mídia e na música brasileira nos anos 70 e 80.
Raul Seixas manda palpite da loteria esportiva em mensagem gravada para Silvio Santos:
Entrevista concedida a Maurício Kubrusly, em 1987:
Entrevista concedida a Nelson Motta, em 1976:
Raul Seixas tem carro "atropelado por onda" em ressaca no Rio de Janeiro e diz que "a natureza está certa":
Gravação caseira com Raul Seixas e Zé Ramalho em 1984:
Raul Seixas cantando "Maluco Beleza" (ao vivo), em meados de 1977:
Para registrar a data, resolvemos selecionar alguns vídeos (entre os mais raros) que estão no Youtube e passam um pouco da imagem do 'Maluco Beleza'. Além da obra do artista, muito ficou conhecida a imagem da "personalidade Raul Seixas", marcante na mídia e na música brasileira nos anos 70 e 80.
Raul Seixas manda palpite da loteria esportiva em mensagem gravada para Silvio Santos:
Entrevista concedida a Maurício Kubrusly, em 1987:
Entrevista concedida a Nelson Motta, em 1976:
Raul Seixas tem carro "atropelado por onda" em ressaca no Rio de Janeiro e diz que "a natureza está certa":
Gravação caseira com Raul Seixas e Zé Ramalho em 1984:
Raul Seixas cantando "Maluco Beleza" (ao vivo), em meados de 1977:
quarta-feira, 27 de junho de 2012
Armazém do Som e Performance Poética nesta semana em Juazeiro
Cia. de Dança e Zabumbeiros Cariris apresentam o espetáculo 'Vórtices'
terça-feira, 26 de junho de 2012
70 anos de Gilberto Gil
Grifo nosso # 35
"Quando lançou Expresso 2222, Gilberto Gil voltava de um exílio de dois anos em Londres e recomeçava a carreira a todo vapor, unindo as duas pontas básicas do ideário tropicalista. Por um lado, o regionalismo da tosca e revolucionária Banda de Pífanos de Caruaru ('Pipoca Moderna'). De outro, uma canção do exílio universalista, 'Back in Bahia', que plantava Celly Campello e um velho baú de prata. Havia espaço para o Nordeste agreste do João do Vale, turbinado por guitarras em 'O Canto da Ema', e a parábola da contaminação cultural, do repertório de Jackson do Pandeiro, 'Chiclete com Banana'. O forrócore e o manguebeat já pulsavam nos hormônios freventes de 'Sai do Sereno'. O disco também trazia um ideário ideológico da geração do desbunde, com palavras de ordem como 'O Sonho Acabou'. A teia sólida de Expresso 2222 sobreviveu ao vírus do tempo."
____
Tárik de Souza, no encarte Discoteca Básica: 100 CDs que você precisa ter em sua coleção, parte integrante da revista ShowBizz (edição 159).
No nosso registro pelos 70 anos de Gilberto Gil (um dos mais importantes compositores da música popular brasileira), completados hoje, dia 26 de junho de 2012.
"Back in Bahia" (do Expresso 2222) ao vivo, em 1972:
"Aqui e agora", do álbum Refavela, de 1977:
"Quando lançou Expresso 2222, Gilberto Gil voltava de um exílio de dois anos em Londres e recomeçava a carreira a todo vapor, unindo as duas pontas básicas do ideário tropicalista. Por um lado, o regionalismo da tosca e revolucionária Banda de Pífanos de Caruaru ('Pipoca Moderna'). De outro, uma canção do exílio universalista, 'Back in Bahia', que plantava Celly Campello e um velho baú de prata. Havia espaço para o Nordeste agreste do João do Vale, turbinado por guitarras em 'O Canto da Ema', e a parábola da contaminação cultural, do repertório de Jackson do Pandeiro, 'Chiclete com Banana'. O forrócore e o manguebeat já pulsavam nos hormônios freventes de 'Sai do Sereno'. O disco também trazia um ideário ideológico da geração do desbunde, com palavras de ordem como 'O Sonho Acabou'. A teia sólida de Expresso 2222 sobreviveu ao vírus do tempo."
____
Tárik de Souza, no encarte Discoteca Básica: 100 CDs que você precisa ter em sua coleção, parte integrante da revista ShowBizz (edição 159).
No nosso registro pelos 70 anos de Gilberto Gil (um dos mais importantes compositores da música popular brasileira), completados hoje, dia 26 de junho de 2012.
"Back in Bahia" (do Expresso 2222) ao vivo, em 1972:
"Aqui e agora", do álbum Refavela, de 1977:
Lançamento de livro e abertura da exposição 'O Fio da Xilo'
Cinematógrapho exibe o documentário 'Rocha Que Voa'
Cinematógrapho (com mediação de Elvis Pinheiro)
Exibição de Rocha que voa
Título original: Rocha que voa
Direção: Eryk Rocha
Roteiro: Eryk Rocha e Bruno Vasconcelos
Elenco: Glauber Rocha, Alfredo Guevara, Tomáz Gutierrez Alea, Santiago Alvarez
Duração: 94 minutos
Ano: 2002
País de origem: Brasil
"O documentário Rocha Que Voa é definido por seus idealizadores como um filme-ensaio sobre o papel dos intelectuais na América Latina. O ponto de partida é o exílio em Cuba, de 1971 a 1972, um dos períodos menos conhecidos da vida do cineasta Glauber Rocha, o fio condutor do filme. Esse momento coincide com um período de grande euforia e discussão em torno do papel das artes na revolução social e política dos países da América Latina e do Terceiro Mundo. A partir de diversos depoimentos de cineastas e do povo cubano procura-se fazer uma reconstituição do diálogo entre os dois principais movimentos cinematográficos latino-americanos do final dos anos 60: o Cinema Novo brasileiro e o Cine Revolucionário cubano." (sinopse da divulgação do evento)
Exibição na quarta-feira, dia 27 de junho de 2012, às 19h
No SESC Juazeiro do Norte-CE. Entrada franca.
segunda-feira, 25 de junho de 2012
'Perfil' de Sérgio Hinds na Revista Guitar Player de junho de 1996
Do papel # 08
Hoje compartilhamos um texto, assinado por Archima, sobre o grande guitarrista Sérgio Hinds, famoso principalmente por integrar o Terço, importante banda do rock progressivo.
O texto foi publicado na seção "Perfil" da revista Guitar Player brasileira (número 06, junho de 1996). Para conferir as páginas ampliadas, basta clicar nas imagens. Boa leitura!
____
Sérgio Hinds
A reza progressiva do Terço
Em 1968, quando Sérgio Hinds se juntou a Vinícius Cantuária e Jorge Amiden para a primeira formação do Terço, não poderia imaginar que um dia faria sucesso como guitarrista. Na época, ele era um dos baixistas mais requisitados do Rio de Janeiro, tendo gravado com Ivan Lins, Jorge Ben (ainda sem o "Jor"), Claudete Soares e até Juca Chaves.
Mas seu destino como guitarrista já estava traçado. Com as saídas de Jorge e Vinícius, Sérgio teve de trocar as quatro cordas e assumir a frente da banda empunhando uma SG 62, daquelas com dois single-coil juntos e parafusos como irmãs dos pick-ups, e a tradicional cor "Ferrari Red", uma verdadeira raridade para colecionadores e apaixonados por instrumentos vintage. Com a maioria dos músicos com grande personalidade em seu timbre e estilo de interpretação, Hinds é autodidata, tendo apenas frequentado cursos de teoria. "Acho a música muito parecida com a pintura. Os grandes pintores têm sua própria maneira de escolher as cores e você acaba reconhecendo cada um pelo estilo de sua pinceladas", diz Hinds, quando dá sua opinião sobre estudar guitarra ou não, comparando o timbre e as cores, e as pinceladas ao estilo que caracteriza cada guitarrista.
Com Magrão no baixo e Cezar de Mercês, voz, violão e muita influência nas composições, a partir de 71, o Terço viria a se firmar definitivamente como um grupo de rock progressivo, experimentando o sucesso de dois discos antológicos para o rock brasileiro. Criaturas da Noite e Casa Encantada ultrapassaram as fronteiras verde e amarela, com reedições até na Itália, um dos berços do rock progressivo mundial. Nesta fase, ele já usava uma SG 71 Heritage Cherry, modelo consagrado por Frank Zappa.
Amante de carros e motos antigas, tem em sua garagem uma joia rara, uma Harley Davidson 1940 totalmente recondicionada. Apesar desta queda por antiguidades, Hinds não abre mão da tecnologia quando fala em equipamentos e instrumentos. Seu atual set-up é composto por um JMP1 da Marshall, um Harmonizer Ibanez (salvo de um incêndio, mas em plena forma), GP8 da Roland controlado pelo seu footswitch e um EV5, um Volume da Boss e, para os amps, ele optou por um JCM 900 da Marshall, com 2 caixas 4x12.
Durante muito tempo, suas mãos detonaram uma "Fire Bird", modelo de design arrojado, idealizado por ele mesmo — talvez inspirado em algum Dragster —, e desenvolvido por um dos mais famosos luthiers do Brasil, Tagima. Ele deixou nas mãos de Hinds um novo protótipo ainda sem batismo, de cor branca, e que parece ter sido aprovado, pois levou-o em sua turnê, que começou no dia 11 de julho, no Rio Jazz, para o lançamento de seu novo CD.
Esse trabalho é uma homenagem aos compositores brasileiros, "de Pixinguinha a Arnaldo Antunes", conforme definição dele para o seu décimo disco, quatro dos quais lançados na Europa, EUA e Japão.
Gravado no New Studio, onde ele divide as despesas com seu cúmplice Luiz de Boni, tecladista que há cinco anos toca no Terço. Esta nova parceria, aliás, já rendeu três CDs: Time Travellers, Live At Palace e o novo Compositores (Velas). Grandes nomes participam com canções inéditas, como Flávio Venturini, que já participou da banda, Arnaldo Antunes, Ivan Lins, Daniel Gonzaga e Lula Barbosa. Ainda há uma versão de "Sangue Latino" (Secos & Molhados), o que mostra uma retomada da mistura eclética — MPB e rock progressivo — feita pelo grupo nos anos 70. O disco ainda conta com participações de Gel Fernandez, Franklin Paolillo e Neto Botelho na bateria e Fernando Fernandes no baixo e vocal.
O Brasil viveu um grande momento do rock progressivo na década de 70, com excursões pela Europa de algumas bandas como o próprio Mutantes, de Sérgio Dias, e bandas como Som Nosso de Cada Dia, Moto Perpétuo, de Guilherme Arantes, e Terreno Baldio, de Mozart Mello, que há alguns anos lançou um disco, Recordando o Vale das Maçãs, e muitos outros que até hoje têm trabalhos relançados em países como França e Japão. Mas o Terço parece ser realmente um viajante do tempo, pois nos dias atuais ainda mantém vivos os ideais progressivos que embalaram uma geração inteira de guitarristas.
Hoje compartilhamos um texto, assinado por Archima, sobre o grande guitarrista Sérgio Hinds, famoso principalmente por integrar o Terço, importante banda do rock progressivo.
O texto foi publicado na seção "Perfil" da revista Guitar Player brasileira (número 06, junho de 1996). Para conferir as páginas ampliadas, basta clicar nas imagens. Boa leitura!
____
Sérgio Hinds
A reza progressiva do Terço
Em 1968, quando Sérgio Hinds se juntou a Vinícius Cantuária e Jorge Amiden para a primeira formação do Terço, não poderia imaginar que um dia faria sucesso como guitarrista. Na época, ele era um dos baixistas mais requisitados do Rio de Janeiro, tendo gravado com Ivan Lins, Jorge Ben (ainda sem o "Jor"), Claudete Soares e até Juca Chaves.
Mas seu destino como guitarrista já estava traçado. Com as saídas de Jorge e Vinícius, Sérgio teve de trocar as quatro cordas e assumir a frente da banda empunhando uma SG 62, daquelas com dois single-coil juntos e parafusos como irmãs dos pick-ups, e a tradicional cor "Ferrari Red", uma verdadeira raridade para colecionadores e apaixonados por instrumentos vintage. Com a maioria dos músicos com grande personalidade em seu timbre e estilo de interpretação, Hinds é autodidata, tendo apenas frequentado cursos de teoria. "Acho a música muito parecida com a pintura. Os grandes pintores têm sua própria maneira de escolher as cores e você acaba reconhecendo cada um pelo estilo de sua pinceladas", diz Hinds, quando dá sua opinião sobre estudar guitarra ou não, comparando o timbre e as cores, e as pinceladas ao estilo que caracteriza cada guitarrista.
Com Magrão no baixo e Cezar de Mercês, voz, violão e muita influência nas composições, a partir de 71, o Terço viria a se firmar definitivamente como um grupo de rock progressivo, experimentando o sucesso de dois discos antológicos para o rock brasileiro. Criaturas da Noite e Casa Encantada ultrapassaram as fronteiras verde e amarela, com reedições até na Itália, um dos berços do rock progressivo mundial. Nesta fase, ele já usava uma SG 71 Heritage Cherry, modelo consagrado por Frank Zappa.
Amante de carros e motos antigas, tem em sua garagem uma joia rara, uma Harley Davidson 1940 totalmente recondicionada. Apesar desta queda por antiguidades, Hinds não abre mão da tecnologia quando fala em equipamentos e instrumentos. Seu atual set-up é composto por um JMP1 da Marshall, um Harmonizer Ibanez (salvo de um incêndio, mas em plena forma), GP8 da Roland controlado pelo seu footswitch e um EV5, um Volume da Boss e, para os amps, ele optou por um JCM 900 da Marshall, com 2 caixas 4x12.
Durante muito tempo, suas mãos detonaram uma "Fire Bird", modelo de design arrojado, idealizado por ele mesmo — talvez inspirado em algum Dragster —, e desenvolvido por um dos mais famosos luthiers do Brasil, Tagima. Ele deixou nas mãos de Hinds um novo protótipo ainda sem batismo, de cor branca, e que parece ter sido aprovado, pois levou-o em sua turnê, que começou no dia 11 de julho, no Rio Jazz, para o lançamento de seu novo CD.
Esse trabalho é uma homenagem aos compositores brasileiros, "de Pixinguinha a Arnaldo Antunes", conforme definição dele para o seu décimo disco, quatro dos quais lançados na Europa, EUA e Japão.
Gravado no New Studio, onde ele divide as despesas com seu cúmplice Luiz de Boni, tecladista que há cinco anos toca no Terço. Esta nova parceria, aliás, já rendeu três CDs: Time Travellers, Live At Palace e o novo Compositores (Velas). Grandes nomes participam com canções inéditas, como Flávio Venturini, que já participou da banda, Arnaldo Antunes, Ivan Lins, Daniel Gonzaga e Lula Barbosa. Ainda há uma versão de "Sangue Latino" (Secos & Molhados), o que mostra uma retomada da mistura eclética — MPB e rock progressivo — feita pelo grupo nos anos 70. O disco ainda conta com participações de Gel Fernandez, Franklin Paolillo e Neto Botelho na bateria e Fernando Fernandes no baixo e vocal.
O Brasil viveu um grande momento do rock progressivo na década de 70, com excursões pela Europa de algumas bandas como o próprio Mutantes, de Sérgio Dias, e bandas como Som Nosso de Cada Dia, Moto Perpétuo, de Guilherme Arantes, e Terreno Baldio, de Mozart Mello, que há alguns anos lançou um disco, Recordando o Vale das Maçãs, e muitos outros que até hoje têm trabalhos relançados em países como França e Japão. Mas o Terço parece ser realmente um viajante do tempo, pois nos dias atuais ainda mantém vivos os ideais progressivos que embalaram uma geração inteira de guitarristas.
(Archima)
domingo, 24 de junho de 2012
Exibição do filme 'Arquitetura da Destruição' no Cinemarana
sexta-feira, 22 de junho de 2012
76 anos do gênio do som, Hermeto Pascoal
Grifo nosso # 34
Dando uma volta na internet, lendo coisas sobre Hermeto Pascoal me deparei, semana passada, com esse texto que colocarei na íntegra abaixo. Trata-se de um texto pessoal do escritor, historiador, radialista, jornalista e musicólogo Ricardo Cravo Albin.
Albin é considerado um dos grandes pesquisadores da música popular brasileira. Sendo responsável em criar o dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira, que está disponível para todos na internet. O site abriga biografias, discografias e uma série de textos e curiosidades sobre instrumentistas, intérpretes e compositores nacionais.
Na minha busca, ao digitar o verbete Hermeto Pascoal, eis que encontro na seção de crítica este pequenino texto, escrito pelo próprio Ricardo Cravo Albin*. Uma pequena homenagem a este mestre da música, Hermeto Pascoal.
"Hermeto Pascoal é albino, baixinho, gordinho e quase cego. Em compensação é gênio. E gênio com G maiúsculo por duas razões. Primeiro porque ele – só ele – é capaz de inventar os sons mais originais do mundo para recriar a música. E depois porque ele administra esses sons com extrema sutileza, elegância e precisão.
Ou seja, Hermeto é o maestro de si mesmo, um homem-orquestra. O bruxo das Alagoas faz tudo. Ou seja, compõe músicas e toca todos os instrumentos. E quando eu me refiro a instrumentos, em se tratando de Hermeto, vamos logo dividi-los em duas partes. Os instrumentos tradicionais – como piano, cavaquinho, flauta, bombardino, violão, órgão e mais 15 outros, tais como sax soprano, sanfona etc. – e os instrumentos inventados pelo gênio do grande músico, que tira seus sons estranhos (e lindos, podem crer!) de garrafas plásticas, copos com água, máquina de costura. É muito? Não, porque tudo que Hermeto tem à sua frente pode virar som no minuto seguinte, como bomba de encher bola de gás e até mãos passando nas roupas do corpo.
Aliás, o cheiro do Brasil e o de suas grandes veias musicais está presente nos discos de Hermeto.
Tempos atrás, durante um especial gravado na Rádio MEC, Hermeto me comoveu quando falou das crianças. E por uma razão muito simples: ele se orgulha de preservar a simplicidade das crianças, segundo ele o caminho mais direto para o encontro da divindade ou de Deus.
E Hermeto – compreendi isso agora – conseguiu o impossível, que é ser um arauto da modernidade, da invenção, do passo à frente e ser de uma simplicidade cativante, de um despojamento de que só mesmo ou os gênios ou os santos são capazes.
Se você, ó leitor incrédulo, pensar que Hermeto é apenas um produto exótico e circense, pode ficar certo de que a consagração internacional do nosso homem-orquestra está a indicar exatamente o oposto.
Ele me falava outro dia que sua carreira internacional (começada a partir de 1970) só lhe trouxe alegrias, como as de ser gravado por Miles Davis, seu fã número um e que lhe abriu as portas do jazz mundial. 'Pois é, o Miles gostou tanto que queria gravar todo um elepê (LP) só comigo e com músicas minhas. Mas eu tive que voltar para fazer um sonzinho lá no Jabour (distante subúrbio carioca) e me mandei. Por isso não fiz.'
Esse tipo de procedimento, descontraído e franciscano, só pode ser mesmo o de um gênio. Ou você duvida?"
____
Abaixo um pouco do gênio do som, no Festival de Jazz de Montreux. Na sequência uma apresentação juntamente com outro mestre da música brasileira, Sivuca, em que tocam "Asa branca", de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira e "O ovo", composição de Hermeto. E para finalizar, uma pequena entrevista para a Editora Saraiva, em que o músico fala um pouco sobre seu método de criação musical e sobre o seu Calendário do som, produzido entre 23 de junho de 1996 e 22 de junho de 1997, um livro no qual registrou uma composição para cada dia.
"Quebrando tudo", improvisada ao vivo no Festival de Jazz de Montreux, na Suiça, em 1979.
"Asa branca" e "O ovo", com Hermeto Pascoal e o saudoso Sivuca.
Entrevista de Hermeto Pascoal para a Editora Saraiva, muito boa para percebermos um pouco de sua genialidade.
____
*Para quem se interessar em pesquisas sobre música brasileira fica a dica do dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira online, www.dicionariompb.com.br.
Dando uma volta na internet, lendo coisas sobre Hermeto Pascoal me deparei, semana passada, com esse texto que colocarei na íntegra abaixo. Trata-se de um texto pessoal do escritor, historiador, radialista, jornalista e musicólogo Ricardo Cravo Albin.
Albin é considerado um dos grandes pesquisadores da música popular brasileira. Sendo responsável em criar o dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira, que está disponível para todos na internet. O site abriga biografias, discografias e uma série de textos e curiosidades sobre instrumentistas, intérpretes e compositores nacionais.
Na minha busca, ao digitar o verbete Hermeto Pascoal, eis que encontro na seção de crítica este pequenino texto, escrito pelo próprio Ricardo Cravo Albin*. Uma pequena homenagem a este mestre da música, Hermeto Pascoal.
"Hermeto Pascoal é albino, baixinho, gordinho e quase cego. Em compensação é gênio. E gênio com G maiúsculo por duas razões. Primeiro porque ele – só ele – é capaz de inventar os sons mais originais do mundo para recriar a música. E depois porque ele administra esses sons com extrema sutileza, elegância e precisão.
Ou seja, Hermeto é o maestro de si mesmo, um homem-orquestra. O bruxo das Alagoas faz tudo. Ou seja, compõe músicas e toca todos os instrumentos. E quando eu me refiro a instrumentos, em se tratando de Hermeto, vamos logo dividi-los em duas partes. Os instrumentos tradicionais – como piano, cavaquinho, flauta, bombardino, violão, órgão e mais 15 outros, tais como sax soprano, sanfona etc. – e os instrumentos inventados pelo gênio do grande músico, que tira seus sons estranhos (e lindos, podem crer!) de garrafas plásticas, copos com água, máquina de costura. É muito? Não, porque tudo que Hermeto tem à sua frente pode virar som no minuto seguinte, como bomba de encher bola de gás e até mãos passando nas roupas do corpo.
Aliás, o cheiro do Brasil e o de suas grandes veias musicais está presente nos discos de Hermeto.
Tempos atrás, durante um especial gravado na Rádio MEC, Hermeto me comoveu quando falou das crianças. E por uma razão muito simples: ele se orgulha de preservar a simplicidade das crianças, segundo ele o caminho mais direto para o encontro da divindade ou de Deus.
E Hermeto – compreendi isso agora – conseguiu o impossível, que é ser um arauto da modernidade, da invenção, do passo à frente e ser de uma simplicidade cativante, de um despojamento de que só mesmo ou os gênios ou os santos são capazes.
Se você, ó leitor incrédulo, pensar que Hermeto é apenas um produto exótico e circense, pode ficar certo de que a consagração internacional do nosso homem-orquestra está a indicar exatamente o oposto.
Ele me falava outro dia que sua carreira internacional (começada a partir de 1970) só lhe trouxe alegrias, como as de ser gravado por Miles Davis, seu fã número um e que lhe abriu as portas do jazz mundial. 'Pois é, o Miles gostou tanto que queria gravar todo um elepê (LP) só comigo e com músicas minhas. Mas eu tive que voltar para fazer um sonzinho lá no Jabour (distante subúrbio carioca) e me mandei. Por isso não fiz.'
Esse tipo de procedimento, descontraído e franciscano, só pode ser mesmo o de um gênio. Ou você duvida?"
____
Abaixo um pouco do gênio do som, no Festival de Jazz de Montreux. Na sequência uma apresentação juntamente com outro mestre da música brasileira, Sivuca, em que tocam "Asa branca", de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira e "O ovo", composição de Hermeto. E para finalizar, uma pequena entrevista para a Editora Saraiva, em que o músico fala um pouco sobre seu método de criação musical e sobre o seu Calendário do som, produzido entre 23 de junho de 1996 e 22 de junho de 1997, um livro no qual registrou uma composição para cada dia.
"Quebrando tudo", improvisada ao vivo no Festival de Jazz de Montreux, na Suiça, em 1979.
"Asa branca" e "O ovo", com Hermeto Pascoal e o saudoso Sivuca.
Entrevista de Hermeto Pascoal para a Editora Saraiva, muito boa para percebermos um pouco de sua genialidade.
____
*Para quem se interessar em pesquisas sobre música brasileira fica a dica do dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira online, www.dicionariompb.com.br.
A poesia visual de Daniel Batata
por Ythallo Rodrigues
Daniel Batata é poeta, músico, produtor musical, produtor artístico, vídeo-poeta enfim, um artista de diversas mídias. Por alguns desses atributos, viajou por aí pelo Brasil afora, descobrindo e conhecendo novas paragens. Trouxe consigo muitas imagens na memória, provocações para sua produção artística no Cariri.
Batata, como é mais conhecido na cena artística caririense, atualmente tem se dedicado ao novíssimo Projeto u ter são. Nessa nova empreitada, o poeta desenvolve poemas visuais a partir de fotografias cotidianas ou de performances, que estão espalhadas pelo mundo virtual. Nos seus três primeiros trabalhos o artista criou três poemas sobre fotografias de três mulheres, numa busca de simbiose entre palavra e imagem, fundindo conceitos pictóricos e linguísticos num só espaço de apreciação. É como uma tela, em que o artista molda seus traços, entre intuição e razão, na feitura da sua arte.
Hoje Daniel Batata lança aqui em O Berro o seu quarto e inédito poema visual, intitulado Nefertiti. Mais um de seus loucos devaneios entre imagem, palavra, poesia, beleza, cores e formas na busca por um sempre desejado "sentimento do mundo".
Nefertiti, poema visual de Daniel Batata. Modelo: Rosa Janine | Fotografia: Ythallo Rodrigues
Abaixo os três primeiros poemas visuais da série u ter são.
A mulher, poema visual de Daniel Batata. Modelo: Constance Pinheiro | Fotografia: Leda Pinheiro.
Ideia, poema visual de Daniel Batata. Modelo e fotografia: Yasmine Moraes
Olho, poema visual de Daniel Batata. Modelo e fotografia: Tainah Amaral.
____
Os poemas podem ser conferidos também no blog de Daniel Batata: www.oficinadepoemas.blogspot.com
Daniel Batata é poeta, músico, produtor musical, produtor artístico, vídeo-poeta enfim, um artista de diversas mídias. Por alguns desses atributos, viajou por aí pelo Brasil afora, descobrindo e conhecendo novas paragens. Trouxe consigo muitas imagens na memória, provocações para sua produção artística no Cariri.
Batata, como é mais conhecido na cena artística caririense, atualmente tem se dedicado ao novíssimo Projeto u ter são. Nessa nova empreitada, o poeta desenvolve poemas visuais a partir de fotografias cotidianas ou de performances, que estão espalhadas pelo mundo virtual. Nos seus três primeiros trabalhos o artista criou três poemas sobre fotografias de três mulheres, numa busca de simbiose entre palavra e imagem, fundindo conceitos pictóricos e linguísticos num só espaço de apreciação. É como uma tela, em que o artista molda seus traços, entre intuição e razão, na feitura da sua arte.
Hoje Daniel Batata lança aqui em O Berro o seu quarto e inédito poema visual, intitulado Nefertiti. Mais um de seus loucos devaneios entre imagem, palavra, poesia, beleza, cores e formas na busca por um sempre desejado "sentimento do mundo".
Nefertiti, poema visual de Daniel Batata. Modelo: Rosa Janine | Fotografia: Ythallo Rodrigues
Abaixo os três primeiros poemas visuais da série u ter são.
A mulher, poema visual de Daniel Batata. Modelo: Constance Pinheiro | Fotografia: Leda Pinheiro.
Ideia, poema visual de Daniel Batata. Modelo e fotografia: Yasmine Moraes
Olho, poema visual de Daniel Batata. Modelo e fotografia: Tainah Amaral.
____
Os poemas podem ser conferidos também no blog de Daniel Batata: www.oficinadepoemas.blogspot.com
quinta-feira, 21 de junho de 2012
"Craterdam", de Cleivan Paiva e Geraldo Urano, na voz de Luiz Carlos Salatiel
Embalado pra viagem # 65
Craterdam
(Geraldo Urano / Cleivan Paiva)
A força dos serafins
as graças de Kuan Yin
Crato cósmica
toda vez que me olhas assim
eu vou
não importa o que será de mim
Soy loco por ti
Baby, I love you
Baby, I love you
Baby, louvo ti
Quem te vê
nem vê a poesia por trás do aparente
só se for penetrante
só se for de fé
só se gostar de ti
as graças de Kuan Yin
o poder dos querubins
____
Luiz Carlos Salatiel, no disco Contemporâneo (2004).
Em mais uma homenagem pelos 248 anos de emancipação política do município de Crato, completados hoje, dia 21 de junho de 2012.
.
Craterdam
(Geraldo Urano / Cleivan Paiva)
A força dos serafins
as graças de Kuan Yin
Crato cósmica
toda vez que me olhas assim
eu vou
não importa o que será de mim
Soy loco por ti
Baby, I love you
Baby, I love you
Baby, louvo ti
Quem te vê
nem vê a poesia por trás do aparente
só se for penetrante
só se for de fé
só se gostar de ti
as graças de Kuan Yin
o poder dos querubins
____
Luiz Carlos Salatiel, no disco Contemporâneo (2004).
Em mais uma homenagem pelos 248 anos de emancipação política do município de Crato, completados hoje, dia 21 de junho de 2012.
.
Entrevista com Abidoral Jamacaru (edição 30 d'O Berro, ano 2000)
Arquivo Cariri # 18 | O Berro nas antas # 14
(Show no Dragão do Mar, Fortaleza. Foto de arquivo cedida por Abidoral Jamacaru)
Hoje, dia 21 de junho de 2012, quando o município do Crato completa 248 anos de emancipação política, resolvemos buscar no nosso arquivo uma entrevista com um ilustre filho cratense, o cantor e compositor Abidoral Jamacaru.
A entrevista aconteceu no ano 2000 e foi publicada na edição 30 da versão impressa d'O Berro (de novembro daquele ano). Àquela época, Abidoral Jamacaru havia lançado apenas o LP Avallon, em 1986 (em 2000 ainda não havia a versão em CD, lançada alguns anos depois), e o CD O Peixe, em 1998. E só viria a gravar outro trabalho em 2008, o CD Bárbara.
O bate-papo com Abidoral foi descontraído e durou horas, rendendo um vasto e rico material. E de tão extensa que foi a conversa, tivemos que fazer uma seleção de apenas alguns momentos. Confira.
por Hudson Jorge, Luís André Bezerra e Ythallo Rodrigues
participação de Cícero Oliveira (in memoriam)
O BERRO: As músicas de seu primeiro LP, Avallon (1986), foram bem mais executadas e divulgadas do que as músicas do CD O Peixe (1998). Qual a comparação que você faz entre as duas épocas?
ABIDORAL JAMACARU: É que antigamente a região era muito carente de alguém que a representasse, então um artista sair do Cariri e gravar no Sul era um motivo de orgulho para a região. E gravei no Sul naquela época, o que era dificílimo. As pessoas também já tinham criado a expectativa de quando eu gravaria o primeiro disco, porque fiquei bastante conhecido no período dos Festivais, isso fez com que as rádios tivessem aquela receptividade. Outra coisa que facilitou é que nas rádios daqui não existia tão forte a disseminação do jabá. Aí quando cheguei com meu trabalho O Peixe, depois de 12 anos, já não foi mais a mesma coisa. Mas aos poucos eu fui brigando, fui insistindo. O disco terminou aparecendo depois, mas não foi como na outra vez. As rádios comunitárias tiveram um papel importante na divulgação de O Peixe porque, embora as ainda não tenham vindo como a gente esperava, ainda são uma alternativa. Por exemplo, foi em uma rádio comunitária que fiz uma das entrevistas mais bonitas, com o Ciço Gnomo na Rádio Santa Quitéria. Por esse período também Chico César passou por aqui [no Cariri], falou de mim, depois chegou Zeca Baleiro e falou alguma coisa, a Cássia Eller quando veio para o Chama falou de mim. Então, o disco devagarzinho foi aparecendo e hoje ainda está rodando.
Você chegou a participar daquele [evento] Chama?
Eu fui até usado pelo Chama. Garantiram-me uma participação e me escolheram pra ser o presidente do júri. Eu trabalhando para o Chama o tempo todinho e não cobrei nada por isso. Perdi um show que tinha marcado para a Paraíba e deixei de marcar um em Fortaleza, em função desse daqui. E quando foi no dia eles cortaram meu show. Eu tive prejuízo nessa história toda. Não é que eles não me pagaram, até porque não cheguei a tocar, o problema é que deixei de fazer dois shows, três com o que seria aqui.
Voltando à questão entre Avallon e O Peixe: no que se refere a espaços para shows aqui no Cariri, qual a diferença entre as duas épocas?
A questão é que aqui tem uma cultura de se fazer show em bar que termina não sendo um show, mas sim uma música de entretenimento, porque você vai tocar músicas de pessoas conhecidas. E existem até os chavões: é muito difícil em qualquer bar não estar tocando Djavan. Teve um tempo que era só João Bosco, outro que era só Caetano Veloso. Então eu não vou sentar lá e cantar esse pessoal porque tenho uma obra a mostrar, tenho propostas. Posso até tocar um cara desses, porque vale a pena quando [a canção] é bem feita, bonita, mas não vou fazer todo um show em cima deles.
E na época do Avallon você se apresentava muito aqui?
Sempre tive muita dificuldade de fazer apresentações aqui no Cariri. É uma luta de muito tempo. Teve um tempo até que fui perseguido, pela questão política, no tempo da repressão. Não explicitamente, porque não havia nenhuma prova contra mim. Mas nesse período, inclusive, cheguei a ser preso. Eu estava tocando numa barraca na Exposição onde ficava a oposição, que naquele tempo era o MDB, que deu origem ao PMDB.
Quando foi isso mais ou menos?
Década de 70, acho que 76. Era Médici [na realidade, Médici foi presidente até 1974, em 1976 a presidência estava com Geisel], que jogava duro mesmo. Aí nesse período estava tocando na barraca informalmente, dando força a um cara que estava fazendo um trabalho de pesquisa sobre o Caldeirão. Então a polícia foi lá, bateu e prendeu todo mundo. Tiveram que me soltar logo, não tinham nenhuma prova contra mim. Mas, resultado: quando saí da cadeia nesse período sofri uma marginalização muito grande aqui no Crato, até os pais de alguns amigos os proibiam de andar aqui em casa, com medo dessa história todinha. Surgiu um boato que me prejudicou muito tempo, de que eu era um cara perigoso, usava drogas e que pervertia os jovens (risos). Foi tudo bolado pra criar uma imagem negativa em cima da minha pessoa, porque, de qualquer maneira, eu aparecia muito e naquele tempo não queriam ninguém que aparecesse e pensasse alguma coisa.
Aqui na época tinha núcleo do MDB?
Tinha um pessoal de resistência aqui. O MDB na verdade não era um partido, e sim um saco de alternativas. O PCzão e o PC do B existiam na clandestinidade, não podiam legitimamente concorrer à eleição. E qualquer pessoa que se manifestasse contra aquele regime, ainda que não fosse filiado a um desses partidos, era taxado como uma pessoa subversiva, de princípios religiosos duvidosos, de uma moral comprometida, porque antes de tudo não era um nacionalista. Tinha até aquele slogan: “Brasil, ame-o ou deixe-o”.
E comiam criancinhas. (risos)
E mais coisas: que a bandeira vermelha era a bandeira da guerra... Era tanta besteira, bobagem. Mas todas aquelas pessoas que não podiam se candidatar com suas ideologias próprias, entravam no MDB. E digo que era um saco de gatos. É tanto que dizem que Dom Paulo Evaristo, depois que houve a Anistia, escreveu um livro em que citou que a esquerda do Brasil só se unia na cadeia (risos). Então é em cima dessa afirmação que ainda hoje ela briga entre si. Quando ela está se juntando aí surge um partido mais radical e já nega tudo aquilo que os outros estão dizendo e rompe, é uma cisão. Mas tudo bem, o importante é que existam pessoas lutando e todas elas têm a intenção de que o país melhore. A ditadura tinha uma eficiência nas ações dela. E uma das eficiências foi a de apagar a memória do brasileiro. Todos foram anestesiados com festa e não sei o que mais lá.
Pão e circo...
Pão e circo, que é uma tática antiga. O filme O Gladiador já mostra bem essa transação. Houve isso, e ainda hoje eles tentam com essas vaquejadas (risos gerais). A Brahma bombardeia e quando você sai de uma vaquejada já estão anunciando outra. Que coisa terrível, né? E os vaqueiros agora são tudo filhinho de papai (risos), atrás de um prêmio que é um carro ou as coisas mais absurdas do mundo.
As pessoas passam toda a semana de terno e gravata e quando chegam no fim de semana colocam a bota e o chapéu de vaqueiro.
O pior é que não é chapéu de vaqueiro, é aquele chapéu de massa, copiando o americano. É a moda country. A coisa mais aberrante do mundo, mas tudo bem, no meio disso tudo tem pessoas como vocês [d'O Berro], que estão aí querendo sabatinar, né? (risos). E sempre tem essa moçada que segura a onda, isso é legal. Isso é o que nos dá a esperança de continuar, de batalhar e de perseverar com esse trabalho, procurando fazer o melhor possível cada vez mais.
Voltando à questão do show. Não existem bons espaços aqui para mostrar seu show? Tem um espaço agora super interessante que é o Navegarte, do Salatiel, que sempre teve boas ideias e vem trabalhando há um bom tempo com a cultura. O que está faltando para a região [do Cariri] melhorar nessa questão? Pois temos excelentes músicos.
O que Salatiel fez pela cultura, pelo menos aqui no Crato, foi o que todos os Secretários de Cultura que já estiveram por aqui não fizeram. Porque ele sempre fez um trabalho incondicional, bem feito, bem pensado e com honestidade. E com o Navegarte ele está procurando ainda criar uma estrutura para agir nesse aspecto. Ele vem agindo de certo modo, mas não é ainda como ele pretende. Ele pretende fazer um polo cultural lá, para que seja um espaço alternativo para todas aquelas pessoas que honestamente pretendem fazer uma arte, respeitando a estética e o conceito de construtivo. Então, ele abre esse espaço nesse sentido e eu acho muito importante.
Seria possível uma organização dos artistas do Cariri? Reunindo tanto a nova geração como os artistas que já batalham por espaço há algum tempo?
É muito difícil, mas é possível e seria uma boa saída, desde que ela tenha consciência, maturidade, porque tudo hoje funciona em grupo. Tem que funcionar dessa forma, porque o sistema imantado aí é muito forte, com tudo voltado para a questão do consumo daquelas pessoas que estão no ápice da pirâmide. E quem está concentrando essa renda domina todos os espaços e ela veicula o que quer, e a única saída seria essa união. Agora, até acontecer isso tem muita briga, pois é muito comum o jovem ainda não ter maturidade suficiente para entender a seriedade dessa reunião ou às vezes tem uns que se destacam com certo trabalho e o ego o desequilibra um pouco. Mas, por outro lado, o jovem tem aquela coisa do ímpeto, de acreditar mais, de lutar mais, entrar na ativa. E sempre no meio da turma tem um pessoal legal. É essa utopia saudável. Porque utopia é o lugar aonde não se chega, mas é lá que você objetiva e passando pelo caminho faz um monte de coisas.
Vemos a atuação de grupos isolados aqui na região e, muitas vezes, ao invés deles estarem unidos, ficam atacando uns aos outros. Como é que você vê essa separação?
Crítica ninguém evita, principalmente quando se está começando um trabalho e ele ainda não está amadurecido. Você pode ser até uma pessoa inteligente e ter ótimas idéias, mas você é vulnerável, porque você tem muito o que aprender, e muitas vezes o artista novo não aceita críticas. Eu mesmo não aceitava, reagia imediatamente, porque meu ego estava lá em cima. Quando comecei diziam que eu era inteligente, que eu era um artista, então meu ego subiu e, se alguém me criticasse, eu ficava aborrecido. Então, uma vez que nós artistas já somos carentes pela própria situação, terminamos na luta pela sobrevivência, um pisando em cima do ombro do outro para poder respirar. Isso acontece muito. A questão é com o tempo amadurecer e deixar isso de lado, porque na verdade está todo mundo no mesmo barco.
OLIVEIRA: Você acha que o som que fez no disco O Peixe é o mesmo que você fazia ou sempre fez?
Minha liberdade de criar eu prefiro não defini-la. Porque você acaba sendo um acúmulo de conhecimentos que vai adquirindo. Aí vai acrescentando no meio dessas coisas o estilo que você sempre sabia. E se você ficar se policiando por um estilo perde tudo isso. O meu trabalho talvez não tenha ficado envelhecido porque tive a liberdade de trabalhar como se fosse um trabalho atemporal. Com os pés no chão, mas não deixo de olhar pro céu, o espaço é infinito por aí.
OLIVEIRA: Estou perguntando isso para justamente fazer outra pergunta. Por exemplo, atualmente o que predomina são as fusões, fusão como as pessoas entendem hoje. Um exemplo: fazer um samba misturado com música eletrônica, misturado com rock, etc. Porque isso está “na crista da onda” e se não fizer “fica ultrapassado”.
Não existe essa cobrança de fazer isso, existe a questão de você se sentir bem sozinho. Quando parte do princípio da cobrança você passa a ser coagido e não é saudável.
OLIVEIRA: Já existiam aqueles cantos árabes, aí alguém vai e coloca uma batida eletrônica e explode no mundo todo...
Fundir ritmo com ritmo existe de duas formas. Existem os oportunistas e outros que pensam o seguinte: “eu tenho esse conhecimento dentro de mim, eu senti isso, e por que não vou me dar isso?”. Botar isso pra fora!. “Vomitar” no bom sentido. Por que estar me policiando? Eu não sou um purista. Não sou de fazer aquela música brasileira pura, eu gosto da irreverência do rock, da profundidade do jazz, da música erudita pelo seu manancial que hoje serve para todo mundo, que é você mexer com escala acromática...
Fala um pouco sobre o grupo Nessa Hora, que você tinha na década de 1970. Como era o som dele...
Nos anos 70 existiam uns festivais de música que revelaram muita gente boa do Cariri. Meu irmão, o Pachelly [Jamacaru], tem idade de ser meu filho (risos), mas ele só vivia no meu pé, aquela coisa de louco pelo trabalho. Peguei ele e mais dois amigos seus, na faixa de 13 ou 14 anos, e eu já com quase trinta, falei: “vamos formar um grupo diferente”. Mas Pachelly disse: “a gente não sabe nem tocar!”. Eu disse: “aprende!”. Aí eu ficava aqui dentro de casa na semana, com esses três meninos. E passamos quase um ano ensaiando. Nesse tempo eu estava com tanta raiva dessa história de todo mundo definir que “música boa era essa, música boa era aquela”, que combinei com os meninos de a gente não ouvir mais rádio, não ouvir mais disco de ninguém. E a gente descobriu som em tudo... A gente batia na porta e dizia: “A porta tem som”. Então, vamos aproveitar o som desta porta! Saímos fazendo experiência com tudo. A gente chamava o grupo Nessa Hora porque foi o grupo “nessa hora” que decidiu. Como terminamos esse trabalho, pintou um Festival, então entrei com esse grupo cheio de meninos e fomos cantar uma música chamada “Margem Virgem”. Pachelly com o pífano, que tinha aprendido com os Aniceto, mas também cheio de informação de Jethro Tull, era uma misturada danada. Vinha Aldízio e Paulinho misturando as percussões dos “reisados” com Djalma Correia, Naná Vasconcelos, etc. Tínhamos a liberdade trabalhar com o que era bom. Então entramos no festival com essa música “Margem Virgem”. Quando a gente tocou, a quadra ficou parada, todo mundo sem entender nada (risos). Uma letra hermética, avançadíssima, meio filosófica, com um som experimental, mas ao mesmo tempo gostoso, ritmado, porque tinha alguma coisa da música russa, foi uma salada danada, que causava um impacto, uma surpresa. E o resultado? Batemos o recorde do festival: ganhamos a melhor música, o melhor arranjo, o melhor intérprete, melhor letra. Até a gente se surpreendeu, porque a gente não esperava.
E os meninos aprenderam a tocar? (risos gerais)
Claro! Aldízio vive hoje tocando no Japão, não sei mais onde, ele é chamado de Aldízio Tapioca; Chico Carlo que, também chegou a tocar com a gente, está tocando com Almir Deodato nos Estados Unidos; Paulinho toca com um grupo de rock da pesada, em São Paulo; e Pachelly tem um trabalho do qual vocês já tomaram conhecimento. A não ser os cantores, um deles foi assassinado e o outro é sobrinho de um candidato a prefeito, e esse desandou mesmo (risos gerais).
Era bom ficarmos falando das coisas boas mas, de lá pra cá, e principalmente atualmente, o que é ruim incomoda bastante. Você não tem televisão em casa, é menos bombardeado com essas “más influências”, mas como é pra você saber que aquele espaço poderia ser seu? Pois lá o que tem é gente se passando por artista.
Não tenho mais a ilusão de que a boa música vá ocupar o cenário brasileiro, porque a minha opção foi de estar bem comigo. Então, num país em que o mercado fonográfico é considerado o sexto do mundo, se não me engano, e que todas as grandes gravadoras que estão aqui são multinacionais, nenhuma delas tem compromisso com a cultura, mas sim com o faturamento. Então não acredito, a não ser que a boa música venha a ser um modismo...
Que acaba tendo seu lado prejudicial...
Mas se vier deixa alguma coisa boa.
Já pensou Gugu ali na banheira apresentando Abidoral, Chico Buarque, Hermeto Pascoal, todos na banheira caçando sabonete? (risos gerais)
A gente ia imitar os índios, tem o nu puro (risos). Os índios fazem isso com a maior pureza. Eu iria lá cantar nu, sem maldade nenhuma (risos). Mas quanto à nudez, que coisa mais bonita era a nudez do índio, a pureza acima disso tudo, sem maldade.
O nome de seu CD, O Peixe, é o título de um poema de Patativa do Assaré. Você tinha quatro nomes pra escolher e sua intenção foi a de simplesmente homenagear o grande Poeta do Sertão?
Olha, aqui na região ele "já existe" há décadas, e de uns anos pra cá é que o descobriram e ele estourou no mundo inteiro. Mas eu já tinha conhecimento de Patativa desde criança, porque ele era cliente do armarinho de meu pai. E tive a felicidade de que esse armarinho tivesse uns clientes importantes, com quem eu convivia. Um era Luiz Gonzaga, o outro Patativa do Assaré, e Cego Oliveira, os [Irmãos] Aniceto...
Quando foi isso mais ou menos?
Meu pai foi comerciante de 1927 até o final da década de 60 e início de 70. Há muito tempo, então, conheço Patativa. Quando ele estourou apareceu muita gente fazendo parceria e, quando ele percebeu que tinha muita gente em cima de seu trabalho, fez um poema chamado “Cante lá que eu canto cá", chamando bem a atenção: "poeta lá da cidade cante suas coisas lá que eu canto minhas coisas aqui do sertão”. Eu tinha vontade de fazer parceria com ele e recuei, voltei atrás. Quando foi outro dia, li "O Peixe", aí se você percebe direitinho, a letra é bem elaborada e de certo modo meio erudita. Os primeiros versos dizem assim: "tendo por berço o lago cristalino / folga o peixe a nadar todo inocente / medo ou receio do porvir não sente / pois vive incauto do fatal destino / se na ponta de um fio longo e fino / a isca avista ferra-a inconsciente / ficando o pobre peixe, de repente / preso ao anzol do pescador ladino". Uma linguagem que vinha até a cidade. Eu disse: "aí eu posso cantar" e aproveitei, já que me chamaram para cantar numa dessas homenagens e a homenagem que achei foi a de musicar esse poema. Não estava nem pensando em gravar o disco ainda. Então, quando o disco apareceu, eu gravei e veio a questão do nome. Por que o nome O Peixe? Comecei a notar que havia uma série de fatores. Nós estamos terminando a Era de Peixes e entrando na Era de Aquários, e Aquário é aquele que dá comida aos peixes.
E a capa, retrata o fóssil?
A capa é também sobre os fósseis, que são nossas riquezas do conhecimento histórico, que dão uma importância muito grande à região do Cariri.
E que por sinal estão sendo roubados...
Pois é, estão sendo roubados. E todas essas coisas se somaram e vieram dizer que o nome do disco seria O Peixe.
.
(Show no Dragão do Mar, Fortaleza. Foto de arquivo cedida por Abidoral Jamacaru)
Hoje, dia 21 de junho de 2012, quando o município do Crato completa 248 anos de emancipação política, resolvemos buscar no nosso arquivo uma entrevista com um ilustre filho cratense, o cantor e compositor Abidoral Jamacaru.
A entrevista aconteceu no ano 2000 e foi publicada na edição 30 da versão impressa d'O Berro (de novembro daquele ano). Àquela época, Abidoral Jamacaru havia lançado apenas o LP Avallon, em 1986 (em 2000 ainda não havia a versão em CD, lançada alguns anos depois), e o CD O Peixe, em 1998. E só viria a gravar outro trabalho em 2008, o CD Bárbara.
O bate-papo com Abidoral foi descontraído e durou horas, rendendo um vasto e rico material. E de tão extensa que foi a conversa, tivemos que fazer uma seleção de apenas alguns momentos. Confira.
por Hudson Jorge, Luís André Bezerra e Ythallo Rodrigues
participação de Cícero Oliveira (in memoriam)
O BERRO: As músicas de seu primeiro LP, Avallon (1986), foram bem mais executadas e divulgadas do que as músicas do CD O Peixe (1998). Qual a comparação que você faz entre as duas épocas?
ABIDORAL JAMACARU: É que antigamente a região era muito carente de alguém que a representasse, então um artista sair do Cariri e gravar no Sul era um motivo de orgulho para a região. E gravei no Sul naquela época, o que era dificílimo. As pessoas também já tinham criado a expectativa de quando eu gravaria o primeiro disco, porque fiquei bastante conhecido no período dos Festivais, isso fez com que as rádios tivessem aquela receptividade. Outra coisa que facilitou é que nas rádios daqui não existia tão forte a disseminação do jabá. Aí quando cheguei com meu trabalho O Peixe, depois de 12 anos, já não foi mais a mesma coisa. Mas aos poucos eu fui brigando, fui insistindo. O disco terminou aparecendo depois, mas não foi como na outra vez. As rádios comunitárias tiveram um papel importante na divulgação de O Peixe porque, embora as ainda não tenham vindo como a gente esperava, ainda são uma alternativa. Por exemplo, foi em uma rádio comunitária que fiz uma das entrevistas mais bonitas, com o Ciço Gnomo na Rádio Santa Quitéria. Por esse período também Chico César passou por aqui [no Cariri], falou de mim, depois chegou Zeca Baleiro e falou alguma coisa, a Cássia Eller quando veio para o Chama falou de mim. Então, o disco devagarzinho foi aparecendo e hoje ainda está rodando.
Você chegou a participar daquele [evento] Chama?
Eu fui até usado pelo Chama. Garantiram-me uma participação e me escolheram pra ser o presidente do júri. Eu trabalhando para o Chama o tempo todinho e não cobrei nada por isso. Perdi um show que tinha marcado para a Paraíba e deixei de marcar um em Fortaleza, em função desse daqui. E quando foi no dia eles cortaram meu show. Eu tive prejuízo nessa história toda. Não é que eles não me pagaram, até porque não cheguei a tocar, o problema é que deixei de fazer dois shows, três com o que seria aqui.
Voltando à questão entre Avallon e O Peixe: no que se refere a espaços para shows aqui no Cariri, qual a diferença entre as duas épocas?
A questão é que aqui tem uma cultura de se fazer show em bar que termina não sendo um show, mas sim uma música de entretenimento, porque você vai tocar músicas de pessoas conhecidas. E existem até os chavões: é muito difícil em qualquer bar não estar tocando Djavan. Teve um tempo que era só João Bosco, outro que era só Caetano Veloso. Então eu não vou sentar lá e cantar esse pessoal porque tenho uma obra a mostrar, tenho propostas. Posso até tocar um cara desses, porque vale a pena quando [a canção] é bem feita, bonita, mas não vou fazer todo um show em cima deles.
E na época do Avallon você se apresentava muito aqui?
Sempre tive muita dificuldade de fazer apresentações aqui no Cariri. É uma luta de muito tempo. Teve um tempo até que fui perseguido, pela questão política, no tempo da repressão. Não explicitamente, porque não havia nenhuma prova contra mim. Mas nesse período, inclusive, cheguei a ser preso. Eu estava tocando numa barraca na Exposição onde ficava a oposição, que naquele tempo era o MDB, que deu origem ao PMDB.
Quando foi isso mais ou menos?
Década de 70, acho que 76. Era Médici [na realidade, Médici foi presidente até 1974, em 1976 a presidência estava com Geisel], que jogava duro mesmo. Aí nesse período estava tocando na barraca informalmente, dando força a um cara que estava fazendo um trabalho de pesquisa sobre o Caldeirão. Então a polícia foi lá, bateu e prendeu todo mundo. Tiveram que me soltar logo, não tinham nenhuma prova contra mim. Mas, resultado: quando saí da cadeia nesse período sofri uma marginalização muito grande aqui no Crato, até os pais de alguns amigos os proibiam de andar aqui em casa, com medo dessa história todinha. Surgiu um boato que me prejudicou muito tempo, de que eu era um cara perigoso, usava drogas e que pervertia os jovens (risos). Foi tudo bolado pra criar uma imagem negativa em cima da minha pessoa, porque, de qualquer maneira, eu aparecia muito e naquele tempo não queriam ninguém que aparecesse e pensasse alguma coisa.
Aqui na época tinha núcleo do MDB?
Tinha um pessoal de resistência aqui. O MDB na verdade não era um partido, e sim um saco de alternativas. O PCzão e o PC do B existiam na clandestinidade, não podiam legitimamente concorrer à eleição. E qualquer pessoa que se manifestasse contra aquele regime, ainda que não fosse filiado a um desses partidos, era taxado como uma pessoa subversiva, de princípios religiosos duvidosos, de uma moral comprometida, porque antes de tudo não era um nacionalista. Tinha até aquele slogan: “Brasil, ame-o ou deixe-o”.
E comiam criancinhas. (risos)
E mais coisas: que a bandeira vermelha era a bandeira da guerra... Era tanta besteira, bobagem. Mas todas aquelas pessoas que não podiam se candidatar com suas ideologias próprias, entravam no MDB. E digo que era um saco de gatos. É tanto que dizem que Dom Paulo Evaristo, depois que houve a Anistia, escreveu um livro em que citou que a esquerda do Brasil só se unia na cadeia (risos). Então é em cima dessa afirmação que ainda hoje ela briga entre si. Quando ela está se juntando aí surge um partido mais radical e já nega tudo aquilo que os outros estão dizendo e rompe, é uma cisão. Mas tudo bem, o importante é que existam pessoas lutando e todas elas têm a intenção de que o país melhore. A ditadura tinha uma eficiência nas ações dela. E uma das eficiências foi a de apagar a memória do brasileiro. Todos foram anestesiados com festa e não sei o que mais lá.
Pão e circo...
Pão e circo, que é uma tática antiga. O filme O Gladiador já mostra bem essa transação. Houve isso, e ainda hoje eles tentam com essas vaquejadas (risos gerais). A Brahma bombardeia e quando você sai de uma vaquejada já estão anunciando outra. Que coisa terrível, né? E os vaqueiros agora são tudo filhinho de papai (risos), atrás de um prêmio que é um carro ou as coisas mais absurdas do mundo.
As pessoas passam toda a semana de terno e gravata e quando chegam no fim de semana colocam a bota e o chapéu de vaqueiro.
O pior é que não é chapéu de vaqueiro, é aquele chapéu de massa, copiando o americano. É a moda country. A coisa mais aberrante do mundo, mas tudo bem, no meio disso tudo tem pessoas como vocês [d'O Berro], que estão aí querendo sabatinar, né? (risos). E sempre tem essa moçada que segura a onda, isso é legal. Isso é o que nos dá a esperança de continuar, de batalhar e de perseverar com esse trabalho, procurando fazer o melhor possível cada vez mais.
Voltando à questão do show. Não existem bons espaços aqui para mostrar seu show? Tem um espaço agora super interessante que é o Navegarte, do Salatiel, que sempre teve boas ideias e vem trabalhando há um bom tempo com a cultura. O que está faltando para a região [do Cariri] melhorar nessa questão? Pois temos excelentes músicos.
O que Salatiel fez pela cultura, pelo menos aqui no Crato, foi o que todos os Secretários de Cultura que já estiveram por aqui não fizeram. Porque ele sempre fez um trabalho incondicional, bem feito, bem pensado e com honestidade. E com o Navegarte ele está procurando ainda criar uma estrutura para agir nesse aspecto. Ele vem agindo de certo modo, mas não é ainda como ele pretende. Ele pretende fazer um polo cultural lá, para que seja um espaço alternativo para todas aquelas pessoas que honestamente pretendem fazer uma arte, respeitando a estética e o conceito de construtivo. Então, ele abre esse espaço nesse sentido e eu acho muito importante.
Seria possível uma organização dos artistas do Cariri? Reunindo tanto a nova geração como os artistas que já batalham por espaço há algum tempo?
É muito difícil, mas é possível e seria uma boa saída, desde que ela tenha consciência, maturidade, porque tudo hoje funciona em grupo. Tem que funcionar dessa forma, porque o sistema imantado aí é muito forte, com tudo voltado para a questão do consumo daquelas pessoas que estão no ápice da pirâmide. E quem está concentrando essa renda domina todos os espaços e ela veicula o que quer, e a única saída seria essa união. Agora, até acontecer isso tem muita briga, pois é muito comum o jovem ainda não ter maturidade suficiente para entender a seriedade dessa reunião ou às vezes tem uns que se destacam com certo trabalho e o ego o desequilibra um pouco. Mas, por outro lado, o jovem tem aquela coisa do ímpeto, de acreditar mais, de lutar mais, entrar na ativa. E sempre no meio da turma tem um pessoal legal. É essa utopia saudável. Porque utopia é o lugar aonde não se chega, mas é lá que você objetiva e passando pelo caminho faz um monte de coisas.
Vemos a atuação de grupos isolados aqui na região e, muitas vezes, ao invés deles estarem unidos, ficam atacando uns aos outros. Como é que você vê essa separação?
Crítica ninguém evita, principalmente quando se está começando um trabalho e ele ainda não está amadurecido. Você pode ser até uma pessoa inteligente e ter ótimas idéias, mas você é vulnerável, porque você tem muito o que aprender, e muitas vezes o artista novo não aceita críticas. Eu mesmo não aceitava, reagia imediatamente, porque meu ego estava lá em cima. Quando comecei diziam que eu era inteligente, que eu era um artista, então meu ego subiu e, se alguém me criticasse, eu ficava aborrecido. Então, uma vez que nós artistas já somos carentes pela própria situação, terminamos na luta pela sobrevivência, um pisando em cima do ombro do outro para poder respirar. Isso acontece muito. A questão é com o tempo amadurecer e deixar isso de lado, porque na verdade está todo mundo no mesmo barco.
OLIVEIRA: Você acha que o som que fez no disco O Peixe é o mesmo que você fazia ou sempre fez?
Minha liberdade de criar eu prefiro não defini-la. Porque você acaba sendo um acúmulo de conhecimentos que vai adquirindo. Aí vai acrescentando no meio dessas coisas o estilo que você sempre sabia. E se você ficar se policiando por um estilo perde tudo isso. O meu trabalho talvez não tenha ficado envelhecido porque tive a liberdade de trabalhar como se fosse um trabalho atemporal. Com os pés no chão, mas não deixo de olhar pro céu, o espaço é infinito por aí.
OLIVEIRA: Estou perguntando isso para justamente fazer outra pergunta. Por exemplo, atualmente o que predomina são as fusões, fusão como as pessoas entendem hoje. Um exemplo: fazer um samba misturado com música eletrônica, misturado com rock, etc. Porque isso está “na crista da onda” e se não fizer “fica ultrapassado”.
Não existe essa cobrança de fazer isso, existe a questão de você se sentir bem sozinho. Quando parte do princípio da cobrança você passa a ser coagido e não é saudável.
OLIVEIRA: Já existiam aqueles cantos árabes, aí alguém vai e coloca uma batida eletrônica e explode no mundo todo...
Fundir ritmo com ritmo existe de duas formas. Existem os oportunistas e outros que pensam o seguinte: “eu tenho esse conhecimento dentro de mim, eu senti isso, e por que não vou me dar isso?”. Botar isso pra fora!. “Vomitar” no bom sentido. Por que estar me policiando? Eu não sou um purista. Não sou de fazer aquela música brasileira pura, eu gosto da irreverência do rock, da profundidade do jazz, da música erudita pelo seu manancial que hoje serve para todo mundo, que é você mexer com escala acromática...
Fala um pouco sobre o grupo Nessa Hora, que você tinha na década de 1970. Como era o som dele...
Nos anos 70 existiam uns festivais de música que revelaram muita gente boa do Cariri. Meu irmão, o Pachelly [Jamacaru], tem idade de ser meu filho (risos), mas ele só vivia no meu pé, aquela coisa de louco pelo trabalho. Peguei ele e mais dois amigos seus, na faixa de 13 ou 14 anos, e eu já com quase trinta, falei: “vamos formar um grupo diferente”. Mas Pachelly disse: “a gente não sabe nem tocar!”. Eu disse: “aprende!”. Aí eu ficava aqui dentro de casa na semana, com esses três meninos. E passamos quase um ano ensaiando. Nesse tempo eu estava com tanta raiva dessa história de todo mundo definir que “música boa era essa, música boa era aquela”, que combinei com os meninos de a gente não ouvir mais rádio, não ouvir mais disco de ninguém. E a gente descobriu som em tudo... A gente batia na porta e dizia: “A porta tem som”. Então, vamos aproveitar o som desta porta! Saímos fazendo experiência com tudo. A gente chamava o grupo Nessa Hora porque foi o grupo “nessa hora” que decidiu. Como terminamos esse trabalho, pintou um Festival, então entrei com esse grupo cheio de meninos e fomos cantar uma música chamada “Margem Virgem”. Pachelly com o pífano, que tinha aprendido com os Aniceto, mas também cheio de informação de Jethro Tull, era uma misturada danada. Vinha Aldízio e Paulinho misturando as percussões dos “reisados” com Djalma Correia, Naná Vasconcelos, etc. Tínhamos a liberdade trabalhar com o que era bom. Então entramos no festival com essa música “Margem Virgem”. Quando a gente tocou, a quadra ficou parada, todo mundo sem entender nada (risos). Uma letra hermética, avançadíssima, meio filosófica, com um som experimental, mas ao mesmo tempo gostoso, ritmado, porque tinha alguma coisa da música russa, foi uma salada danada, que causava um impacto, uma surpresa. E o resultado? Batemos o recorde do festival: ganhamos a melhor música, o melhor arranjo, o melhor intérprete, melhor letra. Até a gente se surpreendeu, porque a gente não esperava.
E os meninos aprenderam a tocar? (risos gerais)
Claro! Aldízio vive hoje tocando no Japão, não sei mais onde, ele é chamado de Aldízio Tapioca; Chico Carlo que, também chegou a tocar com a gente, está tocando com Almir Deodato nos Estados Unidos; Paulinho toca com um grupo de rock da pesada, em São Paulo; e Pachelly tem um trabalho do qual vocês já tomaram conhecimento. A não ser os cantores, um deles foi assassinado e o outro é sobrinho de um candidato a prefeito, e esse desandou mesmo (risos gerais).
Era bom ficarmos falando das coisas boas mas, de lá pra cá, e principalmente atualmente, o que é ruim incomoda bastante. Você não tem televisão em casa, é menos bombardeado com essas “más influências”, mas como é pra você saber que aquele espaço poderia ser seu? Pois lá o que tem é gente se passando por artista.
Não tenho mais a ilusão de que a boa música vá ocupar o cenário brasileiro, porque a minha opção foi de estar bem comigo. Então, num país em que o mercado fonográfico é considerado o sexto do mundo, se não me engano, e que todas as grandes gravadoras que estão aqui são multinacionais, nenhuma delas tem compromisso com a cultura, mas sim com o faturamento. Então não acredito, a não ser que a boa música venha a ser um modismo...
Que acaba tendo seu lado prejudicial...
Mas se vier deixa alguma coisa boa.
Já pensou Gugu ali na banheira apresentando Abidoral, Chico Buarque, Hermeto Pascoal, todos na banheira caçando sabonete? (risos gerais)
A gente ia imitar os índios, tem o nu puro (risos). Os índios fazem isso com a maior pureza. Eu iria lá cantar nu, sem maldade nenhuma (risos). Mas quanto à nudez, que coisa mais bonita era a nudez do índio, a pureza acima disso tudo, sem maldade.
O nome de seu CD, O Peixe, é o título de um poema de Patativa do Assaré. Você tinha quatro nomes pra escolher e sua intenção foi a de simplesmente homenagear o grande Poeta do Sertão?
Olha, aqui na região ele "já existe" há décadas, e de uns anos pra cá é que o descobriram e ele estourou no mundo inteiro. Mas eu já tinha conhecimento de Patativa desde criança, porque ele era cliente do armarinho de meu pai. E tive a felicidade de que esse armarinho tivesse uns clientes importantes, com quem eu convivia. Um era Luiz Gonzaga, o outro Patativa do Assaré, e Cego Oliveira, os [Irmãos] Aniceto...
Quando foi isso mais ou menos?
Meu pai foi comerciante de 1927 até o final da década de 60 e início de 70. Há muito tempo, então, conheço Patativa. Quando ele estourou apareceu muita gente fazendo parceria e, quando ele percebeu que tinha muita gente em cima de seu trabalho, fez um poema chamado “Cante lá que eu canto cá", chamando bem a atenção: "poeta lá da cidade cante suas coisas lá que eu canto minhas coisas aqui do sertão”. Eu tinha vontade de fazer parceria com ele e recuei, voltei atrás. Quando foi outro dia, li "O Peixe", aí se você percebe direitinho, a letra é bem elaborada e de certo modo meio erudita. Os primeiros versos dizem assim: "tendo por berço o lago cristalino / folga o peixe a nadar todo inocente / medo ou receio do porvir não sente / pois vive incauto do fatal destino / se na ponta de um fio longo e fino / a isca avista ferra-a inconsciente / ficando o pobre peixe, de repente / preso ao anzol do pescador ladino". Uma linguagem que vinha até a cidade. Eu disse: "aí eu posso cantar" e aproveitei, já que me chamaram para cantar numa dessas homenagens e a homenagem que achei foi a de musicar esse poema. Não estava nem pensando em gravar o disco ainda. Então, quando o disco apareceu, eu gravei e veio a questão do nome. Por que o nome O Peixe? Comecei a notar que havia uma série de fatores. Nós estamos terminando a Era de Peixes e entrando na Era de Aquários, e Aquário é aquele que dá comida aos peixes.
E a capa, retrata o fóssil?
A capa é também sobre os fósseis, que são nossas riquezas do conhecimento histórico, que dão uma importância muito grande à região do Cariri.
E que por sinal estão sendo roubados...
Pois é, estão sendo roubados. E todas essas coisas se somaram e vieram dizer que o nome do disco seria O Peixe.
.
quarta-feira, 20 de junho de 2012
Cine Arte Leão exibe o filme "A Culpa é do Fidel!"
Cine Arte Leão exibe o filme A culpa é do Fidel!
Título original: La Faute à Fidel!
Diretor: Julie Gavras
Elenco: Julie Depardieu, Stefano Accorsi, Nina Kervel-Bey, Benjamin Feuillet
Duração: 99 minutos
Ano: 2006
País de origem: Itália / França
"Anna (Nina Kervel-Bey) tem nove anos e vive uma vida tranquila e confortável com seus pais, Marie (Julie Depardieu) e Fernando (Stefano Accorsi), sua babá e seu irmão caçula, François (Benjamin Feuillet). Mas sua vida bem organizada irá se complicar com a prisão de um tio espanhol, que era comunista convicto, e uma visita ao Chile do recém-eleito Salvador Allende."
Exibição na quinta-feira, 21 de junho de 2012, às 15h
Faculdade Leão Sampaio, Campus Saúde
Juazeiro do Norte-CE.
terça-feira, 19 de junho de 2012
Dia do cinema brasileiro e as perdas
por Ythallo Rodrigues
Hoje, dia 19 de junho, é o dia em que se comemora o dia do Cinema Brasileiro. Por curiosidade, fui fazer algumas e rápidas pesquisas para saber porque cargas d'água, hoje, dia 19 de junho, é o dia do cinema brasileiro. Uma dica me é dada no pequeno e valioso livro de Paulo Emílio Salles Gomes, Cinema: trajetória no subdesenvolvimento. Em uma rápida e incisiva descrição no primeiro parágrafo da página 21¹, Paulo Emílio escreve: "em 1898, voltando ele (Afonso Segreto) de uma das suas viagens, tirou algumas 'vistas' da Baía da Guanabara com a câmara de filmar que comprara em Paris. Nesse dia – domingo, 19 de junho –, a bordo do paquete francês 'Brésil', nasceu o cinema brasileiro".
Aqui está, este é o motivo, a filmagem a partir de um barco em direção à Baía da Guanabara, no Rio de Janeiro. Tal feito fora realizado por Afonso Segreto, um dos irmãos Segreto que tiveram grande importância para o nosso cinema. No âmbito da exibição, Paschoal Segreto (seu irmão mais velho) inaugurou também no Rio de Janeiro, em 31 de julho de 1897, o “Salão de Novidades”, posteriormente chamado de “Salão Paris no Rio”, em que realizava exibições dos primeiros filmes. Seria, portanto, nossa primeira e arcaica sala de cinema. É importante falar que é possível, que estas primeiras imagens do cinema brasileiro provavelmente nunca tenham sido de fato exibidas, ou talvez façam parte apenas de um belo e maravilhoso imaginário da nossa criação cinematográfica. Dito isto, não se coloca em dúvida, no entanto, a importância dos irmãos Segreto no desenvolvimento do nosso cinema, posterior a esta data inaugural. Na imagem ao lado o cinegrafista Afonso Segreto.
Tendo exposto essas linhas rápidas sobre aspectos mais históricos do cinema do Brasil, o que quero porém enfatizar nessa postagem são três (quatro) perdas irreparáveis as quais tivemos recentemente no nosso cinema. Trata-se da partida de Paulo César Saraceni (em 14 de abril, aos 78 anos), Adriano Stuart (em 15 de abril, aos 68 anos) e Carlos Reichebach (em 14 de junho, no dia que completou 67 anos). Essa é apenas uma pequena forma que encontro de homenageá-los, prestando também sinceras homenagens ao cinema brasileiro a partir dos filmes desses grandes artistas.
Paulo César Saraceni foi um dos grandes cineastas que compuseram o quadro do Cinema Novo brasileiro na década de 1960. Não tendo, ao meu ver, se filiado a um cinema primordialmente político, como alguns do grupo conclamavam, no entanto, realizou talvez uma das obras mais políticas do período, O desafio, de 1965. Não vou, nessas poucas palavras, tentar definir ou analisar a obra desse grande realizador, irei apenas apresentar dois filmes para que possam ser conhecidos, e em breve discutidos e analisados por quem desejar. O primeiro filme é Arraial do cabo, um dos curtas-metragens precursores do cinema novo, juntamente com Aruanda, de 1960, de Linduarte Noronha (também falecido este ano, em 30 de janeiro). Abaixo coloco também Aruanda, como homenagem ao cineasta paraibano Linduarte Noronha. Ambos estão na íntegra.
Arraial do cabo, 1960, de Paulo César Saraceni.
Aruanda, 1960, de Linduarte Noronha.
Aqui, uma cena belíssima do filme O desafio, de Saraceni, realizado em 1965. Na cena o personagem de Oduvaldo Viana Filho, assiste concentrado o espetáculo Opinião, com Zé Kéti, Maria Bethânia e João do Vale, a cena é emocionante.
O desafio, 1965, de Paulo César Saraceni.
Adriano Stuart foi cineasta, ator e diretor de TV, dentre suas realizações gostaria de destacar duas pérolas. A primeira é o filme Bacalhau, realizado em 1976, uma comédia que parodia, o então sucesso estrondoso Tubarão, de Steven Spielberg. Abaixo a cena em que se encontra uma vítima do perigoso peixe que ronda o litoral de São Paulo, a cena é hilária. Na sequência seguinte, o memorável quarteto Didi, Dedé, Mussum e Zacarias em ação no trecho do filme O cinderelo trapalhão, dirigido por Adriano, em 1979.
Bacalhau, 1976, de Adriano Stuart.
O cinderelo trapalhão, 1979, de Adriano Stuart.
Carlos Reichenbach nos deixou semana passada. E sua ida foi muito sentida para o cinema brasileiro. Carlão, como era mais conhecido, sempre se colocou como um grande divulgador do cinema, e não importava a nacionalidade, o período, o gênero, seu grande prazer era descobrir e poder compartilhar com todos suas descobertas. Tive a feliz oportunidade de por pouco tempo ser um dos seus cúmplices e o acompanhar nesta missão, e a partir de seu site ou facebook, encontrar coisas e baixá-las e poder posteriormente oferecer a outros mais que desejassem, pena que tenha sido por pouco tempo. Desde a semana passada li diversos textos muito emocionados e tristes, lamentando a sua perda, mas eis que de um grande homem que se foi, temos ainda a sua obra e no caso do Carlão Reichenbach ficaram os filmes que ele disseminou para o mundo e sua própria filmografia tão rica e com filmes tão intensos e cheios de vida.
Abaixo o seu primeiro filme, o curta-metragem Essa rua tão augusta, de 1968 e uma cena incrível, de seu último filme Falsa loura, realizado em 2007 (esse tive a oportunidade de ver no festival Cineceará de 2008, em que Carlão apresentou o filme com uma peruca loura, hilário).
Essa rua tão augusta, 1968, de Carlos Reichenbach.
Falsa loura, 2007, de Carlos Reichenbach.
____
¹ GOMES, Paulo Emílio Salles. Cinema: trajetória do subdesenvolvimento. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1996. (Coleção Leitura)
Hoje, dia 19 de junho, é o dia em que se comemora o dia do Cinema Brasileiro. Por curiosidade, fui fazer algumas e rápidas pesquisas para saber porque cargas d'água, hoje, dia 19 de junho, é o dia do cinema brasileiro. Uma dica me é dada no pequeno e valioso livro de Paulo Emílio Salles Gomes, Cinema: trajetória no subdesenvolvimento. Em uma rápida e incisiva descrição no primeiro parágrafo da página 21¹, Paulo Emílio escreve: "em 1898, voltando ele (Afonso Segreto) de uma das suas viagens, tirou algumas 'vistas' da Baía da Guanabara com a câmara de filmar que comprara em Paris. Nesse dia – domingo, 19 de junho –, a bordo do paquete francês 'Brésil', nasceu o cinema brasileiro".
Aqui está, este é o motivo, a filmagem a partir de um barco em direção à Baía da Guanabara, no Rio de Janeiro. Tal feito fora realizado por Afonso Segreto, um dos irmãos Segreto que tiveram grande importância para o nosso cinema. No âmbito da exibição, Paschoal Segreto (seu irmão mais velho) inaugurou também no Rio de Janeiro, em 31 de julho de 1897, o “Salão de Novidades”, posteriormente chamado de “Salão Paris no Rio”, em que realizava exibições dos primeiros filmes. Seria, portanto, nossa primeira e arcaica sala de cinema. É importante falar que é possível, que estas primeiras imagens do cinema brasileiro provavelmente nunca tenham sido de fato exibidas, ou talvez façam parte apenas de um belo e maravilhoso imaginário da nossa criação cinematográfica. Dito isto, não se coloca em dúvida, no entanto, a importância dos irmãos Segreto no desenvolvimento do nosso cinema, posterior a esta data inaugural. Na imagem ao lado o cinegrafista Afonso Segreto.
Tendo exposto essas linhas rápidas sobre aspectos mais históricos do cinema do Brasil, o que quero porém enfatizar nessa postagem são três (quatro) perdas irreparáveis as quais tivemos recentemente no nosso cinema. Trata-se da partida de Paulo César Saraceni (em 14 de abril, aos 78 anos), Adriano Stuart (em 15 de abril, aos 68 anos) e Carlos Reichebach (em 14 de junho, no dia que completou 67 anos). Essa é apenas uma pequena forma que encontro de homenageá-los, prestando também sinceras homenagens ao cinema brasileiro a partir dos filmes desses grandes artistas.
Paulo César Saraceni foi um dos grandes cineastas que compuseram o quadro do Cinema Novo brasileiro na década de 1960. Não tendo, ao meu ver, se filiado a um cinema primordialmente político, como alguns do grupo conclamavam, no entanto, realizou talvez uma das obras mais políticas do período, O desafio, de 1965. Não vou, nessas poucas palavras, tentar definir ou analisar a obra desse grande realizador, irei apenas apresentar dois filmes para que possam ser conhecidos, e em breve discutidos e analisados por quem desejar. O primeiro filme é Arraial do cabo, um dos curtas-metragens precursores do cinema novo, juntamente com Aruanda, de 1960, de Linduarte Noronha (também falecido este ano, em 30 de janeiro). Abaixo coloco também Aruanda, como homenagem ao cineasta paraibano Linduarte Noronha. Ambos estão na íntegra.
Arraial do cabo, 1960, de Paulo César Saraceni.
Aruanda, 1960, de Linduarte Noronha.
Aqui, uma cena belíssima do filme O desafio, de Saraceni, realizado em 1965. Na cena o personagem de Oduvaldo Viana Filho, assiste concentrado o espetáculo Opinião, com Zé Kéti, Maria Bethânia e João do Vale, a cena é emocionante.
O desafio, 1965, de Paulo César Saraceni.
Adriano Stuart foi cineasta, ator e diretor de TV, dentre suas realizações gostaria de destacar duas pérolas. A primeira é o filme Bacalhau, realizado em 1976, uma comédia que parodia, o então sucesso estrondoso Tubarão, de Steven Spielberg. Abaixo a cena em que se encontra uma vítima do perigoso peixe que ronda o litoral de São Paulo, a cena é hilária. Na sequência seguinte, o memorável quarteto Didi, Dedé, Mussum e Zacarias em ação no trecho do filme O cinderelo trapalhão, dirigido por Adriano, em 1979.
Bacalhau, 1976, de Adriano Stuart.
O cinderelo trapalhão, 1979, de Adriano Stuart.
Carlos Reichenbach nos deixou semana passada. E sua ida foi muito sentida para o cinema brasileiro. Carlão, como era mais conhecido, sempre se colocou como um grande divulgador do cinema, e não importava a nacionalidade, o período, o gênero, seu grande prazer era descobrir e poder compartilhar com todos suas descobertas. Tive a feliz oportunidade de por pouco tempo ser um dos seus cúmplices e o acompanhar nesta missão, e a partir de seu site ou facebook, encontrar coisas e baixá-las e poder posteriormente oferecer a outros mais que desejassem, pena que tenha sido por pouco tempo. Desde a semana passada li diversos textos muito emocionados e tristes, lamentando a sua perda, mas eis que de um grande homem que se foi, temos ainda a sua obra e no caso do Carlão Reichenbach ficaram os filmes que ele disseminou para o mundo e sua própria filmografia tão rica e com filmes tão intensos e cheios de vida.
Abaixo o seu primeiro filme, o curta-metragem Essa rua tão augusta, de 1968 e uma cena incrível, de seu último filme Falsa loura, realizado em 2007 (esse tive a oportunidade de ver no festival Cineceará de 2008, em que Carlão apresentou o filme com uma peruca loura, hilário).
Essa rua tão augusta, 1968, de Carlos Reichenbach.
Falsa loura, 2007, de Carlos Reichenbach.
____
¹ GOMES, Paulo Emílio Salles. Cinema: trajetória do subdesenvolvimento. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1996. (Coleção Leitura)
Disco 'Construção', de Chico Buarque
Grifo nosso # 33
Hoje, dia 19 de junho de 2012, Chico Buarque de Hollanda completa 68 anos de idade. Quando pensei em postar algo sobre ele nesta data, a primeira coisa que me lembrei foi do fato de ter um de seus álbuns indicado no livro 1001 discos para ouvir antes de morrer. Fui conferir e lá estava Construção, de 1971, sendo chamado de disco "obrigatório" em uma pequena resenha.
A curiosidade pra mim se dava pelo fato de o livro ser formado por uma lista predominantemente roqueira. E, até em decorrência disso, dominada basicamente por bandas e cantores da Inglaterra e dos Estados Unidos. Mesmo assim, lá está Construção, junto a clássicos do rock lançados em 1971 (ano extremamente produtivo para as mais diversas coleções de discos).
Para se ter uma ideia, outras pérolas indicadas no livro e que foram gravadas em 1971: No. 1 Record, do Big Star; Hunk Dory, de David Bowie; Maggot Brain, do Funkadelic; Blue, da Joni Mitchell; Fragile, do Yes; Imagine, de John Lennon; Sticky Fingers, do Rolling Stones; Aqualung, do Jethro Tull; e muito mais.
Mas voltando a Chico Buarque: isso tudo para mostrar que, até numa lista com esse tipo de material (e falando de um período preominantemente roqueiro no cenário mundial), lembraram de mencionar (merecidamente, lógico) um grande compositor de um país "periférico" no quesito mercado fonográfico*. E vamos à resenha publicada no livro:
Chico Buarque - Construção (1971)
"Construção foi o quinto álbum de chico Buarque para a Philips. É um trabalho que se tornou um clássico e um marco de referência desse cantor de importância maior na música brasileira e mundial. Quase todas as músicas que compõem este disco fizeram sucesso. Buarque aparece aqui num ambiente acústico. A orquestração do álbum foi influenciada por Rogério Duprat. Logo no início, o LP mergulha fundo nos ritmos tradicionais brasileiros, em canções que, implicitamente, criticam o regime político ditatorial do país ("Deus Lhe Pague" e a música-título, "Construção").
Como é comum na obra desse inigualável contador de histórias, ele realça os detalhes do dia-a-dia característicos e definidores das relações humanas (e da condição humana — como em Ópera do Malandro) em "Cotidiano", que fala da rotina da relação entre um homem e uma mulher. As três faixas seguintes, "Olha Maria", "Samba de Orly" e "Valsinha", são parcerias com outros grandes letristas e compositores da música brasileira — Tom Jobim, Vinicius de Moraes e Toquinho ("Samba de Orly" faz referência ao aeroporto francês e a Paris, que se tornaram familiares para os brasileiros exilados). Outro destaque é "Valsinha", uma canção de amor de dois minutos que permaneceu nos ouvidos e no coração do público internacional. Um disco obrigatório."
____
Tim Jones, no livro 1001 discos para ouvir antes de morrer (Editora Sextante, 2007).
"Desalento" (ao vivo, 2012):
* no livro também foram contemplados outros artistas brasileiros, como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Jorge Ben Jor, Os Mutantes, Tom Jobim, Baden Powell, Sepultura, Milton Nascimento e Elis Regina..
Hoje, dia 19 de junho de 2012, Chico Buarque de Hollanda completa 68 anos de idade. Quando pensei em postar algo sobre ele nesta data, a primeira coisa que me lembrei foi do fato de ter um de seus álbuns indicado no livro 1001 discos para ouvir antes de morrer. Fui conferir e lá estava Construção, de 1971, sendo chamado de disco "obrigatório" em uma pequena resenha.
A curiosidade pra mim se dava pelo fato de o livro ser formado por uma lista predominantemente roqueira. E, até em decorrência disso, dominada basicamente por bandas e cantores da Inglaterra e dos Estados Unidos. Mesmo assim, lá está Construção, junto a clássicos do rock lançados em 1971 (ano extremamente produtivo para as mais diversas coleções de discos).
Para se ter uma ideia, outras pérolas indicadas no livro e que foram gravadas em 1971: No. 1 Record, do Big Star; Hunk Dory, de David Bowie; Maggot Brain, do Funkadelic; Blue, da Joni Mitchell; Fragile, do Yes; Imagine, de John Lennon; Sticky Fingers, do Rolling Stones; Aqualung, do Jethro Tull; e muito mais.
Mas voltando a Chico Buarque: isso tudo para mostrar que, até numa lista com esse tipo de material (e falando de um período preominantemente roqueiro no cenário mundial), lembraram de mencionar (merecidamente, lógico) um grande compositor de um país "periférico" no quesito mercado fonográfico*. E vamos à resenha publicada no livro:
Chico Buarque - Construção (1971)
"Construção foi o quinto álbum de chico Buarque para a Philips. É um trabalho que se tornou um clássico e um marco de referência desse cantor de importância maior na música brasileira e mundial. Quase todas as músicas que compõem este disco fizeram sucesso. Buarque aparece aqui num ambiente acústico. A orquestração do álbum foi influenciada por Rogério Duprat. Logo no início, o LP mergulha fundo nos ritmos tradicionais brasileiros, em canções que, implicitamente, criticam o regime político ditatorial do país ("Deus Lhe Pague" e a música-título, "Construção").
Como é comum na obra desse inigualável contador de histórias, ele realça os detalhes do dia-a-dia característicos e definidores das relações humanas (e da condição humana — como em Ópera do Malandro) em "Cotidiano", que fala da rotina da relação entre um homem e uma mulher. As três faixas seguintes, "Olha Maria", "Samba de Orly" e "Valsinha", são parcerias com outros grandes letristas e compositores da música brasileira — Tom Jobim, Vinicius de Moraes e Toquinho ("Samba de Orly" faz referência ao aeroporto francês e a Paris, que se tornaram familiares para os brasileiros exilados). Outro destaque é "Valsinha", uma canção de amor de dois minutos que permaneceu nos ouvidos e no coração do público internacional. Um disco obrigatório."
____
Tim Jones, no livro 1001 discos para ouvir antes de morrer (Editora Sextante, 2007).
"Desalento" (ao vivo, 2012):
* no livro também foram contemplados outros artistas brasileiros, como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Jorge Ben Jor, Os Mutantes, Tom Jobim, Baden Powell, Sepultura, Milton Nascimento e Elis Regina..
segunda-feira, 18 de junho de 2012
'Yesterday': a canção de Paul McCartney que é fenômeno em regravações
Grifo nosso # 32
Em mais uma homenagem pelos 70 anos de Paul McCartney — completados hoje (dia 18 de junho de 2012) — falaremos sobre sua mais famosa composição: "Yesterday". Para isso, fuçamos o texto que apresenta a canção na edição especial da revista Rolling Stone, que apresenta o resultado da eleição das 500 maiores músicas de todos os tempos.
"Yesterday" (que nos créditos consta como sendo de Lennon e McCartney — mas é sabido que foi composta apenas pelo baixista), foi lançada em setembro de 1965 (pela Capitol), integrou o LP Help! e no ranking da edição especial da Rolling Stone ocupa a 13ª posição.
Segue o texto:
"A mais famosa balada de Paul McCartney mantém para si o recorde de música mais gravada de todos os tempos na era do rock. Sete anos depois de seu lançamento, havia 1.186 versões, feitas por artistas tão variados quanto Frank Sinatra, Ottis Redding e Willie Nelson. Mas a versão original de McCartney — gravada em 14 de junho de 1965, no estúdio Abbey Road, da EMI, em Londres — permanece como a mais bela e ousada de todas: um poema franco sobre arrependimento, composto e cantado com assustadora elegância.
Não há nenhum outro beatle na gravação. Não foi preciso. O arranjo de George Martin para um quarteto de cordas enfatizou a melancolia da oitava mais baixa, enquanto o vocal quase sussurrado de McCartney reverberou com anseio nos grandes e sombrios espaços onde a bateria e guitarras elétricas deveriam estar. A melodia, ele disse, veio durante um sonho: 'meu pai costumava conhecer uma série de velhas canções de jazz, achei que talvez eu tivesse apenas relembrado algo do passado'.
McCartney mostrou a música a Martin com o título provisório de 'Scrambled Eggs' ['Ovos mexidos'], em um quarto de hotel de Paris, em janeiro de 1964 — antes de os Beatles sequer excursionarem pelos Estados Unidos — mas só a gravaria um ano e meio depois. 'Ficamos com um pouco de vergonha dela', confessou McCartney. 'Éramos uma banda de rock and roll'. Uma das faixas do compacto simples que chegou à posição de número 1 em terras norte-americanas, 'Yesterday' era, em suas próprias palavras, 'a música mais completa que já compus'."
____
Rolling Stone Especial - 500 maiores músicas de todos os tempos (internacionais).
Abaixo, algumas das versões que "Yesterday" recebeu ao longo desses 47 anos:
The Beatles:
Ray Charles:
Marvin Gaye:
Simone de Oliveira:
Boyz II Men:
Cilla Black:
Elvis Presley:
Em mais uma homenagem pelos 70 anos de Paul McCartney — completados hoje (dia 18 de junho de 2012) — falaremos sobre sua mais famosa composição: "Yesterday". Para isso, fuçamos o texto que apresenta a canção na edição especial da revista Rolling Stone, que apresenta o resultado da eleição das 500 maiores músicas de todos os tempos.
"Yesterday" (que nos créditos consta como sendo de Lennon e McCartney — mas é sabido que foi composta apenas pelo baixista), foi lançada em setembro de 1965 (pela Capitol), integrou o LP Help! e no ranking da edição especial da Rolling Stone ocupa a 13ª posição.
Segue o texto:
"A mais famosa balada de Paul McCartney mantém para si o recorde de música mais gravada de todos os tempos na era do rock. Sete anos depois de seu lançamento, havia 1.186 versões, feitas por artistas tão variados quanto Frank Sinatra, Ottis Redding e Willie Nelson. Mas a versão original de McCartney — gravada em 14 de junho de 1965, no estúdio Abbey Road, da EMI, em Londres — permanece como a mais bela e ousada de todas: um poema franco sobre arrependimento, composto e cantado com assustadora elegância.
Não há nenhum outro beatle na gravação. Não foi preciso. O arranjo de George Martin para um quarteto de cordas enfatizou a melancolia da oitava mais baixa, enquanto o vocal quase sussurrado de McCartney reverberou com anseio nos grandes e sombrios espaços onde a bateria e guitarras elétricas deveriam estar. A melodia, ele disse, veio durante um sonho: 'meu pai costumava conhecer uma série de velhas canções de jazz, achei que talvez eu tivesse apenas relembrado algo do passado'.
McCartney mostrou a música a Martin com o título provisório de 'Scrambled Eggs' ['Ovos mexidos'], em um quarto de hotel de Paris, em janeiro de 1964 — antes de os Beatles sequer excursionarem pelos Estados Unidos — mas só a gravaria um ano e meio depois. 'Ficamos com um pouco de vergonha dela', confessou McCartney. 'Éramos uma banda de rock and roll'. Uma das faixas do compacto simples que chegou à posição de número 1 em terras norte-americanas, 'Yesterday' era, em suas próprias palavras, 'a música mais completa que já compus'."
____
Rolling Stone Especial - 500 maiores músicas de todos os tempos (internacionais).
Abaixo, algumas das versões que "Yesterday" recebeu ao longo desses 47 anos:
The Beatles:
Ray Charles:
Marvin Gaye:
Simone de Oliveira:
Boyz II Men:
Cilla Black:
Elvis Presley:
Paul McCartney completa 70 anos. Caso não tenha morrido em 1966...
por Luís André Bezerra
O título acima é, obviamente, uma referência a um dos maiores boatos da história do rock: o de que Paul McCartney teria morrido em um acidente de carro em 1966, pouco depois do lançamento do disco Revolver. O boato se espalhou nos Estados Unidos em 1969, fazendo com que muitos acreditassem que o baixista dos Beatles desde o suposto "acidente fatal" fosse apenas um sósia do Paul original, que já estaria em algum lugar do além.
Para tentar comprovar a tese mirabolante (e curiosa) de que isso era verdade — tão verdade quanto o fato do homem ter pisado na lua naquele 1969 — muitos fãs e repórteres sensacionalistas ficavam procurando pistas que comprovassem a substituição de um "Paul morto" por um "quase Paul vivo". Vasculhando os discos de 1966 a 1969, começaram a encontrar pistas nas letras das músicas e nas capas dos discos, tudo isso reforçado pelo argumento-mor: o fato de os Beatles terem parado de fazer shows na época do tal acidente — e vale citar que Paul McCartney realmente havia sofrido um acidente de moto, mas nada grave. E o sonho continuava...
Mas o que importa é que mesmo que esse boato se comprovasse, seria mais uma prova da qualidade fora de série dos Beatles: pois teriam encontrado um sósia tão ou mais genial que Paul McCartney. Pois as obras da banda a partir de 1966 figuram entre as grandes produções da música popular do século XX. Uma das mais idolatradas, Sgt. Peppers Lonely Hearts Clube Band (1967), inclusive, teve notadamente o baixista Paul à frente da maior parte das composições, dos arranjos e das tomadas de decisões junto ao produtor George Martin. Embora John Lennon fosse até então o beatle mais afinado com peças vanguardistas, andava desanimado e passando por problemas pessoais em 1967, deixando a dianteira do trabalho com Paul McCartney. E o Sgt. Peppers é hoje "clássico dos clássicos".
Na virada dos anos 1960 para os 1970, quando "o sonho acabou" — como anunciara McCartney divulgando a dissolução da banda — cada integrante do quarteto de Liverpool teve que seguir seu rumo. De lá pra cá já se passaram mais de quatro décadas e Paul McCartney segue uma carreira profícua e de grande sucesso comercial. Falar da "carreira solo" de cada ex-beatle tomaria este espaço que é destinado a Paul, então vamos nos deter aos trabalhos do baixista.
Em 1970 a trajetória solo começou com o disco McCartney; gravando no ano seguinte (ao lado de Linda McCartney) o clássico Ram; lançando na sequência outros trabalhos notáveis, como Band on the run (com a banda Wings); chegando a obras dignas de nota também nas décadas seguintes, como Tug of war, de 1982, e Flamming Pie, de 1997.
A diversidade da obra de Paul McCartney, aliando a capacidade de emplacar bons trabalhos e obter grande sucesso comercial foram os motes para a matéria "O clássico do pop" (por Paulo Nogueira com reportagem de Barbara Heckler), publicada na Revista Bravo! 159, de novembro de 2010. Reproduzimos abaixo o início do texto:
"Se certas pessoas são uma metamorfose ambulante — de malucos beleza a políticos em busca de votos —, Paul McCartney é uma hipérbole ambulante. Com Macca, tudo é macro. Segundo o livro Guinness, obsessivo com estatísticas, Paul é simplesmente o compositor mais bem-sucedido da história da música popular — auge de uma saga que começou com o Homem de Neandertal batucando a sua clava no couro do pobre bisonte e chegou aos dias de hoje com Lady Gaga saracoteando no YouTube. Não tem para ninguém. E não apenas na esfera comercial, mas também na influência estética.
Claro que McCartney se projetou mundialmente pelos Beatles, a maior banda de todos os tempos. Mas, ora essa, os Fab Four, apesar do seu pedigree incomparável, e da sua alteração de paradigma em áreas que transcendem as partituras, duraram relativamente mixurucos dez anos. Paul tem mais de 40 anos de estrada posteriores ao conjunto. Somados os dois períodos, ele coleciona 60 discos de ouro e vendeu mais de 100 milhões de compactos simples só no Reino Unido. Os leitores do site da BBC, a principal rede de comunicações britânica, elegeram McCartney como o maior compositor do milênio. A mesma BBC atesta que 'Yesterday', composta quando Paul ainda era um Beatle, é a canção mais gravada da história, por cerca de 2,2 mil artistas. Desde o lançamento, em 1965, já foi executada mais de 7 milhões de vezes só nos Estados Unidos. Macca detém também os recordes de permanência mais duradoura no cocuruto das paradas musicais, tanto nos compactos quanto nos álbuns. (...)"
Com tais indicadores, percebemos a simbiose que Paul McCartney alcançou nestas mais de cinco décadas de carreira: sucesso e boa música, chegando aos 70 anos (neste dia 18 de junho de 2012) esbanjando a vitalidade de um jovem beatle (que pôde ser vista nos shows que fez no Brasil, em 2010 e já neste ano de 2012).
Longa vida ao Macca e à sua música!
"Too Many People" (do álbum Ram, de 1971) e "She Came in Through the Bathroom Window" (do Abbey Road - The Beatles, 1969) ao vivo, em 2008:
domingo, 17 de junho de 2012
Embalado pra viagem # 64
A ideia
De onde ela vem?! De que matéria bruta
Vem essa luz que sobre as nebulosas
Cai de incógnitas criptas misteriosas
Como as estalactites duma gruta?!
Vem da psicogenética e alta luta
Do feixe de moléculas nervosas,
Que, em desintegrações maravilhosas,
Delibera, e depois, quer e executa!
Vem do encéfalo absconso que a constringe,
Chega em seguida às cordas do laringe,
Tísica, tênue, mínima, raquítica...
Quebra a força centrípeta que a amarra,
Mas, de repente, e quase morta, esbarra
No molambo da língua paralítica!
____
Augusto dos Anjos em Eu e outras poesias (Martins Fontes, 1994).
De onde ela vem?! De que matéria bruta
Vem essa luz que sobre as nebulosas
Cai de incógnitas criptas misteriosas
Como as estalactites duma gruta?!
Vem da psicogenética e alta luta
Do feixe de moléculas nervosas,
Que, em desintegrações maravilhosas,
Delibera, e depois, quer e executa!
Vem do encéfalo absconso que a constringe,
Chega em seguida às cordas do laringe,
Tísica, tênue, mínima, raquítica...
Quebra a força centrípeta que a amarra,
Mas, de repente, e quase morta, esbarra
No molambo da língua paralítica!
____
Augusto dos Anjos em Eu e outras poesias (Martins Fontes, 1994).
sábado, 16 de junho de 2012
Exibição do filme 'Maradona by Kusturica' no Cinemarana
sexta-feira, 15 de junho de 2012
Os Zabumbeiros Cariris fazem show em homenagem a Luiz Gonzaga
Para homenagear o artista pernambucano [Luiz Gonzaga], os Zabumbeiros Cariris fazem seu tributo e reverenciam o mestre e a sua importância para a música brasileira, mostrando a trajetória do filho de sertanejos simples que se tornou um ícone da música nordestina e nacional. (texto da produção do evento)
Luiz Gonzaga de Cabo a Rabo
Show com Zabumbeiros Cariris
Domingo, dia 17 de junho de 2012, 19h
No Largo da RFFSA (Crato-CE).
Gratuito.
.
Embalado pra viagem # 63
Abonança
Andando de mãos dadas
com ela
sentia dores de van gogh
“vamos querida
que nosso amor de playmobil
pode evaporar pro equador
a qualquer momento no espaço.
Assim desse jeito
conseguiremos atravessar o contexto poemático
o cimento do concreto
a multidão na romeirada.”
E quando nos sentávamos
num banco pra brincar
de ciranda
ela me abandonou de vera
como se abandonasse um cachorro
que cai do caminhão de mudanças.
Eu, logicamente, não chorei
quebrei apenas a pata
e me casei com adalgiza
a pessoa mais sem graça do mundo.
____
Ythallo Rodrigues é poeta e cineasta.
.
Andando de mãos dadas
com ela
sentia dores de van gogh
“vamos querida
que nosso amor de playmobil
pode evaporar pro equador
a qualquer momento no espaço.
Assim desse jeito
conseguiremos atravessar o contexto poemático
o cimento do concreto
a multidão na romeirada.”
E quando nos sentávamos
num banco pra brincar
de ciranda
ela me abandonou de vera
como se abandonasse um cachorro
que cai do caminhão de mudanças.
Eu, logicamente, não chorei
quebrei apenas a pata
e me casei com adalgiza
a pessoa mais sem graça do mundo.
____
Ythallo Rodrigues é poeta e cineasta.
.
Exibição de 'Um Corpo Que Cai', de Hitchcock, no Cine Café
Cine Café (com mediação de Elvis Pinheiro)
Exibição do filme Um corpo que cai
Título original: Vertigo
Direção: Alfred Hitchcock
Roteiro: Alec Coppel, Samuel A. Taylor
Elenco: James Stewart, Kim Novak, Barbara Bel Geddes, Tom Helmore
Duração: 128 minutos
Ano: 1958
Países de origem: Estados Unidos
"Detetive descobre que sofre de acrofobia (medo de lugares altos) durante perseguição a um criminoso. Depois de aposentar-se da polícia é contratado por um milionário para vigiar sua bela, gélida e misteriosa esposa. Aí começa uma relação de voyeurismo, desejo e muito suspense do mestre do cinema. Um clássico com Kim Novak e James Stewart."
Exibição no sábado, 16 de junho de 2012, às 17h30
No Centro Cultural Banco do Nordeste Cariri (Juazeiro do Norte). Entrada franca.
quinta-feira, 14 de junho de 2012
No sábado, 'Percursos Urbanos' discute a saúde mental no Cariri
A ideia de loucura foi se modificando ao longo da história e foi deixando as marcas das diferenças pela cidade. Estabelecimentos foram construídos para a prestação de assistência psiquátrica.
Um trajeto com disposição para romper nossos preconceitos e ampliar as discussões sobre a prática da saúde mental no Cariri.Vamos andar pelas ruas e descobrir os limites de nossa própria sanidade. (texto da produção do evento)
Percursos Urbanos
Dizem que sou louco...
Mediadora: Cecília Menezes (Historiadora)
Sábado, dia 16 de junho de 2012, 15h
Saindo do Centro Cultural Banco do Nordeste Cariri (Juazeiro do Norte-CE)
Inscrições na recepção do Centro Cultural. Gratuito.
Assinar:
Postagens (Atom)