sábado, 1 de abril de 2017

Meus 10 melhores filmes de todos os tempos, por Émerson Cardoso



Sessão do (dez)apego: minha lista de filmes preferidos

por Cícero Émerson do Nascimento Cardoso

O Grupo de Estudos SÉTIMA de Cinema, composto por pessoas que tanto amam, como conhecem, esta manifestação artística das mais valorosas, foi um espaço enriquecedor para mim que, leigo no assunto, sempre senti a necessidade de aprender um pouco mais a este respeito.

E houve um exercício instigante, no Grupo, que consistia em sugerir aos integrantes que cada um fizesse uma lista dos seus dez filmes preferidos. Eu, que tendo a gostar destes desafios, resolvi criar a lista da seguinte forma: constariam nela os dez primeiros filmes que me viessem à mente. Para surpresa minha, a lista ficou quilométrica, pois vieram à tona títulos inesquecíveis que eu não poderia desprezar. Os que também amam cinema sabem a que eu me refiro: excluir um ou outro filme parece-nos uma traição imperdoável.

Após um turbilhão de dúvidas, finalmente decidi enumerá-los. Não pela importância, mas pela ordem do antigo para o mais recente. Eis, não sem choro e ranger de dentes, por saber que excluí muitas obras magnânimas, os meus filmes preferidos que pedem passagem nesta simplória, e não muito convincente, lista, em que apresento breves justificativas para a escolha de cada um deles:



...E o Vento Levou (Gone with the Wind, Dir. Victor Fleming, 1939)
Apesar do teor apologético com que trata a condição do homem branco norte-americano, neste filme há personagens femininas inesquecíveis, como Mammy, Prissy, Melanie e Scarlett. Além de ser tecnicamente grandioso, sobretudo para a época, é encantador deparar-se com a anti-heroína Scarlett O’Hara, que é uma das figuras mais emblemáticas da história do cinema por sua densidade psicológica. Ela, desolada pelas consequências da guerra, empreende uma batalha intensa para manter sua propriedade, ao mesmo tempo em que resguarda um amor não correspondido que a impele a realizar atos, por vezes, contrariadores da ordem. Para amenizar seus atos nem sempre adequados às regras estipuladas socialmente, ela afirma: “Amanhã eu penso nisto”.



Cantando na Chuva (Singin’ in the Rain, Dir. Genne Kelly & Stanley Donen, 1952)
Neste filme, consta a cena mais bela, comovente e lírica que já vislumbrei num musical. Apesar das críticas que incidem sobre aspectos específicos do ponto de vista técnico, considero que este filme me causa arrepios e alegrias e bem-estar todas as vezes que o assisto.



Conta Comigo (Stand by Me, Dir. Rob Reiner, 1986)
O filme que, além da excelente trilha sonora, e das atuações e fotografia inesquecíveis, melhor consegue mostrar o quanto uma criança pode sentir-se desvalorizada em suas potencialidades e que, apesar disto, por meio de amigos imperfeitos, mas verdadeiros, é possível repensar a vida e, quem sabe, melhorá-la. Este filme é uma lembrança da época em que a Sessão da tarde nos possibilitava ver filmes que ficaram gravados beneficamente em nosso imaginário.



A Festa de Babette (Babettes gæstebud, Dir. Gabriel Axel, 1987)
Talvez o filme que, até onde conheço, melhor discorra sobre o tema da fraternidade em seu sentido mais amplo. Seja pela temática abordada, seja pelos aspectos técnicos, é uma das obras cinematográficas mais líricas, bem delineadas e belas que já vi. Se um dia todos os filmes do mundo fossem destruídos, e eu pudesse salvar um deles, talvez eu salvasse este, porque ao vê-lo novamente eu poderia voltar a crer que há alguma esperança para o gênero humano.



Tudo Sobre Minha Mãe (Todo sobre mi madre, Dir. Pedro Almodóvar, 1997)
É, dentre as obras de Almodóvar, a que consegue mais me tocar, pelo modo com que as personagens femininas, frágeis, por um lado, e fortes, por outro, são apresentadas. Cores, diálogos, ritmo e atuações são impecáveis!



Central do Brasil (Central do Brasil, Dir. Walter Salles, 1998)
Sóbrio, coerente e de atuações inesquecíveis, neste filme pude constatar que Fernanda Montenegro, com seu olhar expressivo, protagonizou algumas das cenas mais intensas do cinema nacional.



A Professora de Piano (La pianiste, Dir. Michael Haneke, 2001)
A primeira vez que assisti a este filme, numa das salas de exibição mediadas por Elvis Pinheiro, eu tive um choque. Talvez o maior choque que já experimentei ao ver um filme. Um imenso e indescritível choque. Náusea? Estranhamento? Mal-estar? Em verdade, vontade de rever e rever e rever para me torturar com as imagens que a professora de piano, com seu olhar sério, agressivo, rancoroso sempre me proporciona. Isabelle Huppert se tornou minha atriz preferida em língua francesa!



Pecados Íntimos (Little Children, Dir. Todd Field, 2006)
Em língua inglesa, Kate Winslet é minha atriz preferida. Neste filme – e olhe que coleciono os filmes em que ela já atuou – consegui adentrar, como nunca, no universo que esta atriz, por meio de atuações sempre intensas, nos apresenta. A alusão à Madame Bovary, de Flaubert, e a história de amor tão simples que margeia o senso comum dão uma tônica incrível ao filme que em nada é invulgar. Há uma personagem, o pedófilo, que mostra a solidão humana como poucas vezes vi no cinema.



Piaf – Um Hino ao Amor (La môme, Dir. Olivier Dahan, 2007)
Marion Cotillard, ao assumir a responsabilidade de interpretar Edith Piaf – minha cantora preferida –, em filme biográfico, foi responsável pela melhor atuação de todos os tempos, neste gênero cinematográfico. Vai ser difícil alguém conseguir superá-la.



Mary & Max: Uma Amizade Diferente (Mary and Max, Dir. Adam Elliot, 2009)
A amizade, tema explorado em muitas películas, consegue ultrapassar, do meu ponto de vista, todas as expectativas nesta animação que eu considero minha preferida entre as preferidas. Devo confessar, embora isto me constranja, que nunca me foi possível assistir a este filme sem chorar desesperadamente – guarde segredo, s’il vous plaît!


Portanto, só tenho pedidos de perdão a fazer aos demais filmes que amo e que, infelizmente, foram preteridos de minha lista. Este exercício foi interessante, mas representou uma sessão de desapego difícil de realizar. No mais, devo dizer que as histórias apresentadas pelo cinema alteraram, e têm alterado, muito do que sou. Espero que outras pessoas possam se fascinar com a mágica que a obra cinematográfica proporciona. E eu recomendo, sinceramente, que comecem pelos dez que apresento!
____


Cícero Émerson do Nascimento Cardoso: Professor de Língua Portuguesa da Rede Pública de Ensino do Estado do Ceará; graduado em Letras pela Universidade Regional do Cariri; especialista em Língua Portuguesa, Literaturas Brasileira e Africanas de Língua Portuguesa; mestre em Literatura Comparada, pela Universidade Federal da Paraíba; membro do Núcleo de Pesquisa em Estudos Linguísticos e Literários da Universidade Regional do Cariri – NETLLI; membro do Grupo de Estudos e Pesquisa em Literatura e Sociedade Contemporânea - GELISC; membro do Grupo de estudos SÉTIMA de cinema. Autor do livro de contos Breve estudo sobre corações endurecidos (2011), Romanceiro do Norte Juazeiro (2014) e A revolta de Antonina. Publicou os folhetos de cordel A Beata Luzia vai à guerra e A artesã do chapéu (ou pequena biografia de Maria Raquel). Teve poema selecionado para o evento literário realizado pelo CCBNB “Abril para Leitura” em 2012, 2013, 2014, 2015 e 2016. Tem texto publicado pela Revista de Literatura e Arte Boca Escancarada e teve soneto selecionado para antologia do Concurso Chave de Ouro de Sonetos - os Cinquenta Melhores, da Academia Jacarehyense de Letras. Desenvolve trabalhos vinculados à Literatura, Filosofia e Cinema.

Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 36, de outubro de 2016), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.

Textos recentes da Revista Sétima postados no Blog O Berro:
- V de Ideia
- O Que Terá Acontecido a Baby Jane? 
- Meus 10 melhores filmes de todos os tempos, por Elandia Duarte 
- Uma nova amiga, novas possibilidades
- Histórias de nós
- Antes de depois 
- Meus 10 melhores filmes de todos os tempos, por Virgínia Macedo 
- Velhice, memória e anonimato: sobre 'Nebraska', de Alexander Payne

.

Nenhum comentário:

Postar um comentário