segunda-feira, 21 de março de 2016

Adriana Botelho e seus salvamentos



por Elvis Pinheiro

Acabei de desligar o telefone. Conversava com a Adriana Botelho, um bate-papo rico e emocionado de quase meia hora. Planejamos o 6 de outubro neste 7 de setembro. Planejamos outro projeto pra se falar sobre ele noutro momento.

Tudo começou quando decidi que no Coquetel de lançamento da edição número 25 da SÉTIMA faríamos pela primeira vez a exibição de um filme completo. No caso, a exibição programada é de seus dois lindíssimos trabalhos: Couro tecido (2012) e Memória das coisas (2010). Aproveitei para convidá-la para que na exibição, na noite do dia 06 de outubro de 2015, ela pudesse se fazer presente para responder as perguntas do público. Ela tem compromissos de viagem importantíssimos para outubro, mas prometeu agendá-los todos para depois desta data.

Pois bem, penso e falo muito sobre uma ideia minha muito particular de que o gênero cinematográfico onde nós brasileiros temos uma perenidade de produções de alto nível é o documentário. Todos os anos, em festivais de cinema, nos deparamos com documentários incríveis, autorais, emocionantes, de altíssima qualidade, sejam eles curtas ou longa metragens. Os dois filmes da Adriana Botelho são exatamente curtas documentários e trazem à luz três personagens brasileiros, nordestinos, três artistas: Luiz dos Couros, responsável por confeccionar a indumentária do Rei do Baião, Luiz Gonzaga; Mestre Espedito Seleiro, que em Nova Olinda até hoje é responsável por exportar a imagem do Nordeste em bolsas, sapatos e os mais diversos utensílios numa técnica original e artesanal; e por último o poeta nascido na cidade de Ipueiras, Gerardo Mello Mourão, um escritor, infelizmente, pouco conhecido, mas que se tornará imediatamente buscado, pesquisado, lido e citado, graças ao filme da Adriana.

O que a cineasta consegue em seus filmes é chegar na alma dos entrevistados. É nos tornar, os espectadores, próximos dos depoentes, como se fossem eles nossos velhos conhecidos, como se fossem nossos avós e estivéssemos sentados bem atentos ouvindo suas histórias, partilhando de suas lembranças.

O cinema tem uma missão salvadora de registro das práticas e pessoas que compõem a história dos lugares. É um arquivo vivo em forma ficcional ou documental. Quando capturamos a voz, a textura da pele, o ritmo, a cadência, o vocabulário exatos dos personagens ainda vivos, eternizamo-los imediatamente. É um vampirismo do bem, onde quanto mais podemos sugar mais viva estará na lembrança das futuras gerações a pessoa sugada pelo registro cinematográfico.

A Adriana Botelho salvou até agora três almas lindas e continuará fazendo isso com imensa sensibilidade e precisão. O presente aplaude, o futuro agradece.
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Elvis Pinheiro é editor da Revista Sétima e professor. Desde 2003 é Mediador de Cinema no Cariri cearense.

Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 25, de outubro de 2015), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.

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3 comentários:

  1. Sempre emocionante ler o Elvis Pinheiro, e aqui poder relembrar o imenso presente que partilhei junto a amigos e amantes do cinema! Grata!!!!

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  2. Aproveito e informo que os vídeos citados no texto estão disponíveis na página, www.adrianabotelho.com.br

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