
por Amador Ribeiro Neto
No próximo mês serão conhecidos os vencedores do Prêmio Portugal Telecom 2014. Em poesia foram 172 livros inscritos. Para a semifinal ficaram 22. E pra final, 4.
A premiação passa por três etapas. A primeira é formada por 300 profissionais do meio literário e elege 60 livros: vinte em cada uma das três categorias – romance, poesia, conto/crônica.
A segunda, por seis jurados mais os quatro curadores. Ela elege os doze livros finalistas. Na terceira e última etapa o júri, com a mesma composição anterior, escolhe o vencedor de cada categoria.
Os curadores são Cintia Moscovich (contos e crônicas), Lourival Holanda (romance), Sérgio Medeiros (poesia) e Selma Caetano (coordenadora). Os jurados: João Cezar de Castro Rocha, José Castello, Leyla Perrone-Moisés, Luiz Costa Lima, Manuel da Costa Pinto e Regina Zilbermann.
Dentre os 22 livros de poesia da segunda fase do concurso não entendo como foi possível figurar entre eles Ligue os pontos, poemas de amor e big bang de Gregório Duvivier; O aquário desenterrado de Samarone Lima; Quadras paulistanas de Fabricio Corsaletti; Rabo de baleia de Alice Sant’Anna e Rua da padaria de Bruna Beber. Todos, sem exceção, adeptos da poesia palatável, cheia de lugar comum. E torpe.
Por outro lado, senti falta de títulos como Bernini de Horacio Costa, A galinha e outros bichos inteligentes de Ronald Polito, Recife, no hay de Delmo Montenegro, Corpos em cena de Susanna Busato, Via férrea de Mário Alex Rosa, Diálogos e sermões de Frei Eusébio do Amor Perfeito de Mafra Carbonieri, O choro da aranha de Sérgio Medeiros, Exília de Alexandre Marino.
Todavia, gostei de reencontrar Adélia Prado com seu belo Miserere, Chico Lopes com Caderno provinciano e Luis Maffei com Signos de Camões.
E, claro, gostei inteiramente da lista dos 4 finalistas: Ximerix de Zuca Sardan; Vozes de Maria Luíza do Amaral; Brasa enganosa de Guilherme Gontijo Flores e Observação do verão seguido de Fogo de Gastão Cruz.

Ele rompe as fronteiras dos gêneros literários ao misturar poesia com drama, HQ com publicidade, música popular eletrônica com erudita. No mesmo caldeirão, junta o vanguardista Mallarmé com as sextilhas dos versos populares. Marx e Chaplin, Eisenstein e Fellini. Nonsense com crítica social didática. Ante sua feroz e ferina inventividade poética o riso vai do chiste ao chulo, num pulo. Carnavaliza o pensamento e a linguagem. Trapaceia com a língua e a literatura de plantão. Desmonta o mise en scène das caras e bocas patricinhas da poesia contemporânea. Sem dó. Com todo gás.
Resumo da ópera: Ximerix é um dos livros mais gostosos de se ler dos últimos anos. E dos mais criativos da nova poesia em língua portuguesa. Merece o Telecom de poesia, sem dúvida alguma.
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Amador Ribeiro Neto é poeta, crítico literário e de música popular. Doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Professor do curso de Letras da UFPB.
Publicado pelo jornal Contraponto, de João Pessoa-PB. Caderno B, coluna “Augusta Poesia”, dia 17 de outubro de 2014, p. B-7.
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