sábado, 9 de janeiro de 2016

Perspectivas do Alheio – 01 ano



por Harlon Homem de Lacerda

Esta semana deveríamos tratar de “Dão-lalalão (o devente)”, a penúltima estória do Corpo de Baile de João Guimarães Rosa. A estória tem ciúmes, tem racismo, tem uma tensão construída num enredo espiralado num sertão de matadores e mulheres da vida saídas da vida e com uma morte sempre a espera. Mas nem vamos falar tanto de Soropita, o matador. Seu azar foi ter caído numa corrente de tempo que marca outra coisa que desejamos falar com mais atenção: a coluna perspectivas do alheio completou um ano no dia 30 de dezembro de 2015. Em um ano, falamos de várias narrativas com nosso olhar alheio a outras perspectivas mais tradicionalistas e iguais.

Começamos por Chico Buarque e seu Irmão alemão, entramos numa velha estória nova e bem inovadora na maneira de narrar e reconstruir a história através da estória, da ironia, do riso por trás das letras. A “reinvenção do tempo” de Chico Buarque foi nossa porta de entrada aqui no O Berro e nossa primeira tentativa de estabelecer um contato mais ameno com a crítica não especializada. Então aprofundamos o mergulho, num suspiro só entramos em Goethe, n’Os anos de aprendizado de Wilhelm Meister e gostamos, gostávamos do que estávamos fazendo, com uma leitura que se quer desprendida, mais livre. Entramos com nossa perspectiva sem querer nada e fomos escrevendo. Resvalamos em Guimarães Rosa uma primeira vez, com “A hora e vez de Augusto Matraga”; tratamos de uma teoria de leve para localizarmos nossa perspectiva para que nos lia; Não lemos Dom Quixote e falamos sobre isso; Laurence Sterne, Clarice Lispector, Dr. Raiz, Machado de Assis, José de Alencar até chegarmos de centro e de pronto em João Guimarães Rosa, mais uma vez de uma vez por todas.

Todos os autores e textos e teorias dos quais tratamos nesta coluna formam uma espécie de cânone em nosso imaginário ficcional e quando digo nosso me refiro ao autor desta coluna. Todos eles marcaram e marcam a nossa formação intelectual e artística com grande força e vontade de determinação subjetiva e objetiva. Nosso interesse em tratar sobre ficção narrativa é o interesse na vida e no mundo como topos de beleza e sentimento e ação e força vital. É com grande alegria, pois, que escrevemos essa coluna e esperamos que algumas pessoas leiam-na. Gostaríamos, é verdade, de maiores diálogos com os leitores, saber o que acharam de cada texto, de ver no que estamos pecando, acertando, agradando enfim. O certo é que esta coluna tem sido um prazer e um dever com expectativa do devir permanente e de um mundo não alheio à arte e a literatura. (para ler os textos da coluna Perspectivas do Alheio, clique aqui)

Agradeço ao Berro, principalmente a Luís André, que às vezes recebe os textos em cima da hora e tem a delicadeza em publicá-los. Meu muito obrigado pela amizade de sempre, a Luís André, Ythallo, Hudson, Reginaldo e Fredson. Obrigado, meus amigos! E obrigado aos leitores e leitoras sejam vocês quem forem.

Inclino-me a terminar a coluna desta quinzena copiando a saudação de Rosa em suas cartas. No nosso próximo encontro, trataremos do “Buriti” e encerraremos o Corpo de Baile. Assim, deixo

Um abraço
Do sempre vosso,
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Harlon Homem de Lacerda é Mestre em Letras pela UFPB e Professor de Literatura Brasileira da Universidade Estadual do Piauí (UESPI - Oeiras). E-mail: harlon.lacerda@gmail.com.


Outros textos da coluna “Perspectivas do alheio” no blog O Berro:
- Dossiê João Guimarães Rosa: ‘Corpo de Baile’ – Jiní
- Dossiê João Guimarães Rosa – Cara-de-bronze: ‘Duas coisas’
- Dossiê João Guimarães Rosa: ‘Corpo de Baile’ – Conta quem conta
- Dossiê João Guimarães Rosa: ‘Corpo de Baile’ – O vaqueiro minino
- Dossiê João Guimarães Rosa: ‘Corpo de Baile’ – A criança paradigma
- Dossiê João Guimarães Rosa – Seguindo a travessia
- Dossiê João Guimarães Rosa: ‘Sagarana’ – Ruminando
- Dossiê João Guimarães Rosa: ‘Sagarana’ – Corpo Fechado
- Dossiê João Guimarães Rosa: ‘Sagarana’ – Toda crença tem seu santo
- Dossiê João Guimarães Rosa: ‘Sagarana’ – Minha Gente

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