terça-feira, 26 de maio de 2015

Dossiê João Guimarães Rosa – A travessia do mundo todo



por Harlon Homem de Lacerda

Nesta coluna já tratamos de alguns temas e autores e obras de diferentes épocas e lugares, mas num e noutro texto nós sempre nos voltamos para um autor, que nos é muito caro; falamos, inclusive, do conto “A hora e vez de Augusto Matraga” desse tal autor. A partir de agora nós iremos propor uma viagem, uma travessia pela obra dele. Nos próximos textos, iremos nos voltar exclusivamente para a ficção de João Guimarães Rosa. Um escritor tão comentado nos últimos setenta anos, mas que vive numa espécie de ninho muito particular, quase isolado.

Alguém já viu algum outro escritor brasileiro que se autoproclamasse herdeiro de Rosa? Podemos perguntar ainda: em que lugar da História da Literatura Brasileira a obra de Guimarães se enquadra? Terceira fase do Modernismo? Sério? Nós desconfiamos tenazmente de uma incompreensão quase absoluta misturada a um entendimento superficial e prepotente da obra de Guimarães, o que fez com que sua obra fosse sempre alcunhada de “difícil”, “complexa” ou “linda” – por vários leitores e críticos.

Nosso objetivo, portanto, não é entender Guimarães Rosa, mas apresentar sua obra de forma limpa, sem rótulos simplificadores, sem pressuposições apriorísticas, sem enquadramentos castradores e aliciadores. Nós queremos ler Guimarães Rosa linha por linha junto com vocês. Para isso seguiremos uma linha de leitura disposta da seguinte maneira:

1. Inicialmente leremos os contos do livro Sagarana, publicado em 1946. A primeira obra de ficção narrativa publicada por Guimarães. Um livro que estarreceu a crítica por conta de sua originalidade. Cada coluna será dedicada a um conto esse livro: começando por “Burrinho pedrês” e indo até “Conversa de Bois”, pois “A hora e vez de Augusto Matraga” já tratamos aqui.

2. Depois leremos as novelas de Corpo de Baile, publicado em 1956. Pra mim, se me permitem, este é o livro que carrega uma das estórias mais bem construídas de Guimarães Rosa. Começaremos por esta estória: “Campo Geral” e seguiremos até “Buriti”.

3. Em seguida é a vez do Grande Sertão: veredas, publicado em 1956. Dos livros do mundo que não se pode deixar de falar uma “veizinha” pelo menos durante toda a vida.

4. Voltaremos pros contos em Primeiras Estórias, publicado em 1962.

5. Iremos pra Tutaméia – terceiras estórias de 1967.

6. Entraremos depois nas rosas póstumas de Estas estórias (1969), Ave, palavra (1970) e Antes das primeiras estórias (2011).

Será um ritmo de leitura lento. Leremos conto a conto, página a página. No meio do redemoinho, encontraremos o diabo na rua do Grande Sertão: veredas. Não esquartejaremos o livro em várias colunas, mas prometemos uma coluna especial para ele. No fim das contas, toda essa travessia é especial, será especial pra quem vier conosco. O sertão de Guimarães Rosa é o mundo, mas é um mundo vivo, pulsante, grande, além dos limites da terra, da alma e do coração.

Este é o nosso convite. É uma travessia longa, mas é a vontade objetiva que nos guia. Seja bem-vind@!
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Harlon Homem de Lacerda é Mestre em Letras pela UFPB e Professor de Literatura Brasileira da Universidade Estadual do Piauí (UESPI - Oeiras). E-mail: harlon.lacerda@gmail.com.

Outros textos da coluna “Perspectivas do alheio” no blog O Berro:
- Regionalista?!
- Vixe Maria! 
- Tempo e Espaço
- A cuspida de Dona Anita
- Alguém aí já ouviu falar de Laurence Sterne?
- Por que eu não li Dom Quixote?
- Perspectivas do alheio
- A hora e a vez
- Quantas vidas cabem numa semana?
- Reinvenção do tempo.


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