sábado, 2 de maio de 2015
'Caindo no Ridículo', um filme de Patrice Leconte (1996)
por Elvis Pinheiro
Assisti Caindo no Ridículo à época do seu lançamento, em 1996, na sessão de arte do antigo Cine Veneza, de minha saudosa Recife. A sessão de arte do Veneza acontecia sempre às segundas-feiras, no último horário, às 21 horas. Era um sufoco para mim que morava distante e o último ônibus de volta pro meu bairro passava às 23h30. Mas aproveitei todas as sessões que pude durante o tempo que este cinema resistiu. Há muito tempo ele não existe mais.
Começo a falar sobre o filme a partir do seu local de exibição, porque o diretor Patrice Leconte produz filmes desde 1976 com bastante regularidade, e muitos deles com enorme sucesso de público e crítica. Bem antes deste filme, em 1990, ele nos deu o também excelente O Marido da Cabeleireira. Mas só assisti no cinema Caindo no Ridículo, A Mulher e o Atirador de Facas e A Viúva de Saint-Pierre, de 2000. Existem pelo menos dez filmes depois deste último que foram feitos por ele e que não possuíram distribuição em nosso país, nem nos cinemas, nem em DVD. E eu só posso pensar que essa lacuna se dê exatamente porque faltem mais cinemas com sessões de arte que garantam o espaço de exibição destes filmes e que garantiriam as negociações posteriores dos mesmos títulos para o mercado de locação.
Caindo no Ridículo se passa no reinado de Luís XVI, em 1780, pouco antes da Revolução Francesa, portanto. Nele, vemos a tentativa de um nobre do interior do país que tenta conseguir verbas para obras de drenagem nos pântanos de sua região que causam muitas doenças nos ribeirinhos. Este nobre dirige-se, então, para a Corte e tenta uma audiência com o Rei. Lá, descobre que para conseguir algum favor de Sua Alteza ele não tem que possuir apenas boas ideias e boa argumentação, ele tem, principalmente, que se sair muito bem nos círculos sociais, conseguindo dizer coisas engraçadas e «de espírito», e jamais se deixar alvo de piadas, quer dizer, nunca cair no ridículo com a pena cabal de nunca mais ter nenhuma atenção para algum de seus projetos.
Excelente reconstituição de época, o filme ainda possui duas belas mulheres: uma cortesã experiente e ardilosa, interpretada por Fanny Ardant, e uma jovem cientista que escolhe não casar com um homem rico, mas com alguém que verdadeiramente ame.
Dezoito anos depois, a Mostra 21 é responsável por uma segunda chance de esse filme ser visto no cinema e tornar-se conhecido pelo público. A criação e manutenção de espaços alternativos de cinema ainda é tarefa de resistência e ativismo cultural. O filme continua vivo através do cinema. O Cine Veneza deu-me este presente em 1996 que pude, finalmente, dividir em 2014 com a população caririense. O filme trata de atos políticos de transformação saudável da sociedade. O espaço para o cinema alternativo acompanhará sempre a necessidade dessa mesma luta.
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Elvis Pinheiro é editor da Revista Sétima e professor. Desde 2003 é Mediador de Cinema no Cariri cearense.
Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 18, de 07 de maio de 2014), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.
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