por Luís André Bezerra
A construção fílmica apresenta uma montagem criativa (por vezes lançando mão da ironia), discorrendo sobre diversos aspectos das atuações (nem sempre ou quase nunca éticas) das grandes marcas que movimentam uma quantia incalculável de dinheiro. E a grande sacada da produção parece estar na discussão da relação entre a «pessoa física» e a «pessoa jurídica» (esta atribuída às corporações). O filme questiona: se as empresas sempre defende(ra)m ter os mesmos direitos que as pessoas físicas, por que geralmente a elas não se cobram os deveres geralmente exercidos pelos cidadãos?
Seguindo essa premissa, os diretores também apresentam uma comparação: se a corporação quer se assemelhar a uma «pessoa física», como seria essa pessoa? Ela estaria atualmente sofrendo de algum distúrbio? O diagnóstico apresentado é claro: a «corporação-pessoa» sofre de psicopatia. Na sua atuação está demonstrada a incapacidade de possuir o básico que qualquer cidadão deve exercer: responsabilidade ética e social. A corporação-modelo, digamos assim, apresenta um único (ou primordial) propósito na sua atuação: obter lucro para seus proprietários e acionistas.
O filme possui dezenas de depoimentos e relatos que buscam desvendar o que há por trás das ações de diversas corporações ao longo do tempo, inclusive em determinados momentos históricos: como a aproximação costumeira das grandes empresas com regimes autoritários e até o pensamento dos mineradores durante a queda das Torres Gêmeas, no 11 de setembro: «boa notícia, o preço do ouro vai subir». Outras questões, como o poder de persuasão do marketing e a total falta de preocupação com o meio ambiente, são aspectos debatidos num documentário com mais de duas horas de duração.
A Corporação foi lançado há mais de 10 anos, mas a discussão proposta parece ser cada vez mais atual, levando-se em conta que a «sustentabilidade» foi bastante discutida no filme — recomendando que esta deixe de ser um mero discurso de empresários que posam de «responsáveis e protetores do planeta», para ser um compromisso social das empresas perante as sociedades — e de lá pra cá tal assunto tem sido cada vez mais relevante. Assim como a urgência pela prestação de contas das corporações, pelo grande prejuízo ambiental, político e social que vêm causando desde o século XIX.
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Luís André Bezerra é doutor em Letras pela UFPB, professor (substituto) do Curso de Letras da URCA e integrante da equipe do blog O Berro.
Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 18, de 07 de maio de 2014), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.
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