sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Uma promessa quebrada



por Hudson Jorge

Eu havia prometido, aliás, jurado de que nesse pleito de 2014 eu não me meteria em discussões sobre candidatos e programa de governo, principalmente, se fosse com pessoas com quem não tenho grande contato. Caso entrasse, não me prolongaria tanto e nem defenderia ardentemente nenhum ponto de vista pessoal. Mas, ontem, a promessa foi quebrada.

Visitava uma loja onde já sou cliente há mais de um ano. Quando estava prestes a sair, aparece a dona, uma sexagenária senhora que se veste como uma mocinha de 23 anos, com dois panfletos na mão, saltitante feito uma gazela sobre seu salto tamanco, num misto de êxtase cantarolada com deboche, a disparar em minha direção: “Tá aqui meu fí, minha candidata! Essa sim é a mulher que vai comandar o Brasil. Não vai ser feito essa outra que ta aí”.

Sabe como quando alguém leva uma pancada e reage automaticamente com outra? Então, perguntei-lhe se ela realmente acha que quem manda de fato no país é um presidente. Dentro de meus limitados conhecimentos sobre o sistema político e governamental, argumentei que os verdadeiros donos do país são os financiadores de campanha, os banqueiros e os latifundiários e que, no final das contas, o que faz a diferença entre um e outro candidato é como o seu grupo político vai transitar e gerir o país, estado ou município dentro dessa situação de pseudo poder.

Tentei explicar a ela que não adianta mudar de presidente se um partido antigo acolá (que considero ser o grande mal desse país) que hoje tem as maiores bancadas no congresso, vai conseguir reeleger novamente um enorme número de parlamentares. E que, na verdade, a banda toca de acordo com a vontade desses velhos políticos que permanecem no poder geração após geração, ou seja, desde os tempos do vovô; que os altos juros dos financiamentos que ela vem pagando são ditados por grupos econômicos e não por presidentes e que muitos desses parlamentares estão a serviços desses tais grandes grupos econômicos.

Pra aliviar o clima de guerra que estava prestes a se gerar, argumentei que meu voto, nesse primeiro turno, não vai contemplar nenhuma das grandes principais candidaturas, pois acredito que fórmulas alternativas viriam a calhar nesse momento que o mundo enfrenta grandes crises provocadas por grandes secas, por altos índices de poluição, por falta de políticas que valorizem o potencial criativo e produtivo do ser humano. Enfim, que nesse primeiro turno meu voto não vai pra Dilma, Marina ou Aécio.

Bebi um copo d’água. O que eu considerava uma conversa apaixonadamente esclarecedora, passou a se tornar uma espécie de dedo armado para acionar o botão de uma mega bomba.

A senhorinha botou a culpa de todas as mazelas empresariais dela no partido que está no poder, disse que seus funcionários agora eram relaxados e a última que largou o emprego jogou na cara dela que era melhor viver de Bolsa Família do que se matar de trabalhar em sua empresa.

Tá certo, então. Depois dessa, caí em mim, como que retornando de um momento de transe ou acordado de um sonho repentinamente no meio de uma noite escura. Olhei para o relógio e vi que havia perdido preciosos 20 minutos da minha vida.

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