sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

'Lawrence da Arábia' na Revista Bravo! Especial 100 Filmes Essenciais



Do papel # 23

Texto da Revista Bravo! com os (pela revista considerados) 100 filmes essenciais da história do cinema. Clique na imagem abaixo para ampliar a página da revista. 
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Lawrence da Arábia - David Lean
Revista Bravo! Especial 100 Filmes Essenciais da História do Cinema (3ª edição, 2009)

Épico ambientado no deserto explora, na forma de espetáculo, os limites do indivíduo alçado à estatura de herói

Se há um sinônimo para cinemão, este foi durante anos identificado com os filmes de David Lean. O aumentativo se justifica pelo completo domínio das narrativas de dramas épicos, no uso recorrente do formato cinemascope, pelo apuro visual de tirar o fôlego (era capaz de esperar dias por um pôr-do-sol perfeito) e pela longa duração de seus filmes.

Lean já era um veterano de histórias fascinantes (como Desencanto, de 1945, e as duas adaptações de clássicos de Charles Dickens — Grandes Esperanças, de 1946, e Oliver Twist, de 1948) quando, na década seguinte, só confirmou sua habilidade em produzir espetáculos, como A Ponte do Rio Kwai, de 1957.

Ao longo dos cinco anos seguintes, o diretor entregou-se à difícil tarefa de traduzir em imagens as reflexões existenciais e políticas do escritor T. E. Lawrence, oficial que liderou as forças britânicas em combates contra a Turquia durante a Primeira Guerra Mundial e deixou suas memórias da experiência registradas Os Sete Pilares da Sabedoria.

Desde sua publicação, em 1922, o relato chamou a atenção de diretores, que viam nele um heroísmo singular cujas dimensões o cinema poderia amplificar. Ciente disso, Lean filmou a história sem perder de vista nem o indivíduo nem a magnificência das paisagens do deserto, dosando na medida o volume de ação e o de reflexão e entregando ao público uma experiência visual que só na arte cinematográfica é possível.

No início, conhecemos o personagem (interpretado por Peter O'Toole) ainda jovem, mas decaído fisicamente ao fim de uma dura campanha no deserto. No Cairo, ele recebe como missão partir ao encontro do prinícipe Faissal (Alec Guinness) e verificar a situação de uma revolta tribal na Arábia. No caminho, ele é abordado por um rebelde, Sherif Ali (Omar Sharif), que, hostil a princípio, acaba se transformando em seu principal aliado na tarefa de reunificar os árabes.

Com uma estrutura em episódios, o diretor consegue transmitir as ambiguidades do heroísmo do protagonista, envolvido em lutas sangrentas nas quais emerge sua consciência do grau de interferência do colonialismo na autonomia de outros povos.

Indicado a dez categorias do Oscar em 1963, o filme terminou a cerimônia com sete prêmios, entre eles o de Melhor Filme e Direção.
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Colonialismo forja imagem do oriente

A aura de herói que acompanha a imagem de T. E. Lawrence deriva dos relatos de seus feitos militares e dos enfrentamentos contra valores interpretados como 'bárbaros', com o objetivo de construir um império com base em ideais da 'civilização'.

Produto já do período do declínio da Grã-Bretanha como potência imperial, Lawrence reflete a visão consagrada do homem ocidental e branco sobre outras raças e credos, sobretudo os árabes e muçulmanos.

Apesar de resultar de uma vivência pessoal, em seus escritos se reproduz o que o pensador Edward Said chama de orientalismo, conjunto de ideias formadas a partir de estereótipos de exotismo, que nada mais são do que efeitos de um olhar externo e que constituíram, para nós, uma imagem dos povos orientais.

Além disso, muito se questiona se os relatos memorialísticos de Os Sete Pilares da Sabedoria não passam de mistificação e se os textos de Lawrence não devem ser lidos como ficção de um autor que forjou a própria lenda de um herói.

Lawrence da Arábia / Lawrece of Arabia
Diretor: David Lean
Estados Unidos e Inglaterra (1962).
Bravo! Especial - 2009

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