Crisóstomo era uma pessoal legal. Tinha vários amigos e tocava numa banda de rock, a mais conhecida de sua cidade. Com ela já viajara por vários cantos do Nordeste, só não havia ido ainda para a cidade do Recife.
Tinha o desejo de conhecer a capital pernambucana, de preferência durante o Carnaval. Até que um dia realizou seu sonho, integrando uma excursão com um grupo de amigos. A emoção era grande demais, pois o sonho estava sendo realizado na companhia de bons companheiros, amigos de infância.
Chegaram lá logo na sexta-feira pela manhã, e a primeira providência foi reabastecer com cerveja e cachaça a caixa de isopor que esvaziara durante a longuíssima viagem de quase dez horas de duração.
A galera que já havia chegado calibrada praquele carnaval, rumou direto pra Olinda, e lá encheu o toba de cana. Crisão, como também era conhecido, ia embalado e iludido, naquela euforia costumeira de todo folião de primeira viagem que se lasca naquelas ladeiras íngremes.
Voltaram pra Recife “cheios do pau”. A turma brincou e dançou junta a noite toda, até o momento em que Crisão se despediu — tinha se enroscado com uma foliã recifense que prometera revelar àquele jovem mancebo todos os mistérios carnavalescos da cidade. Perderam-se na noite.
A turma empreendeu viagem de volta à casa que estava servindo de pousada. Era necessário dormir algumas poucas horas pra poderem encarar novamente o sobe e desce de Olinda.
Acordaram e notaram que Crisão ainda não havia voltado. Preocupados, ligaram para seu celular que acusou estar fora de área. Chegaram à conclusão que ele podia estar, oxalá, na companhia da tal garota.
Sem Crisão, foram pra Olinda. De repente o celular de um deles toca e ouve-se uma voz trêbada, que de um telefone público tenta falar:
- Alôu, zou eu, Crixóstomo! Izdou berdito!
- Como é? E cadê a menina?!?!
- Zei lá, ome... Acho que me largou por aí...
- E onde você está?
- Zei lá... faça pregunta difícil não! Tô berdito, ome...
Depois de quase cinco minutos de uma conversa bagunçada, conseguiram arrancar de Crisão um ponto de referência: “Iztou aqui, perto de um galo! Um galo gigante!”
Pensaram, pensaram e pensaram e chegaram à conclusão que Crisão havia sido largado no meio do bloco do Galo da Madrugada. De imediato chamaram táxi e partiram pro local onde estava o bloco. Procuraram em vão por mais de três horas.
Crisão liga novamente: “Como é zeus porra! Ôceis num vem me buscar, não?! O ome vai fechar as portas e eu vou ficar na rua!”
“Ome, Crisão, e onde é que tu tá, rapaz! Já procuramos você por todo o bloco!”
“Bloco, que bloco?!?! Tão ficando doido, é?”
Crisão se irrita e começa a brigar com seu interlocutor que, num ato heroico de paciência, consegue convencê-lo a passar o telefone pra alguém: “Eu vou zchamar o dono!”
Sem entender, aguardaram alguns segundos até a chegada de um homem, com voz apressada e rouca. Explicaram a situação e o homem se dispôs a ajudar fornecendo o endereço:
Rua Pedro Pedreiras, s/n. Ponto de referência: Frango Assado do Joel.
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