quarta-feira, 29 de julho de 2015
‘Adaptação’: da literatura para o cinema
por Alexsandro Cavalcante
Preciso admitir que tive de recorrer a outras fontes para entender esse confuso e brilhante filme. Dirigido por Spike Jonze e com o roteiro de Charlie Kaufman, Adaptação é um filme de 2002 bem ao estilo dessa dupla, a mesma do grandioso Quero Ser John Malkovich, onde encontraremos elementos comuns aos dois filmes, como questões que envolvem realidade e ficção, sexualidade, sucesso, Hollywood, entre outros. Tudo isso reunido nas mentes de seus personagens protagonistas.
Pois bem, o filme conta a história do roteirista Charlie Kaufman, o mesmo roteirista real do filme Adaptação, interpretado sensacionalmente por Nicolas Cage, que também interpreta o irmão gêmeo de Charlie, Donald Kaufman, esse sim personagem fictício e de personalidade totalmente oposta à do seu irmão.
Charlie é considerado um roteirista brilhante, porém sempre depressivo e tímido, fazendo com que tenha um péssimo relacionamento com as pessoas ao seu redor. Depois do sucesso de Quero Ser John Malkovich, ele é contratado para adaptar para o cinema o livro O Ladrão de Orquídeas, da jornalista Susan (Meryl Streep), sobre John Laroche (Chris Cooper), um ambientalista e ladrão de plantas raras, porém Charlie passa por uma crise de inspiração que atrapalha o desenvolvimento do roteiro do filme.
Toda essa trama acontece unindo elementos reais e fictícios, o que por vezes pode confundir um desatento espectador. Além de Charlie Kaufman, a jornalista/escritora Susan e o ambientalista Laroche existem de verdade, como também o livro O Ladrão de Orquídeas, porém Kaufman, em uma verdadeira lição de adaptação cinematográfica, consegue criar um confuso, intrigante e surpreendente filme, a tal ponto de creditar também ao seu irmão fictício, Donald Kaufman, parte do roteiro.
Adaptação também permite adentrar um pouco nos bastidores de uma produção cinematográfica de Hollywood, seus clichês, sua visão comercial e, entre outros aspectos, uma discussão a respeito do processo de adaptação de uma obra de literatura para uma obra de cinema, discorrendo sobre a necessidade de o roteirista ter sua própria visão e recriar uma história a partir do livro.
Uma curiosidade não tão comum assim no cinema é que Kaufman é um dos raros casos em que o roteirista consegue mais destaque que o diretor, não excluindo a participação necessária de Spike Jonze para o sucesso do filme, mas relevando com méritos o dramático, cômico, mas acima de tudo inteligente roteiro de Adaptação.
____
Alexsandro Cavalcante é assistente social, militante de esquerda, filósofo de boteco e embora não se considere poeta, teve poemas seus selecionados para o evento literário realizado pelo Centro Cultural Banco do Nordeste - CCBNB “Abril para Leitura” em 2012 e 2013.
Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 20, de novembro de 2014), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.
.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário