terça-feira, 12 de agosto de 2014

'Batman': Tim Burton (1989) vs. Christopher Nolan (2005)



por Yhago Shalys

Depois do grande sucesso nos anos 70 do filme Superman, que foi a primeira adaptação para a telona da história em quadrinhos criada por Jerry Siegel, começou a se processar a ideia de uma segunda adaptação, a do Homem Morcego.

Nessa época estava começando uma nova era no cinema, trazendo consigo as produções com grandes orçamentos, publicidade em massa, grandes astros e roteiros baseados em ação/aventura, os famosos blockbusters ou "arrasta-quarteirões".

Tim Burton, com dois sucessos no currículo, mas sem muita experiência em filmes de ação, foi o escolhido para dirigir Batman, O Filme. As sequências de ação acabaram sendo, sim, o ponto fraco compensado pelo aspecto visual, que apresentava a cidade de Gotham negra e misteriosa, casando bem com o estilo já gótico do realizador.

A escolha do ator para interpretar o protagonista recaiu sobre Michael Keaton, um sujeito sem muitas relações fisionômicas com o herói das HQs. Quem se destacou no filme foi seu principal inimigo, o Coringa. O vilão foi alvo de uma concepção muito complexa e personalizada, que lhe permitiu roubar o status de protagonista do próprio herói do filme. A excepcional atuação de Jack Nicholson no papel do Coringa enalteceu o vilão de uma forma extraordinária. Os créditos foram atribuídos, em grande medida, a Tim Burton, que soube oferecer ao personagem os cenários ideais para que este se sobressaísse.

Depois do sucesso alcançado com o primeiro, e mantendo Michael Keaton como o herói e Tim Burton na direção, surge Batman, O Retorno, três anos depois. O orçamento de 80 milhões de dólares arrecadou três vezes mais esse valor. É um filme bonito, feito com o que havia de melhor de tecnologia da maquiagem aos grandes efeitos especiais (ambos indicados ao Oscar). Mais uma vez os vilões despertaram mais interesse do que o canastrão Michael Keaton em sua roupa emborrachada cheia de enchimentos. Danny DeVito criou um Pinguim asqueroso, uma criatura bizarra: manipuladora, egocêntrica, carente e interesseira, ávida por sair dos esgotos e ganhar seu espaço e poder na sociedade. Ao seu lado, a Mulher-Gato, sensual e sádica, interpretada magistralmente por Michelle Pfeiffer, ofuscou por completo o herói.

A falta de ênfase nas origens do Batman de Burton veio a ser corrigida em 2005, com o diretor Christopher Nolan, em Batman Begins. Nolan não apenas ressuscitou o personagem, mas as possibilidades de uma franquia milionária. A grande diferença em relação aos filmes anteriores, é que Batman Begins possui foco objetivo da trama, bem aproveitada, com o roteiro de David Goyer em parceria com o diretor. Mesmo com instintos humanos mais sombrios, Christian Bale personificou muito bem o personagem, transformando isso em algo positivo.

A continuação veio três anos depois com Batman, O Cavaleiro das Trevas. Assim como aconteceu no Batman de Tim Burton, os holofotes se voltaram para a excepcional atuação do vilão, tendo Heath Ledger no papel do Coringa.

Falando no Coringa, é necessário dizer que a criação de Ledger supera a de Jack Nicholson no primeiro longa-metragem, o de 1989, e se confirma como o grande vilão enfrentado pelo herói no cinema, superior até ao Pinguim imortalizado por Danny DeVito em Batman Returns. Não seria exagero dizer que a concepção de Ledger faz com que o Coringa já se insira entre os grandes vilões de toda a história do cinema. Suas motivações e seus rompantes de sarcasmo o transformam num ser que provoca, nem que seja por míseros e inconscientes segundos, um pouco de simpatia no espectador. É um grande mérito desse ator espetacular, que nos deixou justamente após nos entregar sua melhor representação nas telas.

Quatro anos depois, Nolan fecha sua trilogia com Batman, O Cavaleiro das Trevas Ressurge. Mantendo a coerência na atmosfera sombria e fatalista nos três filmes, Christopher Nolan encerra sua incursão ao universo de Batman como começou: demonstrando que um longa-metragem baseado em super-heróis pode ser adulto, investir no realismo e representar um passatempo escapista sem, com isso, desrespeitar a inteligência de seu público.

E como o cineasta ainda consegue deixar a porta aberta para possíveis continuações, mesmo sem deixar no espectador a sensação de algo inacabado, é possível o aparecimento de mais um filme. Torçamos apenas para que o próximo a assumir a franquia compreenda que o que a tornou novamente viável foi a abordagem ambiciosa e madura de seu antecessor. 
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Yhago Shalys é músico, poeta, colecionador e estudante de Psicologia.

Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 13, de 04 de dezembro de 2013), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.

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