terça-feira, 29 de abril de 2014

'Minha mãe' (Ma mère), filme de Christophe Honoré



por Cícero Émerson do Nascimento Cardoso

Ma Mère (Minha mãe). Direção de Christophe Honoré (França, 2004, 110 minutos). Produção: Paulo Branco e Bernard-Henry Lévy. Elenco: Isabelle Huppert, Louis Garrel, Emma de Caunnes e Joana Preiss.

Contundente? Excedente e de forte teor apelativo? Imoral, indecente e pervertido? Muitos questionamentos (ou insatisfações pautadas em juízos de valor falso moralistas?) sobre a obra cinematográfica francesa, do diretor Christophe Honoré instiga. Ma Mère (Minha Mãe), baseado no livro de mesmo título de Georges Bataille, não parece agradar de fato a olhares mais ortodoxos.

No elenco, Isabelle Huppert e Louis Garrel dão vida, respectivamente, à Hélèna (a Mãe) e Pierre (o Filho). No enredo, Pierre vê na mãe um objeto afetivo para além da relação materna típica de uma família tradicional e, em decorrência disso, vive a angústia: como lidar, no auge dos seus 17 anos, com a sensação de culpa que traz em si por devotar à sua mãe, também eroticamente, um intenso amor?

Pierre fora criado pelos avós e, após a morte destes, reencontra a mãe num momento cruciante de sua vida. Incertezas, sensação de desamparo e carência afetiva o conduzem, talvez inconscientemente, a buscar nos pais o afeto que estes lhe negaram em sua infância. Em seguida ao seu retorno à casa dos pais (um filho pródigo às avessas?), seu pai também morre. Resta-lhe, portanto, na figura materna a possibilidade de reencontrar o afeto que lhe fora recusado outrora. Ante tantas perdas, a mãe passou a representar-lhe segurança e proteção – sua visão, no entanto, não correspondia à realidade: sua mãe era dada a condutas pouco arquetípicas do que se convencionou, socialmente, para uma mãe. As atitudes de Hélène eram antípodas a tudo o que Pierre idealizava – ela, no entanto, fez com que ele a acompanhasse em suas saídas noturnas para que, assim, se o filho a quisesse amar, a amasse por aquilo que ela de fato era. Hélène tenta desconstruir no filho a visão idealizada que ele construíra, como podemos perceber por suas palavras extremamente (não) maternais: «Sou uma porca, uma vaca, ninguém me respeita!»

As perguntas que iniciaram esta breve explanação ainda suscitam resposta. Sim, este filme é contundente, excedente em nudez e erotismo, mas é dotado também de uma pungência extrema por mostrar a fragilidade humana em sua mais deplorável manifestação: o corpo, que no auge de suas vicissitudes encontra na busca pela satisfação do prazer um norte, parece cair na mais deprimente sensação de desamparo e solidão.

Para fugirem da sensação de abandono as personagens desse filme parecem utilizar-se do corpo e suas possíveis experiências como um subterfúgio para superar uma existência fadada à deterioração moral, física e psicológica. Se o diretor, por meio desse filme, tenta mostrar um Complexo de Édipo mal resolvido, ou se tenta chocar pelo tema que aborda, o que podemos afirmar é que o enredo hiperboliza a necessidade que o corpo tem de encontrar conforto no prazer. Quando a mãe percebeu a ligação que tinha com o filho e tentou afastar-se, o que sugeriria uma necessidade de reprimir o que ela também sentia, parece-nos ter sido em vão o afastamento, pois as perversões do sexo, tão vivenciados pela mãe, foram fácil e intensamente assimiladas por Pierre.

Voyeurismo, sadomasoquismo, bissexualidade, homoafetividade feminina e masculina, incesto, nudez, conflito religioso, drogas, saídas noturnas, sensações de culpa, vida, morte, prazer, autodestruição psíquica e física, que culminam com o suicídio de Hélène, compõem a atmosfera de desconforto, mal-estar e náusea mais que recorrentes nessa obra provocadora.

Não é uma obra recomendável para quem busca no cinema: leveza, tradicionalismos familiares, beleza como a concebe o senso comum e um enredo que não discorra sobre personagens mórbidas e sob efeito de conflitos psicológicos expressivos. Quem resolver assistir à obra de Honoré deve, antes de tudo, despir-se de uma visão mais puritana e adentrar (nem precisa ser empaticamente!) não sem choro e ranger de dentes na atmosfera lúgubre em que Hélène e Pierre estão envoltos. Vale considerar que a canção «Happy together», na interpretação da banda The Turtles, canção que também é trilha sonora de pelo menos mais três filmes, foi uma boa escolha para compor a cena mais marcante e, ao mesmo tempo, mais deprimente de todo o enredo. 

Christophe Honoré nasceu em 10 de abril de 1970, em Carhaix-Plouguer, e é diretor, roteirista e escritor. Diretor de filmes como Les chansons d’amour e Les bien-aimés, discorre sobre temáticas por vezes polêmicas e nada amistosas para quem não suporta mergulhos intensos na alma humana.
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Cícero Émerson do Nascimento Cardoso: Professor de Língua Portuguesa da Rede Pública de Ensino do Estado do Ceará; graduado em Letras pela Universidade Regional do Cariri; especialista em Língua Portuguesa, Literaturas Brasileira e Africanas de Língua Portuguesa; membro do Núcleo de Pesquisa em Estudos Linguísticos e Literários da Universidade Regional do Cariri – NETLLI. Autor do livro de contos Breve estudo sobre corações endurecidos (2011) e dos folhetos A Beata Luzia vai à guerra e A artesã do chapéu (ou pequena biografia de Maria Raquel). Teve poema selecionado para o evento literário realizado pelo CCBNB “Abril para Leitura” em 2012 e 2013, e desenvolve trabalhos acadêmicos vinculados à Literatura, Filosofia e Educação.

Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 09, de 06 de novembro de 2013), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.

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Geraldo Junior e os Virtuais fazem a Festa Warakidzã, no Crato



Festa Warakidzã com Geraldo Junior e Os Virtuais
Músicos: Geraldo Junior, Ranier Oliveira, Dudé Casado, Remy Oliveira e Ricardo Miranda
Discotecagem de Música Brasileira com o DJ Boca
Sexta-feira, 02 de maio de 2014, 22h
No Casarão Boteco (Crato-CE)
Entrada: R$15,00 (inteira); R$10,00 (meia/lista amiga*)

* Para incluir o nome na lista amiga basta postar o seu nome e/ou de seus amigos e amigas no mural do evento no Facebook. Para acessar a página do evento, clique aqui.

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segunda-feira, 28 de abril de 2014

'Lola Montès', filme de Max Ophüls, em exibição no Cinematógrapho



Cinematógrapho (com mediação de Elvis Pinheiro)
Mostra Max Ophüls
Exibição do filme Lola Montès
Título original: Lola Montès
Direção: Max Ophüls
Roteiro: Cécil Saint-Laurent
Elenco: Martine Carol, Peter Ustinov, Anton Walbrook, Oskar Werner, Henri Guisol, Lise Delamare, Paulette Dubost, Jean Galland, Will Quadflieg, Héléna Manson
Duração: 115 minutos
Ano: 1955
Países de origem: França, Alemanha, Luxemburgo

"Lola Montès (1821-1861), uma dançarina e cortesã do século XIX, que ficou célebre por romances escandalosos com o compositor Franz Liszt e com o Rei Ludwig I da Baviera. Dirigido genialmente por Ophüls, Lola Montès é um melodrama histórico de impressionante beleza visual. Assista e entenda porque o filme foi considerado uma obra-prima absoluta por críticos e cineastas de todo o mundo, como Jean Cocteau, Roberto Rossellini, Stanley Kubrick e François Truffaut." (sinopse da divulgação do evento)

Exibição na quarta-feira, 30 de abril de 2014, às 19h
No SESC Juazeiro do Norte-CE. Entrada gratuita.

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domingo, 27 de abril de 2014

'Antes da Chuva', filme de Milcho Manchevski, no Cinemarana



Cinemarana (com mediação de Elvis Pinheiro)
Exibição do filme Antes da Chuva
Título original: Before the Rain
Direção e roteiro: Milcho Manchevski
Elenco: Katrin Cartlidge, Rade Serbedzija, Grégoire Colin, Labina Mitevska, Jay Villiers, Silvija Stojanovska, Phyllida Law, Josif Josifovski, Kiril Ristoski
Duração: 113 minutos
Ano: 1994
Países de origem: Inglaterra, França, Macedônia

"Uma Macedônia dilacerada pela guerra serve como pano de fundo para três narrativas: 'Palavras', na qual um monge se apaixona por uma garota refugiada; 'Rostos', em que uma fotógrafa se vê dividida entre o marido e o amante; e 'Imagens', que mostra o retorno do premiado fotógrafo Aleksander à sua nativa Macedônia. Poético e visceral, um belo retrato sobre relacionamentos e amores." (sinopse da divulgação do evento)

Exibição na segunda-feira, 28 de abril de 2014, às 19h
No SESC Crato-CE. Entrada gratuita.

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quinta-feira, 24 de abril de 2014

Poesia da fineza



por Amador Ribeiro Neto

Raras vezes encontramos em nossa poesia contemporânea uma dicção poética tão clara, tão alva, tão aberta como a de Alberto Martins (Santos, 1958). Sua poesia flagra o cotidiano mais simples, mais usual, mais corriqueiro em flashes que desestabilizam prazerosamente o leitor.

Com Alberto Martins passamos a rever o já visto sob novos ângulos. Advém daí o encanto, a sedução, a magia de sua poesia. Em suas mãos, a palavra é uma matéria de que dispõe como quer. E ele a maneja com sofisticada elaboração. Por isso somos transpostos para mundos de epifanias e alumbramentos.

A insignificância da vida ganha uma dimensão maior ao ser revelada, não como extraordinária, mas na pequenez que guarda em si. Livre. Inteira. Desprovida de meneios, trejeitos, ardis. E a sedução advém de duas coisas: o modo como o poeta opera seu olhar, e o modo como encaminha o olhar do leitor.

Maravilha seria a palavra para designar sua poesia, não estivesse este termo contaminado por uma semântica tão ampla que quase tudo absorve em seu leque de significados. Mas o maravilhamento é a sensação que invade o leitor de Alberto Martins. Porque ele nada quer. Ele nada busca. Ele não tem ambição. Ele apenas toma a palavra como substância viva e ativa. E não se dobra à sua força nem à sua imensidão. Antes: detém-na no ponto exato em que a captura é feita enquanto posse e desvelamento heideggerianos.

A paisagem – tema do livro Cais (Editora 34, São Paulo) – ganha a cena como revelação do que é. E ganha força na antevisão do que pode vir a ser. Momento presente e presentificação do porvir. Nada em seu livro é porventura. Tudo é pertinente. Tudo tem finalidade.

Poesia e finalidade? Esta equação tem propósito? Sim, se entendemos a finalidade como a interação mútua entre palavra e sua expressão. E isto, a que os teóricos chamam de isomorfismo, Alberto Martins faz muito bem. Faz tocantemente.

Tomemos um poema escolhido a esmo: “Ponta a Jureia”: “De um lado / a pedra – de outro / o martelo do mar. / Como Anchieta / na obscura areia / quem sabe dizer / de que lado o deus está? / Talvez se encontre apenas / no desejo de um pelo outro / na ressaca que arrasta / margens profundas fossas de lodo / onde um lobo-marinho / coberto de óleo / finalmente exausto / dá na terra. / E tudo recomeça: / vice-versa”.

O movimento das águas. A descrição parcimoniosa da praia da Jureia, no litoral sul de S. Paulo. A onipresença de Anchieta e a dúvida universal. Um toque filosófico sem comprometer a poesia. A descrição exata sem ser chata. O abismo escuro ressoando no som fechado na vogal “o”: “fossas de lodo / onde um lobo-marinho / coberto de óleo”.

A beleza da metáfora em: “De um lado a pedra – de outro / o martelo do mar”. O som aberto da vogal “a” reverberando o mar que, por sua vez, reverbera, sutil, dentro de MARtelo. Que pode ser lido como mar TÊ-LO. Afinal, o poeta toma posse da palavra e nela instaura seu reinado. Ele é seu dono. Nós, seus privilegiados leitores. Ao fim, a volta ao início, numa “retombée” à la Severo Sarduy. O eterno retorno à la Nietzsche. 
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Amador Ribeiro Neto é poeta, crítico literário e de música popular. Doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Professor do curso de Letras da UFPB.

Publicado pelo jornal Contraponto, de João Pessoa-PB. Caderno B, coluna “Augusta Poesia”, dia 18 de abril de 2014, p. 7.

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Abidoral Jamacaru é o convidado do 'Narrativas em volta do fogo'



"A sonolenta tarde cai, dorme o canavial, o pequizal. Repousam o camaleão e a borboleta. Uma fogueira se monta no meio da praça, uma roda se forma. A voz do artista se propaga para escutar, em rimas escuras, as histórias e canções de Abidoral Jamacaru. A vida, para ele, acontece a partir do instante em que está se vivendo. É a estreia do projeto Narrativas em Volta do Fogo. Uma vez por mês, em praças públicas, contações de histórias daqueles que são a estética e a vida do Cariri." (sinopse da divulgação do evento)

Narrativas em Volta do Fogo
Uma Tendência para a Mística
Convidado: Abidoral Jamacaru
Sábado, 26 de abril de 2014, 19h
Na RFFSA (Crato-CE)
Gratuito.

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terça-feira, 22 de abril de 2014

I Seminário Regional de Comunicação e Cultura em Juazeiro do Norte



Acontecerá nos dias um e dois de maio na Universidade Federal do Cariri (UFCA), Campus Juazeiro, o I Seminário Regional de Formação Política em Comunicação e Cultura.

Organizado pelo Coletivo Enecos Cariri o evento é voltado para os estudantes de Comunicação da região do Cariri  e de outras faculdades dos estados do Ceará, Maranhão e Piauí. Também é aberto para a membros da comunidade e interessados em geral. As inscrições são limitadas.

A programação é composta por grupos de discussão, oficinas, plenárias, festas culturais, cineclubes, mesas de debate com temas relacionados à qualidade de formação do comunicador, democratização da comunicação, formação política e combate às opressões.

A programação e valores para inscrição podem ser  vistos  no blog do evento:
enecoscariri.blogspot.com.br

I Seminário de Formação Política em Comunicação e Cultura do Coletivo Enecos Cariri
Dias 01 e 02 de maio de 2014
Universidade Federal do Cariri - UFCA
Campus Juazeiro do Norte-CE
Informações: (88) 9601.3007 | (85) 9687.7281 | (88) 9917.0626

Armazém do Som com M.A.X e Performance Poética com Daniel Batata



Armazém do Som com M.A.X
Performance poética "Fora de si", com Daniel Batata
Quinta-feira, dia 24 de abril de 2014, 20h
No Teatro do SESC Crato
Entrada gratuita
+ info.: (88) 3586.9150.

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Shows da banda Callangazoo no Cariri



"Um calango azul vindo de uma terra onde o mar se encontra com a serra passeou por mais de 50 anos de rock brasileiro, ao som de Raul Seixas, Rita Lee, Secos e Molhados; percebeu que o rock era feito de baião, reggae, guitarrada, amor e paz; tomou forma em 2012 quando conheceu um grupo bem humorado que fazia um som no Zoológico.

Assim nasceu a Callangazoo, um grupo musical que, com suas músicas autorais, reclama toda a herança do rock nacional, tanto no som quanto no espírito. As melodias atemporais servem de moldura para letras cheias de irreverência e psicodelismo.

No palco, eles trazem para o público a catarse da celebração coletiva. Os acordes multicoloridos se misturam às estampas do figurino e aos sorrisos que se espalham pelo rosto de todos. A banda acredita num rock diferente, prefere pintar o som com as infinitas cores de um calango camaleônico, como se sintonizasse músicas que já estão no ar, em busca de uma sintonia total.


No show 'Brinquedo', a banda baiana Callangazoo apresenta canções atemporais e irreverentes que flertam com os horizontes expansivos e comportamentais do rock nacional." (sinopse da divulgação do evento)
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Show "Brinquedo" com Callangazzo (Salvador-BA)
Entrada gratuita

Quinta-feira, 24 de abril de 2014, 19h30:
No Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB Cariri), Juazeiro do Norte-CE

Sexta-feira, 25 de abril de 2014, 19h:
No Teatro Violeta Arraes (Funcação Casa Grande), Nova Olinda-CE.

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Terça Cultural com Coronel Bauduino



Terça Cultural com Coronel Bauduino
Terça-feira, 22 de abril de 2014, 18h30
Na praça de alimentação do Cariri Garden Shopping
Juazeiro do Norte-CE
Gratuito.

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De quando o corpo se torna prisão



“Ando cheio de nós de angústia, de tormentos,
por pertencer a um corpo que não entendo,
nem entendo o mínimo, nem as unhas, nem o dedo mindinho,
sinistro como odre cheio de visgo negro,
ali há anos esquecido de todos...” (Hilda Hilst)

por Elandia Duarte

Perder um amor é mesmo como perder parte de si mesmo. É ver-se inevitavelmente incompleto de forma dolorosa e triste. É sentir um vazio insuportável e desesperador, é ainda perceber que este mesmo vazio te consome e te suga, te prende, te sufoca. Mas, e quando o vazio é você? Seu corpo, seu espaço sagrado de habitar-se? Quando a falta de SER não foi provocada por um afeto desfeito, um amor perdido, por outro externo a ti? Quando a solidão sentida é provocada pelo seu próprio corpo, que estranho a você habitante primeiro e singular não te deixa caber?

É bem com este sentido e esse turbilhão de perguntas confusas e desconexas que saí das seções dos filmes XXY e A pele que habito,dirigidos por Lucia Puenzo e Almodóvar, respectivamente. Visto em tempos e formas diferentes, mas provocadores de sentimentos idênticos. Ambas as personagens principais percebem-se em determinado momento da trama, sufocadas, diria mesmo, roubadas de si pelo corpo que é (?) seu. Um corpo que lhes nega o direito de auto reconhecer-se, de se perceberem externamente, que lhes singularizam de tal forma dos outros que lhes impõe a solidão.

E aí cabe outro ponto de reflexão profunda no qual me vejo agora no momento dessa escrita, novamente submersa: quantos de nós assim como os personagens da mãe em XXY e do médico-cirurgião em A pele que habito, por não sabermos sentir amor e vivê-lo, roubamos dos que amamos as suas possibilidades de através do seu corpo, expressarem sua alma? Através do seu corpo amarem, viverem?

Como diria a Clarice Lispector em Água Viva, aqui parafraseada, quantos de nós somos e ao amarmos deixamos o Outro, recebedor do nosso amor, SER? Quantos de nós limitamos ou permitimos (em nome do amor ao companheiro) a liberdade de com o corpo - que mais que habitação, precisa ser lar e espaço singular e único de cada um – expressarem-se em toda sua plenitude, sua essência, seu SER? Quantos de nós permitimos a explosão de si em todas as suas formas e possibilidades?

E mais uma vez recorro a Clarice: «E ‘eu te amo’ era uma farpa que não se podia tirar com uma pinça». E nós? Sentimos algum espinho no nosso corpo? Somos espinho no corpo de alguém? Fazemos do corpo dos que amamos espinhos para eles? Negando-lhes a possibilidade de viver e olharem-se no espelho reconhecendo-se verdadeiramente? Deixamos os outros tornarem o nosso corpo e os nossos amores espinhos estranhos a nós? 
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Elandia Duarte possui graduação em pedagogia pela Universidade Regional do Cariri (2008) e Especialização em Arte/Educação pela mesma Instituição. Atualmente professora colaboradora no projeto de pesquisa intitulado: O papel da iniciação científica na formação dos estudantes de pedagogia da URCA. Atuando principalmente nos seguintes temas: Leitura/Educação, Arte/Educação e Formação de Professores e pseudopoeta.

Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 09, de 06 de novembro de 2013), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.

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sexta-feira, 18 de abril de 2014

Santo Blues Festival no Crato



"O Santo Blues Festival será um encontro de artistas e amantes do blues e rock. Vem com o objetivo de promover e estimular uma programação de qualidade para os visitantes e nativos do Cariri. Lugar onde a efervescência cultural se pluraliza por todo vale.

A MC² Produções em parceria com empresas do setor privado e o Balneário Chico da Cascata realizarão no dia 19 de abril de 2014, a partir das 22h, o Santo Blues Festival.

O local não poderia ser outro, Chapada do Araripe, especificamente no Balneário de Chico da Cascata, 60 anos de tradição que transformará suas belezas naturais em cenário para as bandas Bixo Louco (Cariri), Blues Cream (Cariri) e Big John Siqueira & Midnight Men (Recife), com certeza um lugar, um som que tomará conta das coisas e das pessoas.

Ingressos nos pontos de venda.
Juazeiro do Norte:
Gasclub Stylo Rua da Conceição, 398 (88) 3511-5107
Avalon - Rua Padre Cícero, 740 A (88) 3587-1884
Livraria Nobel - Rua Padre Cícero, 604 (88) 3571-1659
Crato:
Livraria Nobel - Rua Tristão Gonçalves, 547 (88) 3521-0927
Ingressos Limitados - Garanta o seu. 2° Lote R$ 15,00." (sinopse da divulgação do evento)
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Santo Blues Festival
Show com as bandas:
Bixo Loco (Cariri), Blues Cream (Cariri) e Big John Siqueira & Midnight Men (Recife)
Sábado, 19 de abril de 2014, 22h
No Balneário Chico da Cascata (Crato-CE).

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quinta-feira, 17 de abril de 2014

Poesia do engano



por Amador Ribeiro Neto

Eu havia me mudado há pouco tempo para Sampa quando Nicolas Behr lançou seu Iogurte com farinha. O título me chamou a atenção. Claro. Corri atrás do livro mimeografado. O mimeógrafo era o “blog” da época. Corri e me dei mal: o livrinho só tinha título. Aquele tipo de “poesia” que a minha geração estava produzindo iria deixar marcas nada literárias em nossa poética.

Passados 35 anos, Nicolas lança Meio seio (Rio, editora Língua Geral). Um livro linda e eroticamente ilustrado por Evandro Salles. Seu traço fino, delicado, sutil e sedutor imprimem uma qualidade ao volume.

O livro integra a Coleção Língua Real que se propõe a trazer “aos leitores brasileiros alguma da melhor poesia que se escreveu, e se escreve em português”. De “Lisboa, Luanda, Dili ou Recife”.

Vou falar do que li: o português brasileiro do cuiabano-brasiliense Behr. Tantas décadas depois e ele continua no mesmo ramerrão do fácil-puxa-fácil, trocadilho por trocadilho, humor previsível.

Não dá. O livro propõe-se como poesia erótica. Proposta, repito, que o desenhista levou tão a sério, que transcende o campo da poesia apresentada. Há sexo à mancheia no volume. E um toque de romantismo anacrônico também, é claro. Minha sugestão, ao terminar a leitura de Meio seio é que ele se resuma a uma página. A que conteria o poema que abre o livro. Título do poema: “muito sexo”. Versos integrais do poema: “muito sexo / pouco texto”.

Consideremos o neorromantismo, com ar de suposto blasé, de “eu te amo”: “e daqui / pra frente/ tudo será / decepção”. Sinceramente: isto é poesia? (Respostas com base na estética, por favor).

A insistência nos trocadilhos, como se eles fossem garantia de boa poesia, leva a coisas como: “você / não sabe / o que é / voyeur // imagine”. Não dá pra imaginar nada com este cerceamento do imaginário poético.

Lembram-se daquela canção do Caetano que a certa altura diz: “O quereres estares sempre a fim / Do que em mim é de mim tão desigual / Faz-me querer-te bem, querer-te mal / Bem a ti, mal ao quereres assim”. Pois agora leiam isto: “o seu / não / me excita / mais / que o seu / sim // (mentira)”. Precisa-se dizer algo mais? Caetano é poeta. Behr, brinca de.

Todavia, vejamos: em certo momento pontua: “o poema bom / o poema ruim”. Vamos atrás do poema bom. Há. Claro. Ninguém consegue escrever um livro para uma editora/coleção que se propõe a divulgar o que há de melhor em poesia de nossa língua sem ao menos um ou dois bons poemas. Há. Cito dois, integralmente: “enfim / era preciso saber / quanto cimento / será gasto / numa ponte / por onde / ninguém passará / de mãos dadas”.

Outro. O que encerra o livro: “benzinho / benzina / não”.
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Amador Ribeiro Neto é poeta, crítico literário e de música popular. Doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Professor do curso de Letras da UFPB.

Publicado pelo jornal Contraponto, de João Pessoa-PB. Caderno B, coluna “Augusta Poesia”, dia 11 de abril de 2014, p. 7.

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VI Semana D da Dança Cariri e II Seminário de Dança (abril de 2014)



"A Associação Dança Cariri realiza, de 21 a 29 de abril de 2014, a VI Semana D da Dança Cariri e o II Seminário de Dança. Serão 24 espetáculos, 04 oficinas, 01 workshop, 01 aula pública, 01 cortejo, apresentações, comunicações e artigos científicos.

Os espetáculos acontecerão nas ruas de Juazeiro do Norte e Crato, nos palcos do SESC Juazeiro do Norte e no Teatro Municipal Salviano Arraes (Crato). As oficinas e palestras acontecerão na sede da Associação Dança Cariri.

Serão nove dias de atividades intensas, quando a região do Cariri cearense recebe artistas e professores de dança de todo o país, realizando um intercâmbio com os artistas locais e promovendo o fortalecimento da dança no Ceará/Brasil.

As inscrições das oficinas e palestras são realizadas pelo email associacaodancacariri@gmail.com ou na Associação Dança Cariri: Rua Conceição, 1391 – Bairro São Miguel, Juazeiro do Norte-CE. Site do evento: http://www.semanaddancacariri.blogspot.com.br "


Programação:


Dia 21 de abril de 2014 (segunda-feira):
10h: Oficina de dança contemporânea (Cia compassos - PE)
Local: Associação Dança Cariri (Juazeiro do Norte)

16h: Aula Pública de ballet com Carolina Rocha
Local: Praça do Giradouro (Juazeiro do Norte)

17h: Espetáculo na Rua: Os brincadores (Cia compassos - PE)
Local: Praça do Giradouro (Juazeiro do Norte)


Dia 22 de abril (terça-feira):
10h: Oficina de Dança Moderna com Arthur Marques (PB/RJ)
Local: Associação Dança Cariri (Juazeiro do Norte)

19h: Reisado Mestre Lucia (Terreiro)

19h30: Solenidade de Abertura
Homenagem a David Linhares

Apresentação: espetáculo Sete Buracos (Cia Compassos - PE)
Local: SESC Juazeiro do Norte


Dia 23 de abril (quarta-feira):
10h: Oficina de Dança Moderna com Arthur Marques
Local: Associação Dança Cariri (Juazeiro do Norte)
16h: Palestra Dança na Universidade: pensando as relações entre a formação profissional e a produção artística no Brasil de hoje. Com a Profa. Dra. Helena Katz (SP)
Local: Associação Dança Cariri (Juazeiro do Norte)

19h: Apresentação: Irmãos Aniceto (Crato-CE)
No Terreiro da Mestre Margarida (SESC Juazeiro do Norte)

19h30: Espetáculo Concêntrico (Arthur Marques - RJ/PB)
Espetáculo Cajuína (Alysson Amancio/Renato Dantas - CE)
Local: SESC Juazeiro do Norte


Dia 24 de abril (quinta-feira):
10h: Oficina de Sapateado (Valeria Pinheiro)
Local: Associação Dança Cariri (Juazeiro do Norte)
16h: Palestra As danças dramáticas populares no Nordeste. Com o Prof. Dr. Oswald Barroso (CE) Local: Associação Dança Cariri (Juazeiro do Norte)

19h30: Espetáculo (S)EM MIM (Inspire Arte - CE)
Estreia Cacos para um Vitral (Comunidade Oitão de Teatro - CE)
Local: SESC Juazeiro do Norte


Dia 25 de abril (sexta-feira):
9h: Aula de Dança Contemporânea com Erick Brenno
Local: Associação Dança Cariri (Juazeiro do Norte)
10h: Oficina de Dança Contemporânea com Sueli Guerra
Local: Associação Dança Cariri (Juazeiro do Norte)

16h: Palestra O que é dança contemporânea: a narrativa de uma impossibilidade. Com a Profa. Dra. Thereza Rocha (RJ/CE)
Local: Associação Dança Cariri (Juazeiro do Norte)
19h30: Espetáculo Vata, Etnografia de Mim! (Valéria Pinheiro - CE)
'Dakini' (Dakini Cia de Dança - CE)
Espetáculo O Santuário (Erik Brenno - PB)


Dia 26 de abril (sábado):
9h: Workshop de Jazz com Nilton Cesar
Local: Associação Dança Cariri (Juazeiro do Norte)

10h: Oficina de Dança Contemporânea com Sueli Guerra - Funarte
Local: Associação Dança Cariri (Juazeiro do Norte)

14h: Apresentação de Comunicação e artigos científicos: Luiz Renato, Elvis Pinheiro, Renato Dantas, Renata Otelo, João Dantas, Alysson Amancio, Kelyenne Maia, Cecilia Raiffer
Local: Associação Dança Cariri (Juazeiro do Norte)

16h: Palestra Corpo religado: entre o tradicional e o contemporâneo do corpo na dança. Com a Profa. Dra. Teodora Alves (RN)
Local: Associação Dança Cariri (Juazeiro do Norte)

17h: Debate: Diálogos - Danças populares e Contemporâneas
Convidados: Valéria Pinheiro, Eleonora Oliveira, Teodora Alves e Alysson Amancio
Local: Associação Dança Cariri (Juazeiro do Norte)

19h30: Espetáculo Por um instante (Ballare Escola de Artes)
Grupo Gaya – UFRN
Grupo de Dança da UFRN
BR 116 – Revisitado (Alysson Amancio Cia de Dança)
Local: SESC Juazeiro do Norte


Dia 27 de abril (domingo):
9h: Workshop de Jazz com Nilton Cesar
10h: Oficina de Dança Contemporânea com Sueli Guerra (RJ)/Funarte
Local: Teatro Municipal Crato

17h: Apresentação: Irmãos Aniceto (Crato-CE)

Espetáculo na Rua Alafiá (Work in Progress/ Alysson Amancio Cia de Dança - CE)
Local: Largo da RFFSA (Crato)

19h30: Solenidade de abertura - Crato
Homenagem a João do Crato e Wilemara Barros
Grand Pas des Deux Corsário – Ballet Gonzalez com Beatriz Rocha e Cia da Ideia (RJ) Espetáculo Batuque
Local: Teatro Municipal Salviano Arraes


Dia 28 de abril (segunda-feira)
9h: Workshop de Jazz com Nilton Cezar
10h: Oficina de Dança Contemporânea com Sueli Guerra (RJ)/Funarte
Local: Teatro Municipal Salviano Arraes (Crato-CE)

16h: Debate: Profissionalização da dança no Cariri
Convidados: Kelyenne Maia, Luciany Maria, Danielle Esmeraldo, Alysson Amancio
Local: Teatro Municipal Salviano Arraes (Crato-CE)

19h30: Espetáculo A cadeirinha e eu (Fauller - Cia Dita - CE)
Cia das Artes Sintra (CE)
Cia de Dança Daniel Telles (CE)
Espetáculo Estados Alterados (Ballet Contemporâneo Rocha - CE)
Local: Teatro Municipal Salviano Arraes (Crato-CE)


Dia 29 de abril (terça-feira)
9h: Oficina de Jazz com Nilton Cezar
Local: Teatro Municipal (Crato)

15h: Cortejo Cultural em comemoração ao Dia Internacional da Dança
Da Praça da RFFSA à Praça da Sé (Crato-CE)
Apresentação Flash Mobili – Resultado do workshop Jazz (Nilton Cezar)

19h30: Aula/Espetáculo com Wilemara Barros (Cia Dita - CE)
Local: Teatro Municipal (Crato)
Comemoração dos 50 anos da bailarina cearense Wilemara Barros.

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terça-feira, 15 de abril de 2014

A alma de Almodóvar



por Cícero Émerson do Nascimento Cardoso

Sobre Pedro Almodóvar sabemos que foi um dos mais premiados diretores da história do cinema, que é um dos diretores mais notáveis da Espanha e é de uma evidente versatilidade – para comprovar isso basta dizer que ele é ator, diretor, roteirista, produtor e compositor.

Nascido em 24 de setembro (em que ano mesmo: 1949 ou 1951?), em Calzada de Calatrava, Espanha, aos oito anos estudou em escola cuja educação era rigidamente religiosa. Foi durante esse período que começou a ir ao cinema com frequência.  

Mudou-se para Madri aos dezesseis anos com o objetivo de estudar cinema e realizar filmes – foi morar sozinho sem qualquer auxílio financeiro da família. Impossibilitado de estudar cinema, e com dificuldades financeiras que o impediam de realizar seu objetivo, realizou diversos trabalhos até que, ao tornar-se funcionário de uma companhia telefônica, comprou sua primeira câmera.  

Durante os horários em que estava livre do trabalho, Almodóvar escreveu para revistas alternativas, participou de um grupo de teatro independente e integrou uma banda de rock. Tendo realizado mais de dez filmes de curta-metragem, após um ano de muita dedicação ao seu projeto cinematográfico, finalmente seu longa-metragem é filmado e estreia num período da Espanha em que a Democracia desfazia as atrocidades do governo ditatorial de Francisco Franco. Em 1980, portanto, Pepi, Luci, Bom e outras garotas de montão, filme que foi custeado praticamente pelos amigos, dá início a uma crescente produção cinematográfica que colocou Almodóvar no rol de diretores do gabarito de Carlos Saura e Luis Buñuel.

Almodóvar realizou, em 1982, o filme Labirinto de paixões e, na sequência, realizou: Maus hábitos (1983), O que eu fiz para merecer isto? (1984), Matador (1986), A lei do desejo (1987) e, no ano seguinte, o filme que o lançou internacionalmente: Mulheres à beira de um ataque de nervos (1988).

O filme A lei do desejo foi realizado na própria produtora de Almodóvar: a produtora El Deseo. No ano de 1988, com o filme Mulheres à beira de um ataque de nervos, Almodóvar conseguiu realizar um dos maiores sucessos de bilheteria no ano de 1989 nos Estados Unidos e o filme espanhol de maior sucesso da história do cinema espanhol – esse filme foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro.

Em seguida vieram os filmes: Ata-me (1990), De salto alto (1991), Kika (1993) e A flor do meu segredo (1995). Segundo críticos, Almodóvar alcançou sua maturidade artística ao realizar os filmes: Carne trêmula (1997), Tudo sobre minha mãe (1999), Fale com ela (2002), Má educação (2004), Volver (2006), Abraços partidos (2009), A pele que habito (2011) e Amantes passageiros (2013).

Com o filme Tudo sobre minha mãe, Almodóvar conseguiu realizar um dos seus melhores trabalhos, o que lhe rendeu diversos prêmios, dentre eles: Oscar de melhor filme estrangeiro, Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro, Palma de Ouro de melhor diretor, César de melhor filme estrangeiro e BAFTA de melhor filme estrangeiro. Foi sua consagração no circuito comercial internacional. 

Repetiu imenso sucesso com seu filme Fale com ela, pelo qual recebeu mais um Oscar de melhor filme estrangeiro e um de melhor roteiro original; além disso, recebeu o Globo de ouro de melhor filme estrangeiro e o BAFTA de melhor filme estrangeiro e melhor roteiro original.

Dentre as temáticas discutidas por Almodóvar, podemos destacar: constante metalinguagem cinematográfica, discussões amplas sobre sexualidade, identidade de gênero, feminilidade, perversões sexuais, passionalidade amorosa, crítica à religiosidade, desestrutura familiar e morte.

Uma idiossincrasia de Almodóvar é a frequência com que ele trabalha com alguns atores e atrizes em seus filmes. A parceria com atrizes sempre foi mais frequente em decorrência da constante discussão em torno de temáticas femininas. Suas grandes parceiras foram: Carmem Maura, Victoria Abril, Marisa Paredes, Rossy de Palma, Chus Lampreave e Penélope Cruz. Dentre os homens, destaca-se o ator Antonio Banderas.  

Dentre as peculiaridades da obra do cineasta, podemos enfatizar o excesso de cores que torna – com raras exceções – seus cenários supostas telas vibrantes que parecem dar o tom necessário para os dramas humanos que ele costuma retratar; as tramas em que ele imerge suas personagens costumam ser movimentadas, tensas e, por vezes, caóticas, mas do caos ele extrai os valores da alma humana com suas fragilidades, anseios e subterfúgios ante os vazios da vida; a música utilizada por ele acompanha o intenso universo de personagens que tentam se sobressair às amarras socioculturais impregnadas por falsos moralismos e visões obsoletas.

Exagerado em suas explanações? Repetitivo em relação a certas temáticas recorrentes em sua obra? Ou um gênio da arte cinematográfica no sentido mais valorativo do termo que, por ser experimentalista, não se rende ao óbvio? Parece mais coerente considerarmos esta última ideia, porque em Almodóvar, a ousadia, a criatividade e a construção de personagens – sobretudo porque ele enfatiza o universo feminino – nada convencionais torna sua obra uma das mais inovadoras e, consequentemente, belas do cinema universal.
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Cícero Émerson do Nascimento Cardoso: Professor de Língua Portuguesa da Rede Pública de Ensino do Estado do Ceará; graduado em Letras pela Universidade Regional do Cariri; especialista em Língua Portuguesa, Literaturas Brasileira e Africanas de Língua Portuguesa; membro do Núcleo de Pesquisa em Estudos Linguísticos e Literários da Universidade Regional do Cariri – NETLLI. Autor do livro de contos Breve estudo sobre corações endurecidos (2011) e dos folhetos A Beata Luzia vai à guerra e A artesã do chapéu (ou pequena biografia de Maria Raquel). Teve poema selecionado para o evento literário realizado pelo CCBNB “Abril para Leitura” em 2012 e 2013, e desenvolve trabalhos acadêmicos vinculados à Literatura, Filosofia e Educação.

Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 09, de 06 de novembro de 2013), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.

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segunda-feira, 14 de abril de 2014

'Na Teia do Destino', filme de Max Ophüls, em exibição no Cinematógrapho



Cinematógrapho (com mediação de Elvis Pinheiro)
Mostra Max Ophüls
Exibição do filme Na Teia do Destino
Título original: The Reckless Moment
Direção: Max Ophüls
Roteiro: Mel Dinelli, Henry Garson, Elisabeth Sanxay Holding, Robert E. Kent, Robert Soderberg
Elenco: James Mason, Joan Bennett, Geraldine Brooks, Henry O'Neill, Shepperd Strudwick, David Bair, Roy Roberts
Duração: 82 minutos
Ano: 1949
País de origem: Estados Unidos

"Após encontrar o corpo do amante da filha, Lucia o esconde, por pensar que isto irá prejudicar sua família. Mas o amigo e parceiro do morto, Martin, logo se aproxima dela para chantageá-la e a segurança que Lucia sentia logo começa a desmoronar."

Exibição na quarta-feira, 16 de abril de 2014, às 19h
No SESC Juazeiro do Norte-CE. Entrada gratuita.

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Oficinas artísticas: sobre o espaço da sala e da rua e o ato de narrar



Oficinas de Formação Artística

Primeiro Ocupe, Depois se Vire
(Cia. do Tijolo-SP)

"Trabalho desenvolvido com o objetivo de treinar o olhar para ressignificação dos espaços físicos da sala e da rua. Parte de uma pesquisa corporal, sonora e imagética em três instâncias diferentes: o ser do intérprete consigo mesmo, o ser em relação ao espaço da sala de ensaio, o ser em relação ao outro, e o ser em relação ao espaço externo da rua." (sinopse da divulgação do evento)

Dias 15 e 16 de abril de 2014, às 16h, e dia 17 de abril, às 15h
No Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB Cariri), Juazeiro do Norte-CE
16h/a; 25 vagas
Inscrições gratuitas.
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Laboratório de Narração
(Paula Yemanjá - Fortaleza-CE)

"Vivemos cercados de narrativas que conscientemente ou inconscientemente formaram nossa maneira de ver/ler o mundo: histórias que ouvimos desde crianças, história de povos antigos e recentes, histórias que aconteceram conosco. Partindo do princípio que o ato de narrar é inerente ao ser humano e uma forma espontânea de perpetuar a sua passagem no mundo, essa oficina tem como objetivo sensibilizar os participantes sobre a natureza espontânea dessa atividade e experimentar exercícios e técnicas que podem melhorar suas habilidades no exercício dessa atividade." (sinopse da divulgação do evento)

De 22 a 25 de abril de 2014, às 14h
No Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB Cariri), Juazeiro do Norte-CE
16h/a; 25 vagas
Inscrições gratuitas.

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domingo, 13 de abril de 2014

Terça Cultural com Chico Jr. Show



Terça Cultural com Chico Jr. Show
Terça-feira, 15 de abril de 2014, 18h30
No Cariri Garden Shopping (Juazeiro do Norte-CE)
Gratuito..

sábado, 12 de abril de 2014

Orlando na permanência do olhar



por Elvis Pinheiro

Falar de alguém é particularizar e, de modo bem certo, minimizar esse alguém. O meu olhar é apenas um e dos menos ricos sobre uma figura tão complexa, tão rica, tão cheia de nuances. Publico o meu depoimento entre centenas de outros depoimentos que poderiam, tranquilamente, ser publicados. O olhar da família, o olhar dos companheiros de trabalho, o olhar dos amigos de Partido, dos amigos das causas sociais, dos amigos da luta contra a Homofobia, dos amigos da intervenção artística, dos amigos do Cinema, dos amigos da Literatura, dos amigos da Música, dos amigos da diversão e da diversidade, do amigo mais íntimo, mais próximo e mais amoroso. Tantos são os olhares e todos eles juntos não abarcam o todo que é, foi e está presente, Orlando Pereira.

Foi em 1996 que travei contato com ele. Participamos juntos e ativamente durante alguns meses do Círculo de Leitura do SESC Juazeiro. Se eu lhe apresentei Rubem Fonseca, não sei. Mas foi ele quem me apresentou Guimarães Rosa, por quem estava completamente envolvido. Eu, muito novo e tomado pela literatura urbana do primeiro, não conseguia me acertar com o universalismo regionalista e transcendental e mágico do segundo. Mas se eu não tivesse tido esse primeiro contato, não teria aproveitado as delícias todas do grande Rosa. Obrigado, Orlando.

Orlando um passo a frente, apresentando a tanta gente novos mundos e possibilidades. Quanta gente bacana ele inspirou, quanta gente jovem ele possibilitou com sua capacidade de diálogo, a abertura para o enfrentamento com o sublime. Ele se ressignificava constantemente. Pessoa dada ao debate: sabia falar e sabia ouvir e sabia refletir sobre o que lhe diziam. Muito bom conhecer um pacifista tão aguerrido. Lutava pelas causas nas quais acreditava, sem perder a ternura, a doçura.

Durante um tempo foi responsável pelas exibições de filmes no SESC Juazeiro e foi com ele, numa sessão organizada por ele, que assisti Volver, de Pedro Almodóvar. Na segunda Mostra 21, pudemos exibir, com destaque entre os longas-metragens internacionais, o seu documentário de estreia, codirigido por Franklin Lacerda, Também Sou Teu Povo, marco inquestionável do cinema caririense, do cinema brasileiro.

Junto com o Bando produziu obras polêmicas e questionadoras que, de forma satírica, bem humorada, iconoclasta, despudorada, fizeram com que repensássemos nossos valores, nossos mitos, nossos heróis, nossos medos, nossa identidade.

Estava na rua levantando as bandeiras nas quais acreditava, capitaneando marchas, fossem as das vadias, pela causa das mulheres, fossem pela causa dos gays, lésbicas, travestis, bissexuais e transgêneros (e me perdoe, Orlando, se esqueci alguns), pelos professores, pelos trabalhadores. Orlando marchou e batalhou.

A Sétima, revista e grupo de cinema, o tem como membro honorário, visitante ilustre, que acompanhou algumas de nossas atividades e certamente seria um leitor e entusiasta de nossas páginas.

Meu último momento com ele foi exibindo um filme do surrealista, polemista, grandioso diretor Alejandro Jodorowsky, El Topo. Neste filme, um homem busca crescer, amadurecer, chegar ao topo do conhecimento e do aprendizado sobre a vida com outros homens e a sociedade. Um filme radical e profundo. Fico feliz de ter apresentado algo mágico, original e transcendental a ele, tal qual fez comigo, há tanto tempo atrás.
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Elvis Pinheiro é editor da Revista Sétima e professor. Desde 2003 é Mediador de Cinema no Cariri cearense.

Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 09, de 06 de novembro de 2013), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.

Primeira foto (detalhe): Jânio Tavares
Segunda foto (detalhe): Coletivo Café com Gelo

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sexta-feira, 11 de abril de 2014

'Um Anjo em Minha Mesa', filme de Jane Campion, em exibição no Cinemarana



Cinemarana do SESC Crato (com mediação de Elvis Pinheiro)
Exibição do filme Um Anjo em Minha Mesa
Título original: An Angel at My Table
Direção: Jane Campion
Roteiro: Janet Frame, Laura Jones
Elenco: Kerry Fox, Alexia Keogh, Karen Fergusson, Iris Churn, Jessie Mune, Kevin J. Wilson, Francesca Collins, Melina Bernecker, Mark Morrison, Katherine Murray-Cowper
Duração: 158 minutos
Ano: 1990
Países de origem: Austrália, Nova Zelândia, Reino Unido

"Uma obra-prima! Baseado no relato autobiográfico de Janet Frame, o filme conta a historia de uma menina gorducha e tímida que é diagnosticada como esquizofrênica e passa oito anos em um sanatório. Para se tornar depois uma das mais importantes escritoras da Nova Zelândia. Um percurso desconcertante de uma mulher sensível que aceita a sua vida trágica tal como ela é. Uma história de esperança, sofrimento e triunfo. Premiadíssimo filme da mesma diretora de O Piano." (sinopse da divulgação do evento)

Exibição na segunda-feira, 14 de abril de 2014, às 19h
No SESC Crato-CE. Entrada gratuita.

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quinta-feira, 10 de abril de 2014

Juazeiro: em cartaz 'Separación', comédia de Joylson Kandahar



Espetáculo Separación
Comédia de Joylson Kandahar
Mandacaru Cia. de Artes e Eventos
De 12 a 27 de abril (aos sábados e domingos), 19h30
No Teatro Marquise Branca (Juazeiro do Norte-CE)
Classificação etária: 12 anos
+ info.: (88) 8801.0950 / 9742.7011.

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