por Erick Linhares
“Você liga seu pequeno ecrã de 21 polegadas e torce pela América e pela democracia. Não existe alguma América, não existe uma democracia. Existe apenas IBM, ITT, AT&T, DuPont, Dow, Union Carbine e Exxon. Essas são as nações do mundo hoje!”
Eu ainda me sinto transtornado com esse filme! Essa produção me leva a viagens incríveis sobre como a televisão pode ser danosa; como o sistema no qual vivo é cheio de regras, as quais sou obrigado a seguir sem haver participado de sua elaboração no contrato social; sem saber o porquê ou a origem, ou como essas regras são implantadas hipnoticamente através da cansativa repetição da mídia esmagadora sobre o que é bom ou ruim, o que devo ou não fazer, o que é moda, o que eu devo comprar, criticar, temer... O medo implantado para que possamos ser escravos sempre do que é dito. Usar o medo para escravizar (HUXLEY, A. L., 1982).
Eis o meu sentimento depois do filme Zeitgeist (2007). É um documentário dividido em três partes: 1) Fala sobre a farsa da religião como a maior “estória” já contada pela humanidade, usando a bíblia como alegoria dos astros e metáforas, além de mostrar que não há indícios históricos sobre a existência de Jesus Cristo, sendo apenas um plágio de outras várias religiões pagãs (religiões não judaico-cristãs); 2) Sobre o atentado de 11 de Setembro, muito “sensacionalizado” na mídia divulgando os “terroristas” como inimigos do mundo. O doc fala sobre como a mídia manipula para que as pessoas acreditem no que as grandes corporações e os EUA querem dizer e usar como desculpa para fazerem guerras. As pessoas que assistem ao telejornal repetem tudo que passa na notícia como robôs condicionados (e, aqui, Aldous Huxley é um profeta ao falar sobre isso em sua obra mais famosa, Admirável mundo novo); 3) E, por fim, Zeitgeist faz uma análise sobre os bancos e como eles usurpam a liberdade de trabalho e controlam o dinheiro no mundo, sendo todo o sistema monetário um grande palco para que as grandes empresas escravizem as pessoas que precisam do dinheiro e trabalho para ter os recursos que os poderosos roubaram da Terra.
Vale ressaltar que esse filme tem mais duas sequências tão boas e polêmicas quanto o primeiro, acerca das quais não irei me aprofundar aqui, porém todas elas são bem fundamentadas e bem analisadas; eu mesmo tomei a precaução de buscar em fontes imparciais sobre egiptologia, demolição de prédios (no caso do World Trade Center), sistema monetário, entre outros.
Muitos me dizem: “mas esse filme é tendencioso”. Óbvio que é! Tudo que quer mostrar um ponto é tendencioso para um foco determinado de argumentação. Tudo que é dito é em direção a algo para ser mostrado e tende a isso, e eu sou tendencioso a comprar a ideia desse filme. De toda forma, acho melhor para mim não ser tendencioso a comprar as ideias da mídia, ou do sistema econômico em geral. Meu sentimento é que esse sistema é realmente uma farsa para que poucos, um número insignificante de pessoas perante aos bilhões que vivem na Terra, ganhe dinheiro à custa da alienação da maioria sobre seu trabalho, sua família, sobre as privatizações, sobre as fronteiras, moda... Sobre a vida.
Este documentário é de extrema importância por chocar a “realidade” que nos foi ensinada, mexer com ela e nos fazer pensar sobre nossa vida e como nossa consciência é montada. Os argumentos são muito bem estruturados e, o melhor, com fatos e notícias que nos deixam na dúvida sobre até onde esse sistema (financeiro, capitalista, de sociedade organizada...) é eficaz. E aí me perguntam “e então, o que se deve fazer?”, bem, uma possível “resposta” está no final do documentário. Assistam.
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Erick Linhares é formado em Psicologia pela Faculdade Leão Sampaio, onde foi coordenador geral do Centro Acadêmico do curso. Atualmente é bolsista na Especialização em Gestalt Terapia.
Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 32, de junho de 2016), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.
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