sexta-feira, 12 de agosto de 2016
Canal Conspiração: uma cooperativa de audiovisual local, irreverente e subversiva
por Elvis Pinheiro
Um modelo de programa ficou famoso na internet e sua popularidade foi captaneada pelo sucesso do youtube. No Brasil todo mundo conhece o Porta dos Fundos, suas esquetes politicamente incorretas e que viram assunto em roda de amigos quando se quer renovar a alegria do grupo. Um bom texto, atuações convincentes, forte uso da paródia, da ironia e da quebra da expectativa do espectador que é quando rimos do resultado de situação corriqueira ser diverso do esperado.
Pois bem, aqui no Cariri temos um grupo de amigos que lança com bastante regularidade esquetes que se apropriam desse modelo, acrescentando a isso, o toque regional: trata-se do Canal Conspiração. Se o forte desse modelo de produção audiovisual totalmente e vitalmente ligado a internet são o roteiro e a direção, então no caso do Canal Conspiração, F. Thiago Mariano é o destaque. Dando uma de Glória Pires, não vi todos os filmes, mas dos que vi, todos tinham direção e roteiro assinados por este rapaz que em alguns casos atuava, narrava (dublando vozes, até!) e filmava as cenas.
Conheço-o de quando ainda nem era aluno do curso de Engenharia de Materiais na UFCA e já me espantava a marra do garoto que desdenhava de profissionais do setor de animação que ministravam oficina dentro da Mostra Sesc Cariri de Culturas. Mas aquela marra toda, confundida com arrogância pelos professores, e devo admitir que por mim também, gestou um realizador de fato e de mérito. Arrogância sem trabalho é só arrogância. A capacidade de juntar pessoas ao redor de um projeto particular, estudar roteiro, técnicas de iluminação e captação de áudio, efeitos especiais, direção de elenco, técnicas de atuação é de se tirar o chapéu, porque reflete esforço, perseverança e muito, muito estudo. Existe requinte nas produções, que pecam a meu ver apenas quando repetem a estrutura do Porta dos Fundos e do Parafernália, que na hora dos créditos mostra making off com erros de gravação, ou apresenta um final extra enquanto divulga os créditos do vídeo. Essa estrutura engessada eles do Canal Conspiração já possuem criatividade e talento suficientes para livrarem-se dela.
Não quero me deter na crítica dos filmes, mas citarei a versão com rima típica da poesia de cordel do conto de Natal do Charles Dickens, carregado de palavras bem ao sabor de nossa região, o filme As Mochilas, gravado em preto e branco e que homenageia a fase muda do cinema, em especial clássicos do Charles Chaplin, e o Apocalipse Zumbi Social, que lança mão dos walking dead da vida para “tirar uma onda” com esse povo que vive magnetizado por seus telefones celulares com acesso a facebook, instagram e zapzaps.
Para muito além do valor artístico das obras realizadas ou de questionarmos o fundo ideológico duvidoso numa peça ou outra, é inegável a maravilha dos dias em que vivemos onde essa galerinha tem acesso a toda a informação e tecnologia necessárias para produzir por conta própria textos audiovisuais que refletem o seu pensamento, as suas ideias, as suas referências e aquilo que eles querem dizer, da maneira que acham certo dizerem. Isto é a democratização da tecnologia da informação. Isto é o poder da Democracia e da democratização dos meios de produção. Isto é verdadeiramente o poder emanando do povo através do livre uso de sua criatividade. É desta maneira que se produz jornalismo alternativo para se mostrar o que os grandes canais não querem mostrar. É assim que se cria conteúdo artístico irreverente sem a necessidade de se passar por grandes ou médios estúdios profissionais. É uma ideia na cabeça e uma câmera na mão em escala impensável por Glauber Rocha. Se F. Thiago Mariano e seus companheiros Giovanni Sobreira, Adrejan Sampaio e a Luluzinha neste clube do Bolinha, Luna Lorey quiserem, poderão fazer em termos de cinema, tudo o que muita gente deseja fazer e não consegue por medo, preguiça ou procrastinação.
Percebo que a meta deles hoje é observarem de perto a reação do público ao material que produzem, coisa bem distinta do que se deve esperar de produtos feitos para internet que conta para medição de popularidade e aceitabilidade o número de curtidas, compartilhamentos e comentários. Eu acho, sinceramente, é que o próximo passo deles será aproveitar o potencial para criações mais densas e ousadas que ainda se amparam no formato de curtas e longas metragens. Torço para que sigam firmes nesta escalada para a arte do cinema em meio aos produtos do audiovisual.
Trailer - Canal Conspiração:
Para acessar a página do Canal Conspiração, clique aqui!
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Elvis Pinheiro é editor da Revista Sétima e professor. Desde 2003 é Mediador de Cinema no Cariri cearense.
Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 30, de abril de 2016), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.
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Gostei da matéria, muito bom ^^
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