sexta-feira, 13 de maio de 2016
‘Boa sorte’ nos próximos filmes
por Erick Linhares
Foi uma ótima experiência a Mostra Cine Cariri em Nova Olinda, que ocorreu de 03 a 06 de setembro [de 2015], com exibições de filmes, palestras com os diretores e outros profissionais da área de cinema, e uma peça de teatro. A cidade já é um encanto. Um pouco mística segundo o meu sentir - o que a torna encantadora, e com um acervo cultural magnífico e rico, alimentando de arte a região do Cariri. Além disso, a cidade é conhecida mundialmente por conta do belíssimo Projeto Casa Grande, voltado ao trabalho cultural, artístico e educacional para crianças que desenvolvem seus potenciais com o intuito de que levem na bagagem arte e cultura.
Sobre o festival, todos os filmes me emocionaram e me deixaram extasiado com suas exibições. No sábado sairia do teatro muito emocionado e inspirado, não fosse um dos filmes, Boa sorte (2014), com direção de Carolina Jabor. E é sobre esse filme que quero me deter nesse texto.
Boa sorte é um dos filmes mais clichês que eu há muito não via. Fico muito decepcionado quando um filme brasileiro busca em enlatados norte-americanos elementos para o filme. É o que acontece com, por exemplo, Se eu fosse você (Direção: Daniel Filho, 2006), que é uma cópia barata de muitos filmes de sessão da tarde gringos como, por exemplo, Freaky Friday (Direção: Melanie Mayron, 1995). Que é o que acontece também com De pernas pro ar (Direção: Roberto Santucci, 2010), que tem cenas de muitos blockbusters, descaradamente, como o sex shop e a calcinha vibratória que aparece em The ugly truth (Direção: Robert Luketic, 2009). Enfim, os diretores brasileiros fazendo isso, essa imitação tão barata, como se devêssemos nos assemelhar em cultura e modos de viver dos norte-americanos, empobrece por demais os filmes.
O filme de Carolina Jabor também tem suas imitações: a cena deles roubando a chave para depois se encontrarem e a cena do rapaz tocando violão na escada são duas cenas idênticas às que aparecem no filme Girl, interrupted (Direção: James Mangold, 1999), película esta que, de fato, não considero um mero blockbuster - gosto muito, por sinal, porém, não é por isso que o filme Boa sorte seja menos empobrecido imitando as cenas, pelo contrário, o filme perde muito de originalidade, criatividade e fator surpresa. Mas se esse fosse o único problema do filme, talvez se pudesse considerar uma indicação a amigos e parentes. Porém, a crítica não acaba aqui.
Boa sorte é um filme extremamente explicativo. Não há surpresa, não há dúvidas. O enredo é bem fácil, muito pobre e prolixo. Explica-se tudo, dá-se motivo a tudo: a mãe desestruturada que tem um filho com «problemas» - que além de ser um clichê, se torna moralista. A mãe dura e insensível da garota, além de ser mais um clichê dos blockbusters, é uma justificativa vazia para a filha drogada. A explicação dela no diário, forçando um final bonito sobre amor, totalmente desnecessária, com uma deixa da mãe da garota incrivelmente sem contexto, descarada, falando do limão que queima quando exposto ao sol, para que ele tenha um “brilhante insight ao acaso” e consiga ler as palavras da amada que estavam escondidas no diário.
Pretendo concluir aqui, sem mais delongas, que nada no filme me surpreendeu. Até a atuação horrível de Deborah Secco, na cena em que ela morre no hospital e, para minha decepção, a de Cássia Kis Magro, na cena do corredor para que os protagonistas consigam roubar a chave, foi uma situação triste de vivenciar perante a tela do cinema. Enfim, deixo aqui minhas impressões para que o leitor tire suas próprias conclusões ao assistir o filme, que, para não ser de todo mau, teve uma coisa boa, não surpreendente, mas boa: a direção de câmera e fotografia. Espero que ela não tenha engabelado os espectadores sendo essa característica mais uma imitação gringa.
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Erick Linhares é formado em Psicologia pela Faculdade Leão Sampaio, onde foi coordenador geral do Centro Acadêmico do curso. Atualmente é bolsista na Especialização em Gestalt Terapia.
Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 26, de novembro de 2015), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.
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