por Davi Oliveira
“Você já teve um sonho, Neo, que parecia ser verdadeiro? E se não conseguisse acordar desse sonho? Como você saberia a diferença entre o mundo dos sonhos e o mundo real?”
(Morpheus – The Matrix)
A partir desta e outras reflexões sobre o que é a realidade, a Trilogia Matrix emerge com uma superprodução dirigia pelas irmãs Wachowski (Lana Wachowski e Lilly Wachowski) que rendeu as mais variadas críticas e interpretações ao longo do tempo. Neste momento querido leitor, pare e reflita: “você está dormindo?”, “como sabe que não está dormindo?”, “o que é a realidade?”.
O que a Trilogia Matrix possui de ideias e conceitos? Talvez nossa consciência esteja adormecida para perceber alguns símbolos e signos, estes, que foram integrados de forma explícita ao mesmo tempo codificada para o telespectador. Mas afinal, quais são estes símbolos?... Podemos começar pela própria existência da quantidade de filmes. Ao todo são 3: The Matrix, The Matrix Reloaded, The Matrix Revolution e contam jornadas distintas a partir da construção de uma mesma história, cada uma representa um Grau Iniciático que podemos ver mais claramente expresso na Maçonaria: Iniciado, Companheiro de Ofício e Mestre. Os ritos nos quais se baseiam a Maçonaria são provenientes de grupos e formas ritualísticas antigas, vindas das tradições do Antigo Egito, dentre outros sistemas.
Na perspectiva da trilogia, podemos analisar que no primeiro filme Anderson (protagonista) é “iniciado” na Matrix, passa a conhecê-la, a fazer parte deste grupo (Ordem Esotérica) dos que também foram despertos e iniciados. Ao entrar, Anderson passa a ser chamado de Neo, uma referência ao termo “Neófito” utilizado para designar em antigos e sagrados ritos os recém-aceitos, noviços, os “nascidos de novo” (bem expresso pela forma que ele sai da cápsula que o aprisiona, remetendo-a a um útero). Além de Neófito, descobre que é “o escolhido” para libertar seu povo, como um “Avatar” de sua era.
No segundo filme da sequência, Neo passa a desenvolver suas habilidades, a combater o exército de máquinas (egos que escravizam a humanidade), a realizar inúmeras transformações ao seu redor, sendo um “Companheiro de Ofício” de todos os trabalhos necessários à sobrevivência do grupo (Ordem). Em The Matrix Revolution, este mesmo personagem desenvolve e desperta todos os seus poderes ocultos, chegando a cumprir sua missão final que é o sacrifício em prol da libertação da humanidade, expressos nas histórias de mestres iniciados como Tamuz (deus dos Sumérios), Hórus (deus Egípcio), Mitra (deus Persa), Quetzalcóatl (deus do povo Asteca), Jesus O Cristo (deus Cristão), dentre outros que passaram pelos mesmos processos iniciáticos resultando em um último sacrifício, a morte para a ressurreição e concretização do mais alto grau de Iniciado (conhecida como “Iniciação Venusta”).
Ainda referente à Iniciação destacam-se nos filmes personagens que montam a figura de um conceito estudado nestes ritos, o “Guardião do Umbral” (guardião da porta). Este é quem testa e tenta impedir o Neófito de avançar nas iniciações e passar por graus, são seres que não podem ser destruídos, apenas compreendidos e derrotados. Os mesmos são simbolizados pelos “agentes” que constituem os anti-heróis da trama, destacando o Agente Smith, que é derrotado no primeiro filme e retorna no segundo para novamente tentar impedir o avanço do Iniciado (Neo).
Como figura importante destaca-se a sacerdotisa do Mestre Iniciado (Neo), posição reforçada por seu nome Trinity (trindade), o poder da criação e da polarização de energia para o despertar da consciência dentro das práticas de Alquimia. Trinity desempenha seu papel de sacerdotisa ajudando-o a se desenvolver ao longo do primeiro filme e ao fim, ressuscita-o com o poder do amor (Maithuna), onde Neo passa a ser um mestre e adquire habilidades para iniciar seus processos evolutivos.
Encontramos também a referência ao deus do sonho na cultura Grega que é conhecido por Morpheus, nome do personagem responsável por despertar todos do sono da Matrix. Nesta perspectiva, então o que seria a Matrix? Esta é uma alegoria a cultura Maya que tinha a concepção de que “Maya” era ilusão, algo para enganar nossos sentidos, um mundo irreal criado por nossas percepções sensoriais. Neste caso, para se libertar da ilusão, era necessário despertar do sono da consciência (conceito para designar a essência/alma), libertar-se da inconsciência (termo para designar o adormecimento da essência e ao ego), desenvolver o equilíbrio e poder mental logrando a ampliação dos sentidos e despertar como Mestre. Na primeira obra da trilogia, podemos encontrar esta referência quando Morpheus pede para Neo libertar a mente de toda limitação e ilusão, passando a controlar e manipular a Matrix.
Além de muitos textos e reflexões profundas inseridas na obra a partir de conceitos do Budismo Zen, do Taoísmo, da Rosa-Cruz, Maçonaria, Gnosis, Cristianismo, etc., encontram-se correspondências também visuais. As capas pretas fazem conexão com as vestes sagradas utilizadas nos templos, no segundo filme aparece um personagem conhecido por Seraph/Serafim (anjo de alta patente responsável por guardar e proteger todas as demais hierarquias angelicais). Serafim é um anjo de fogo, um ser que alcançou assim como outros seres o To Soma Heliakon (corpo de ouro do homem solar) conhecido pelos Egípcios. Quando Seraph aparece, o Neo pode ver (com o poder da clarividência desenvolvida), seu corpo brilhando como ouro. Ainda em The Matrix Reloaded, Neo conversa com “O Arquiteto”, referência ao nome dado na Maçonaria e em algumas Ordens para classificar Deus, O Criador, sendo este o “Grande Arquiteto do Universo”.
Por trás dos efeitos especiais, das histórias aparentemente sem sentidos criadas apenas para gerar dúvidas, podemos encontrar estas e outras tantas referências a um conhecimento Esotérico, Oculto, Velado, tão nítido que se torna opaco, necessário ler nas entrelinhas das entrelinhas para descobrir um maravilhoso mundo sem regras e limitações, mundo este, dominado e desfrutado pelos “programadores da Matrix” (Iniciados).
“Eu não vim aqui te dizer como isso vai acabar. Eu vim aqui te dizer como vai começar...”
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Davi Oliveira é graduado em Música pela UFCA, violoncelista e compositor de músicas minimalistas. Estuda e trabalha com performance, dança contemporânea, teatro e Cinema. É terapeuta Holístico, professor de Yoga, Tai Chi Chuan, Reikiano e estudante de Esoterismo.
Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 34, de agosto de 2016), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.
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