Domingo
E eu, que sou mais novo?!
E eu, que não sou militante?!
Eu não sou milionário
Que não sou engajado
Que não sou malabarista
Que não sou graduado, pós-graduado, pós pós graduado
E eu, que nunca fui preso?!
E eu, que não sou perfeccionista?!
Que não sou percussionista
Que não sou poeta
Que não sou professor
Que não sou partidário, prefeito, presidente
E eu, que sou bobo?!
E eu, que caio no conto do vigário?!
Que compro o falso bilhete premiado
Que sonho com a sorte grande
Que assisto novela das oito
Que erro juízo, caio em falácia, cometo engano
E eu, que sou fraco?!
E eu, que sou feio?!
Que fico pelos cantos
Que falo frases ininteligíveis
Que faço furdunços frouxos
Que falseio filosofando frivolidades
E eu, que sou insone?!
E eu, que não me adequo?!
Que não me voluntario
Que não ingresso
Que não vou junto
Que não me curvo
E eu, que sou inapto?!
E eu, que muito observo?!
Que tenho bons amigos
Que sei dos dias melhores
Que percebo, agora, minha violência, meus medos, a incompatibilidade com o real
Que, agora, só, sorrindo, vivo
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Matos é caririense, e atualmente vive em Cuiabá-MT. Mesmo se dizendo um não-poeta, faz de suas palavras poesia.
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