sexta-feira, 8 de julho de 2016
Sobre ‘O Menino e o Mundo’
por Virgínia Macedo
Embora as animações tenham ganhado um caráter tecnológico, com traços realistas e grandes produções, O Menino e o Mundo surpreende pelos traços simples e infantis. A animação é toda em 2D, com grandes espaços brancos que remetem a um rabisco em uma folha. A história é contada por meio de gestos e diálogos distorcidos, deixando as falas impossíveis de serem compreendidas, abrindo um leque de interpretações. No decorrer do filme, estamos o tempo todo com a personagem principal, acompanhado a rotina da família, os momentos e as sensações e partimos junto com ele em uma viagem de cores. O filme é muito sensorial e colorido: tudo é representado por cores, vivas e mortas, nos deixando cada vez mais entregues à história.
Ao contrário das grandes produções de animações hollywoodianas, com um ritmo mais frenético e imagens mais sofisticadas, o diretor Alê Abreu brinca com um universo lúdico para mostrar os perfis dos agricultores, da cidade grande, da solidão dos trabalhadores, da mudança nas fábricas, da poluição, da falta de assistência com as pessoas carentes, do militarismo, da arte, etc. Tudo é pensando de modo a misturar fantasia e realidade, pois em um mundo visto por uma criança esses limites não são fáceis de estabelecer. Um dos aspectos mais impressionantes no filme é a forma como ele é montado, com muitas colagens de propaganda e carros, imagens reais de poluição e desmatamento em um determinado momento do filme, mostrando sua real intenção: impactar e mostrar a realidade sobre a sociedade atual.
O filme termina por ser mais melancólico que alegre, apesar de todas as cores e as músicas. Ele contrasta o mundo infantil e o adulto, os momentos alegres e os tristes, levantando uma discussão sobre nossas atitudes para com o espaço em que vivemos. Tudo isso faz com que O Menino e o Mundo se torne muito mais complexo e denso do que seu traço simples e seu universo lúdico permitiriam supor.
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Virgínia Macedo é estudante de Biblioteconomia na UFCA e integrante do Grupo de Estudos Sétima de Cinema.
Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 29, de março de 2016), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.
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