segunda-feira, 27 de junho de 2016
‘Acho que já vi esse filme!’: o que se pode (re)ver nas salas de exibição de filmes
por Alan Samuel
Em 2015 assistimos ao retorno de três grandes franquias às salas de exibição de filmes mundo afora: Mad Max, Jurassic Park e O Exterminador do Futuro (e antes que o ano termine ainda teremos Star Wars!). Entrementes também pudemos ver a consolidação de um novo gênero cinematográfico que já vem aumentando sua força há alguns anos, os famigerados «filmes de super-heróis», como a sequência de Os Vingadores, por exemplo. Isso somado a algumas adaptações de livros infanto-juvenis e/ou de teor distópico, filmes de terror que mais parecem comédias e comédias terríveis, foram «o melhor» que a indústria pôde nos oferecer.
Esse panorama esdrúxulo me levou a algumas questões: 2015 é o ano da nostalgia ou é só a retroalimentar fábrica de sonhos hollywoodiana iniciando mais um ciclo de reciclagem dos filmes que se mostraram máquinas de fazer dinheiro? Podem os quadrinhos serem acoplados à sétima arte, a exemplo da literatura, ou as novas adaptações continuarão, no máximo, a servirem de desculpa para quem não gosta de ler e prefere assistir filmes em vez de ir ao cinema? A criatividade acabou ou só caiu em desuso devido a sua periculosidade? Questões presentes de forma implícita na peculiar sensação de dèja vú expressa no comentário «acho que já vi esse filme» que tem surgido com uma frequência cada vez mais incômoda sempre que alugo um acento para assistir um lançamento.
Acredito que, assim como as perguntas, as respostas também são dúbias e que esse maniqueísmo seja uma característica dos nossos dias. Vejamos: Esse admirável cinema novo é um sinal dos tempos em referência e reverência aos clássicos do final do séc. XX, se levarmos em conta a importância dos filmes originais de suas franquias (os debates suscitados e as novas tecnologias inseridas ao processo de produção), e uma homenagem a outras artes como literatura e quadrinhos. Mas, como já sabemos, também é a «receita que deu certo» sendo, descaradamente, explorada ao máximo.
Apesar do sucesso de público (ou justamente por causa disso!), os multicoloridos filmes de super-heróis dos últimos tempos fazem parte dessa lógica de mais do mesmo, percebam que os roteiros são todos iguais com variações mínimas entre a «Jornada do herói» e a «Lenda do predestinado». Clichês à parte, eles estão sempre me fazendo rir... Ou chorar... Ou chorar de rir!
Esse status de filme-pipoca no limbo do entretenimento ainda consegue ser reforçado no seu próprio habitat – O todo-poderoso Os Vingadores: A era de Ultron (The Avengers: Age of Ultron, 2015) foi deixado para trás no critério que mais importa nesse meio, arrecadação, pelo também nada humilde remake/reboot/continuação Jurassic World (Jurassic World, 2015) que já detém a 3ª maior bilheteria da história! – de fato, mesmo eu, um apreciador do gênero desde o Batman de Tim Burton (Batman; 1989) não posso dizer muito a favor deles, mas acredito nas exceções.
Quanto à criatividade, eis aí uma questão delicada. Sabemos que, quanto maior o orçamento de um filme, menos poder terá o diretor quanto a qualquer aspecto da produção; se um diretor não quer seguir a receita que mais provavelmente resultará em rios de dinheiro, basta arranjar outro para tocar o projeto. Ao mesmo tempo, as inovações transformaram-se num investimento de altíssimo risco (que o digam os irmãos Wachowski!), pois o público, de tão acostumado a mais do mesmo sempre, passou a rejeitar o novo de uma forma preocupante – «Birdman não é um filme de super-herói? O que é isso então?».
Enquanto o público/cliente lota salas escuras e climatizadas para comer e fazer barulho como babuínos bobocas balbuciando em bando e aproveita o ensejo para assistir um filme sobre o qual tudo já sabem, as plateias de cinema no cariri que frequentam as salas do Cinemarana, Cinematógrapho e Cine Café continuam com seus simpatizantes da sétima arte e curiosos que aceitam o desafio de pensar e debater sobre as obras cinematográficas e os artistas que as conceberam e interpretaram. Esse segundo grupo, provavelmente, terá insights em vez de dèja vú’s; quanto a mim, em vez de «acho que já vi esse filme», penso: preciso assistir mais uma vez essa obra de arte!
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Alan Samuel é graduado em psicologia e pós-graduando em Gestalt Terapia. Natural da região do Araripe, no sertão pernambucano, reside no Cariri desde 2010, onde, além das formações, tem realizado estudos socioantropológicos e culturais sobre política e perversão. Compõe o grupo de estudos “Sétima” desde fevereiro de 2015.
Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 27, de dezembro de 2015), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.
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