maria de araújo
tu que deverias estar aqui e não estás.
olho-te defronte um jazigo vazio.
aquele pequeno corpo - invólucro de milagres - que milagrosamente trouxera
[à tona uma cidade que há mais de século se fazia miúdo lugar no fim do mundo.
teus restos - ossos e resíduos putrefatos - foram banidos desta realidade
[por facínoras delegados duma religião maquiavélica.
seriam santos teus despojos depositados nesta vala?
a crença do homem é teu esquecimento.
tu, que sufocada pelo silêncio da rua padre cícero - ironicamente - arrancada dos braços
[daquele povo antigo que desejava banhar-se com teu
[sangue fruto de visões divinas.
tua pobreza te puniu.
tua pele negra te puniu.
teu sexo te puniu.
teu povo te puniu.
teu santo te puniu.
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Poema: Ythallo Rodrigues
Ilustração: Reginaldo Farias
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