quarta-feira, 26 de dezembro de 2012
Sábado no Crato: evento 'Anama Cariri'
Anama Cariri
"Abre teu terreiro"
Com Trotsk, Aquiles Salles, Ranier Oliveira, AR51, Circo du Sopé, Roteiro Poético-Boêmio
Sábado, 29 de dezembro de 2012, 19h
Na Praça Siqueira Campos (Crato-CE).
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quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
Depois do Fim do Mundo, A Festa!
quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
Milésima postagem do blog oberro.net
Chegamos à postagem de número 1000! Esta é exatamente a milésima postagem do Blog oberro.net.
Nas 999 postagens anteriores tratamos de 1001 coisas: música, cinema, literatura; postamos vídeos engraçados (outros nem tanto), entrevistas com artistas caririenses, com artistas de outras fronteiras; também tiramos textos (d'O Berro impresso e de outras publicações) das prateleiras empoeiradas e colocamos no ciberespaço, etc.
E obviamente que não podemos esquecer da saga do Centenário de Juazeiro do Norte, em 2011, quando publicamos (durante 100 dias seguidos, com publicações diárias) 100 postagens falando sobre os mais variados aspectos da história e da arte juazeirense, também mostrando muitas fotos e vídeos da terra do Padim Ciço.
Além dessa variedade de assuntos, cousas e causos, tratamos sempre de divulgar eventos culturais da Região do Cariri cearense. Com esse propósito de "agenda cultural" damos sequência, na internet, a um trabalho que começou em meados de 2001, quando passamos a publicar nas quintas-feiras a Agenda Cultural O Berro, no impresso Jornal do Cariri. Na sequência, entre 2002 e 2003, surgiu o Guia Cultural O Berro, impresso que era distribuído gratuitamente em Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha (e cidades circunvizinhas), semanalmente, divulgando o que estava acontecendo no Cariri. Hoje essa divulgação é mais direta, imediata, possibilitada pelo grande uso e alcance da internet atualmente.
E assim O Berro segue trilhando seus passos, para tentar chegar a duas, três, quatro mil postagens... Esperando sempre contar com os amigos leitores e colaboradores, que foram fundamentais para chegarmos até aqui e serão sempre fundamentais para que o trabalho prossiga. Agradecemos a todos e esperamos que venham coisas ainda melhores pela frente!
Equipe O Berro:
Hudson Jorge, Luís André Bezerra, Reginaldo Farias, Xico Fredson, Ythallo Rodrigues
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Show de Dudé Casado em Juazeiro
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
Fundação Casa Grande comemorará 20 anos nesta quarta-feira
Acontecerá nesta quarta, dia 19 de dezembro, a festa em comemoração aos vinte anos da Fundação Casa Grande - Memorial do Homem Kariri. Como acontece tradicionalmente, o evento contará com a Renovação do Coração de Jesus e apresentações de grupos da tradição popular como o Reisado dos Irmãos (Juazeiro do Norte-CE), Côco Mestre Marinês (Crato-CE), Banda Cabaçal Irmãos Aniceto (Crato-CE).
Na oportunidade, serão lançados o selo personalizado e carimbo comemorativo dos vinte anos de Fundação Casa Grande pelos Correios do Brasil e o Livro Turístico do Cariri, pelo Ministério do Turismo do Brasil, no Teatro Violeta Arraes – Engenho de Artes Cênicas.
Em homenagem à instituição, publicamos matéria veiculada na Revista Geral em 2002, sobre uma visita que fizemos à Casa Grande juntamente com seus editores. Bons tempos!
Mais informações sobre a Fundação podem ser encontradas no site e no blog da instituição:
www.fundacaocasagrande.org.br
www.blogfundacaocasagrande.wordpress.com
Festa de 20 anos da Fundação Casa Grande - Memorial do Homem Kariri
Na oportunidade, serão lançados o selo personalizado e carimbo comemorativo dos vinte anos de Fundação Casa Grande pelos Correios do Brasil e o Livro Turístico do Cariri, pelo Ministério do Turismo do Brasil, no Teatro Violeta Arraes – Engenho de Artes Cênicas.
Em homenagem à instituição, publicamos matéria veiculada na Revista Geral em 2002, sobre uma visita que fizemos à Casa Grande juntamente com seus editores. Bons tempos!
Mais informações sobre a Fundação podem ser encontradas no site e no blog da instituição:
www.fundacaocasagrande.org.br
www.blogfundacaocasagrande.wordpress.com
Festa de 20 anos da Fundação Casa Grande - Memorial do Homem Kariri
Quarta-feira, dia 19 de dezembro de 2012, a partir das 17h
Av. Jeremias Pereira, 444, Nova Olinda-CE
Fone/Fax (88) 3546-1333.
'O Homem do Sputnik', filme de Carlos Manga, em exibição no Cinematógrapho
Cinematógrapho (com mediação de Elvis Pinheiro)
Exibição de O Homem do Sputnik
Título original: O Homem do Sputnik
Direção: Carlos Manga
Roteiro: José Cajado Filho
Elenco: Oscarito, Cyll Farney, Zezé Macedo, Norma Benguell, Jô Soares, Alberto Perez
Duração: 98 minutos
Ano: 1959
País de origem: Brasil
"Uma das últimas comédias de peso do estúdio carioca Atlântida, o filme de Carlos Manga registra uma das mais impagáveis interpretações de Oscarito (1906-1970), na pele de um homem simplório cuja vida muda radicalmente depois que um suposto satélite russo cai em seu galinheiro. Ao seu lado, no papel de sua mulher, a comediante Zezé Macedo oferece um divertido contraponto, sonhando com riqueza e ascensão social. O roteiro de José Cajado Filho introduz um tempero político, ao colocar no centro da trama a disputa do objeto pelas duas superpotências da época, os EUA e a então URSS, mas não deixa de incluir também a participação dos franceses, tornando a situação ainda mais rocambolesca. A produção marca a estreia cinematográfica de Norma Bengell e Jô Soares." (sinopse da divulgação do evento)
Exibição na quarta-feira, dia 19 de dezembro de 2012, às 19h
No Teatro SESC Patativa do Assaré (Juazeiro do Norte-CE). Entrada gratuita.
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segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
Matéria sobre a 'Fundação Casa Grande' na Revista Geral, em 2002
Arquivo Cariri # 23 | Do papel # 19
Na próxima quarta-feira, dia 19 de dezembro de 2012, a Fundação Casa Grande (de Nova Olinda-CE) terá a comemoração dos seus 20 anos de atividades. Resolvemos então relembrar uma matéria publicada pela Revista Geral, em 2002, quando a equipe da publicação visitou a Fundação (na ocasião, a caravana formada pelos "gerais" Renato Vidal, Cecilia Sobreira, Michel Macedo, Katiuscia Furtado e Susana Oliveira também contou com os berristas Hudson Jorge e Luís André).
Reproduzimos o texto publicado em 2002 para lembrar um pouco dessa história, que se passou há 10 anos. Clique nas imagens para ampliá-las.
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Fundação Casa Grande de Nova Olinda
Revista Geral (ano 3, nº 11, set/out 2002)
Na próxima quarta-feira, dia 19 de dezembro de 2012, a Fundação Casa Grande (de Nova Olinda-CE) terá a comemoração dos seus 20 anos de atividades. Resolvemos então relembrar uma matéria publicada pela Revista Geral, em 2002, quando a equipe da publicação visitou a Fundação (na ocasião, a caravana formada pelos "gerais" Renato Vidal, Cecilia Sobreira, Michel Macedo, Katiuscia Furtado e Susana Oliveira também contou com os berristas Hudson Jorge e Luís André).
Reproduzimos o texto publicado em 2002 para lembrar um pouco dessa história, que se passou há 10 anos. Clique nas imagens para ampliá-las.
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Fundação Casa Grande de Nova Olinda
Revista Geral (ano 3, nº 11, set/out 2002)
Quando resolvemos fazer uma matéria sobre a Casa Grande, sabíamos apenas 3 coisas sobre esta instituição: 1) que é administrada por Alemberg Quindins e Rosiane Limaverde, músicos do espetáculo A Lenda e donos da Rádio Centro; 2) que tem o apoio do Criança Esperança; e 3) que é um projeto cultural e filantrópico. Apesar das informações prévias, nos surpreendemos com a organização e grandiosidade de tudo o que vimos.
Ao chegar à sede, no Centro de Nova Olinda, fomos atendidos pela recepcionista Ana Paula, garotinha de 11 anos que nos mostrou o Memorial do Homem Kariri e nos deu todas as informações bem explicadas. O museu funciona numa casa muito antiga, mas que conserva suas características originais, abrigando objetos indígenas e detalhes das culturas dos Kariris, que viveram na nossa região há muitos anos. Também tem fotos gigantes de cascatas, cânions e outros pontos turísticos naturais da cidade, acompanhados de textos com as lendas relacionadas ao local, uma delas conta a história de um castelo encantado que desaparece, ficando visível apenas a ponte (Ponte de Pedra).
Depois do museu, passamos por uma mini-horta bem organizada (com plaquinhas e tudo mais) e nos dirigimos à Rádio Casa Grande. Lá conhecemos Tontóim, também de 11 anos, que comanda um dos programas e, como um profissional, nos intervalos do programa nos mostrou o estúdio e posou para fotos com a gente. Ainda entramos na biblioteca, onde nossa “diretora comercial” ganhou um retrato em giz de cera das crianças que participavam de uma oficina de desenho. Foi comovente ver crianças de 8 anos instruindo outras ainda mais novas nas técnicas de desenho.
Ao chegar à sede, no Centro de Nova Olinda, fomos atendidos pela recepcionista Ana Paula, garotinha de 11 anos que nos mostrou o Memorial do Homem Kariri e nos deu todas as informações bem explicadas. O museu funciona numa casa muito antiga, mas que conserva suas características originais, abrigando objetos indígenas e detalhes das culturas dos Kariris, que viveram na nossa região há muitos anos. Também tem fotos gigantes de cascatas, cânions e outros pontos turísticos naturais da cidade, acompanhados de textos com as lendas relacionadas ao local, uma delas conta a história de um castelo encantado que desaparece, ficando visível apenas a ponte (Ponte de Pedra).
Depois do museu, passamos por uma mini-horta bem organizada (com plaquinhas e tudo mais) e nos dirigimos à Rádio Casa Grande. Lá conhecemos Tontóim, também de 11 anos, que comanda um dos programas e, como um profissional, nos intervalos do programa nos mostrou o estúdio e posou para fotos com a gente. Ainda entramos na biblioteca, onde nossa “diretora comercial” ganhou um retrato em giz de cera das crianças que participavam de uma oficina de desenho. Foi comovente ver crianças de 8 anos instruindo outras ainda mais novas nas técnicas de desenho.
Tivemos o prazer de assistir a uma apresentação da Bandinha de Lata, formada pelos alunos da escolinha com até 9 anos de idade, que quando ficam maiores e mais experientes têm a oportunidade de participar da banda Os Meninos da Casa Grande, que já se apresentou na Praça da Sé (Crato). Dela já fazem parte, além de outros, Samara (vocalista), Tontóim (o da rádio) e dois garotos de 17 anos que estão montando uma banda de jazz — uma de nossas maiores surpresas. Samuel, um deles, tem um programa de blues e jazz na rádio da Fundação e de lá tirou conhecimentos para montar a banda.
Próxima parada: Editora Casa Grande. Quem nos atendeu foi Mêires, uma menina bem articulada de 19 anos que, com a maior simpatia, tirou nossas dúvidas e nos mostrou fotos, matérias, revistas em quadrinhos (desenhadas pelos alunos) e o Kariuzinho, jornal que circula dentro da Casa Grande e conta com a participação de todos, inclusive de convidados. Mêires também frequenta as oficinas de vídeo ministradas por alunos da UFC, que, uma vez por mês, vêm trocar informações com o pessoal da instituição, numa parceria feita com a Universidade Federal do Ceará.
Outro empreendimento que nos surpreendeu foi o teatro que estava sendo construído no local (já deve estar pronto) com recursos do BNDES — que apesar de ser pequeno tem uma arquitetura semelhante à de teatros europeus.
Terminada nossa visita, saímos de lá com a certeza de que basta querer para transformar a realidade de pessoas sem esperanças, em certeza de um futuro promissor.
Próxima parada: Editora Casa Grande. Quem nos atendeu foi Mêires, uma menina bem articulada de 19 anos que, com a maior simpatia, tirou nossas dúvidas e nos mostrou fotos, matérias, revistas em quadrinhos (desenhadas pelos alunos) e o Kariuzinho, jornal que circula dentro da Casa Grande e conta com a participação de todos, inclusive de convidados. Mêires também frequenta as oficinas de vídeo ministradas por alunos da UFC, que, uma vez por mês, vêm trocar informações com o pessoal da instituição, numa parceria feita com a Universidade Federal do Ceará.
Outro empreendimento que nos surpreendeu foi o teatro que estava sendo construído no local (já deve estar pronto) com recursos do BNDES — que apesar de ser pequeno tem uma arquitetura semelhante à de teatros europeus.
Terminada nossa visita, saímos de lá com a certeza de que basta querer para transformar a realidade de pessoas sem esperanças, em certeza de um futuro promissor.
Outras informações
- Além de escola, teatro, biblioteca, editora, rádio, estúdio para ensaios, a Fundação também possui sala de vídeo com canais por assinatura e um pequeno alojamento para os alunos;
- A instituição funciona no prédio onde foi a primeira escola de Nova Olinda, mantendo fotos e documentos da história do estabelecimento;
- O prédio do Memorial do Homem Kariri, construção centenária e histórica, pertencia à família de Alemberg Quindins (administrador do projeto) e ficou pra ele como herança, que transformou em museu;
- O Governo do Estado prometeu financiar a edição de uma das histórias em quadrinhos educativas feitas pelos alunos e distribuir em colégios de todo o Estado;
- Os integrantes da banda Os Meninos da Casa Grande também se apresentam no espetáculo A Lenda.
- Além de escola, teatro, biblioteca, editora, rádio, estúdio para ensaios, a Fundação também possui sala de vídeo com canais por assinatura e um pequeno alojamento para os alunos;
- A instituição funciona no prédio onde foi a primeira escola de Nova Olinda, mantendo fotos e documentos da história do estabelecimento;
- O prédio do Memorial do Homem Kariri, construção centenária e histórica, pertencia à família de Alemberg Quindins (administrador do projeto) e ficou pra ele como herança, que transformou em museu;
- O Governo do Estado prometeu financiar a edição de uma das histórias em quadrinhos educativas feitas pelos alunos e distribuir em colégios de todo o Estado;
- Os integrantes da banda Os Meninos da Casa Grande também se apresentam no espetáculo A Lenda.
(Revista Geral, setembro/outubro de 2002)
Alemberg Quindins e a Fundação Casa Grande no Programa Brasil Legal, em 1997:
domingo, 16 de dezembro de 2012
'Sem Destino', filme de Dennis Hopper: um clássico dos anos 1960
Grifo nosso # 63
Sem Destino (Easy Rider, 1969)
"Sem destino é um daqueles filmes cuja importância vai muito além de seu status como obra de arte. A narrativa não é muito densa, Dois jovens, apelidados de Captain America (Petrer Fonda) e Billy (Dennis Hopper), ganham muito dinheiro vendendo drogas que compram ao sul da fronteira com o México. Sentindo-se ricos, decidem realizar uma antiga ambição de visitar Nova Orleans durante o Mardi Gras, o maior carnaval americano. Compram um par de motocicletas e partem para cruzar o país. Ao longo do caminho, passam por alguns ícones célebres do Oeste americano, incluindo Monument Valley e Taos Pueblo, e acabam sendo presos. Seu companheiro de cela é um simpático advogado bêbado que os ajuda a sair da cadeia e resolve seguir viagem com eles. Finalmente em Nova Orleans, entram numa viagem de LSD com duas prostitutas em um cemitério e tudo isso leva a um final chocante.
Essa narrativa aparentemente sem importância tornou-se um dos filmes mais importantes da geração pós-1968 em Hollywood, um dos primeiros a colocar a 'sociedade alternativa' na tela. Os dois tornaram-se personagens emblemáticos: Hopper com seu cabelo longo, óculos escuros e colar indígena, Fonda com o seu capacete e motocicleta pintados como a bandeira americana. Há consumo de droga abundante (supostamente entre o elenco e a equipe, bem como no filme em si). Nossos heróis mergulham nus com alguns hippies amáveis e se dedicam à filosofia alimentada pela maconha, em torno da fogueira, com o seu amigo advogado George. Interpretado por Jack Nicholson em seu primeiro grande papel, George é filho de um homem rico que rejeita a sociedade careta, articulando a maior parte do que é visto como a posição ideológica do filme. Na sua visão, o país está arruinado, apavorado com tudo o que não é convencional: 'É realmente difícil ser livre quando você pode ser comprado e vendido no mercado'.
Sem destino desafiou boa parte da sabedoria convencional de Hollywood. É um filme de e para os jovens (Hopper só tinha 32 anos quando o dirigiu), com a trilha sonora de grandes expoentes da contracultura como Steppewolf, Jimi Hendrix e Bob Dylan. Nenhum dos atores principais (Nicholson, Hopper e Fonda) era uma grande estrela. A narrativa é tão liberal quantod os personagens. Não há uma história de amor convencional e o filme tem um final brutal e infeliz. Feito com um orçamemnto muito pequeno, foi um enorme êxito de bilheteria. Ajudou a abrir o caminho de Hollywood, inclusive novos filmes para exibir o talento de Nicholson, como Cada um vive como quer e O dia dos loucos.
Algum tempo depois houve uma forte discordância sobre quem exatamente fez o quê no filme. Hopper reivindicou que a concepção havia sido sua, não só como diretor e ator principal mas também, de acordo com ele, como responsável pelo roteiro. Há quem veja a situação de outra forma, afirmando que a maior parte das cenas mais articuladas do filme, como as conversas que envolvem George, por exemplo, foi cuidadosamente redigida com antecedência por Terry Southern, cujos créditos anteriores incluem Dr. Fantástico, de Stanley Kubrick. Contudo, há uma coisa sobre o qual todos concordam — que o título foi criação de Southern."
EUA (BBS, Columbia, Pando, Raybert) 94 minutos, Technicolor; idiomas: inglês / espanhol; direção: Dennis Hopper; produção: Peter Fonda, William Hayward, Bert Schneider; roteiro: Peter Fonda, Dennis Hopper, Terry Southern; fotografia: László Kovács; música: Hoyt Axton, Mars Bonfire, Roger McGuinn, Jimi Hendrix; elenco: Peter Fonda, Dennis Hopper, Antonio Mendoza, Jack Nicholson, Phil Spector, Mac Mashourian, Warren Finnerty, Tita Colorado, Luke Askew, Luana Anders, Sabrina Scharf, Robert Walker Jr., Sandy Wyeth, Robert Ball, Carmen Phillips, Ellie Wood Walker; Indicação ao Oscar: Peter Fonda, Dennis Hopper, Terry Southern (roteiro), Jack Nicholson (ator coadjuvante); Festival de Cannes: Dennis Hopper (melhor estreia), indicação (Palma de Ouro).
Edward Buscombe, no livro 1001 filmes para ver antes de morrer (Editora Sextante, 2008).
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Sem Destino será exibido nesta segunda-feira (17-12-2012), no Cinemarana do SESC Crato-CE. Para mais informações sobre o evento, clique aqui.
"Sem destino é um daqueles filmes cuja importância vai muito além de seu status como obra de arte. A narrativa não é muito densa, Dois jovens, apelidados de Captain America (Petrer Fonda) e Billy (Dennis Hopper), ganham muito dinheiro vendendo drogas que compram ao sul da fronteira com o México. Sentindo-se ricos, decidem realizar uma antiga ambição de visitar Nova Orleans durante o Mardi Gras, o maior carnaval americano. Compram um par de motocicletas e partem para cruzar o país. Ao longo do caminho, passam por alguns ícones célebres do Oeste americano, incluindo Monument Valley e Taos Pueblo, e acabam sendo presos. Seu companheiro de cela é um simpático advogado bêbado que os ajuda a sair da cadeia e resolve seguir viagem com eles. Finalmente em Nova Orleans, entram numa viagem de LSD com duas prostitutas em um cemitério e tudo isso leva a um final chocante.
Essa narrativa aparentemente sem importância tornou-se um dos filmes mais importantes da geração pós-1968 em Hollywood, um dos primeiros a colocar a 'sociedade alternativa' na tela. Os dois tornaram-se personagens emblemáticos: Hopper com seu cabelo longo, óculos escuros e colar indígena, Fonda com o seu capacete e motocicleta pintados como a bandeira americana. Há consumo de droga abundante (supostamente entre o elenco e a equipe, bem como no filme em si). Nossos heróis mergulham nus com alguns hippies amáveis e se dedicam à filosofia alimentada pela maconha, em torno da fogueira, com o seu amigo advogado George. Interpretado por Jack Nicholson em seu primeiro grande papel, George é filho de um homem rico que rejeita a sociedade careta, articulando a maior parte do que é visto como a posição ideológica do filme. Na sua visão, o país está arruinado, apavorado com tudo o que não é convencional: 'É realmente difícil ser livre quando você pode ser comprado e vendido no mercado'.
Sem destino desafiou boa parte da sabedoria convencional de Hollywood. É um filme de e para os jovens (Hopper só tinha 32 anos quando o dirigiu), com a trilha sonora de grandes expoentes da contracultura como Steppewolf, Jimi Hendrix e Bob Dylan. Nenhum dos atores principais (Nicholson, Hopper e Fonda) era uma grande estrela. A narrativa é tão liberal quantod os personagens. Não há uma história de amor convencional e o filme tem um final brutal e infeliz. Feito com um orçamemnto muito pequeno, foi um enorme êxito de bilheteria. Ajudou a abrir o caminho de Hollywood, inclusive novos filmes para exibir o talento de Nicholson, como Cada um vive como quer e O dia dos loucos.
Algum tempo depois houve uma forte discordância sobre quem exatamente fez o quê no filme. Hopper reivindicou que a concepção havia sido sua, não só como diretor e ator principal mas também, de acordo com ele, como responsável pelo roteiro. Há quem veja a situação de outra forma, afirmando que a maior parte das cenas mais articuladas do filme, como as conversas que envolvem George, por exemplo, foi cuidadosamente redigida com antecedência por Terry Southern, cujos créditos anteriores incluem Dr. Fantástico, de Stanley Kubrick. Contudo, há uma coisa sobre o qual todos concordam — que o título foi criação de Southern."
EUA (BBS, Columbia, Pando, Raybert) 94 minutos, Technicolor; idiomas: inglês / espanhol; direção: Dennis Hopper; produção: Peter Fonda, William Hayward, Bert Schneider; roteiro: Peter Fonda, Dennis Hopper, Terry Southern; fotografia: László Kovács; música: Hoyt Axton, Mars Bonfire, Roger McGuinn, Jimi Hendrix; elenco: Peter Fonda, Dennis Hopper, Antonio Mendoza, Jack Nicholson, Phil Spector, Mac Mashourian, Warren Finnerty, Tita Colorado, Luke Askew, Luana Anders, Sabrina Scharf, Robert Walker Jr., Sandy Wyeth, Robert Ball, Carmen Phillips, Ellie Wood Walker; Indicação ao Oscar: Peter Fonda, Dennis Hopper, Terry Southern (roteiro), Jack Nicholson (ator coadjuvante); Festival de Cannes: Dennis Hopper (melhor estreia), indicação (Palma de Ouro).
Edward Buscombe, no livro 1001 filmes para ver antes de morrer (Editora Sextante, 2008).
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Sem Destino será exibido nesta segunda-feira (17-12-2012), no Cinemarana do SESC Crato-CE. Para mais informações sobre o evento, clique aqui.
'Sem Destino', filme de Dennis Hopper, em exibição no Cinemarana
Cinemarana (com mediação de Elvis Pinheiro)
Exibição de Sem Destino
Título original: Easy Rider
Direção: Dennis Hopper
Roteiro: Peter Fonda, Dennis Hopper, Terry Southern
Elenco: Dennis Hopper, Peter Fonda, Jack Nicholson, Karen Black, Phil Spector, Toni Basil
Duração: 95 minutos
Ano: 1969
País de origem: Estados Unidos
Exibição na segunda-feira, dia 17 de dezembro de 2012, às 19h
No SESC Crato-CE. Entrada gratuita.
Para ler um texto sobre o filme Sem Destino, clique aqui.
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sábado, 15 de dezembro de 2012
Em Juazeiro: sábado com muito rock na final do Covernation
sexta-feira, 14 de dezembro de 2012
Sábado com 'Roteiro Poético-Boêmio' no Calçadão do Crato
"Amantes da noite, da boa música e da vida que se cala durante o dia, mas que anseiam gritar com toda força ao pôr do sol e adentrando as madrugadas. Desse modo surgiu o Roteiro Poético-Boêmio, abrindo espaço na vida noturna da cidade para recitais nos quais se encontram poetas, declamadores ou, simplesmente, amantes da palavra." (sinopse da divulgação do evento)
Literatura em Revista
Roteiro Poético-Boêmio
Sábado, 15 de dezembro de 2012, 20h
No Calçadão (Crato-CE)
Gratuito.
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'Fuga pela Claraboia', de Francisco de Freitas Leite, é tema do Clube do Leitor
Francisco de Freitas Leite nos presenteia com uma poesia autêntica que traz a expressão do mestre ao esculpir o verso, representação da alma e do cântico interior, uma incrível viagem pelos sentidos. Obra indicada para o Vestibular da URCA 2013. (sinopse da divulgação do evento)
Clube do Leitor do CCBNB
Fuga pela Claraboia
Facilitador: Prof. Ms. Flávio Queiroz
Produção e mediação: Ravena Monte
Sexta-feira, 14 de dezembro de 2012, 17h30
No Centro Cultural Banco do Nordeste Cariri (Juazeiro do Norte-CE)
Entrada gratuita.
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quinta-feira, 13 de dezembro de 2012
Trechos da grande entrevista de Luiz Gonzaga para o Pasquim, em 1971
Grifo nosso # 62
"A gente não se perdoa de só agora, na edição 111 [17 a 23 de agosto de 1971], entrevistar uma das figuras mais quentes, mais importantes, mais talentosas da nossa música popular: Luiz Gonzaga, o velho Rei do Baião, nordestino legítimo de cara, alma e coração. Pra compensar nosso atraso, resolvemos (modéstia à parte) dar um banho em matéria de Luiz Gonzaga.
Após a entrevista, ele apanhou a sua sanfona no carro e deu um show pra gente aqui na redação. O negócio foi tão bom que juntou gente na rua. Mas isso não dá pra transcrever no jornal. Foi impossível, apesar dos nossos esforços, botar som nesta edição d'O Pasquim.
O PASQUIM - Luiz Gonzaga, como é que você está se sentindo depois que você voltou à moda?
LUIZ GONZAGA - É danado, né? É melhor vocês falarem de mim porque eu mesmo não sei o que sou, não sei porque falam de mim. Eu não entendo nada, eu vou levando. Pra mim tanto faz. Que é bacana, é, mas deixa o povo falar. Vocês me conhecem mais do que eu próprio.
O PASQUIM - Na época que você esteve afastado aqui do centro do Brasil você não sentiu falta? Você nunca parou de fazer sucesso? Quando os seus discos pararam de vender aqui no sul você continuou a fazer sucesso no interior e no Nordeste, não é?
GONZAGA - É interessante, eu nunca me senti bem para caitituagem. Chegar com o disco debaixo do braço e pedir para tocar, eu sempre achei isso horrível. Eu sabia que se eu caitituasse, se pedisse, se implorasse, eu conseguiria alguma coisa, mas meu temperamento não permitia. Uma vez eu procurei um disc jockey meu conhecido, pela afinidade de termos trabalhado na Mayrink Veiga juntos e ele ser madurão como eu, pedi para ele tocar uma música minha no programa dele e ele me disse: 'Gonzaga, você passou, me desculpe a franqueza'. Aí eu botei minha viola no saco e fiquei com vergonha de chegar em casa. Fui para Miguel Pereira, sumi. Então, daí pra cá eu fechei o balaio. Eu vou dizer o nome dele! Isaac Zaltman.
O PASQUIM - Mas você continuava enchendo praça, auditórios, circo, teatro, no interior do Brasil, não é? Ou você estava parado?
GONZAGA - Tem provérbio que diz: Deus escreve certo por linhas torras. Eu acho que eu estava fazendo um trabalho sério sem saber que estava fazendo. Eu pegava os patrocinadores, botava nas costas e ia cantar pro povo nas festas. Eu, dificilmente, dava espetáculo no cinema, no teatro, pra cobrar, pro povo me ver cantar. Eu cantava de graça na praça para o povo. Então eu consegui reunir as maiores plateias. Daí os meninos iam me assistir, os futuros gênios, como Gil, Caetano e outros e daí saíam querendo tocar sanfona.
O PASQUIM - Você gostou da gravação de'Asa Branca' do Caetano?
GONZAGA - Comentar se eu não gostei ou gostei pra mim não é muito fácil porque eu gosto demais do Caetano, gosto mesmo. Achei o trabalho dele importante, mas eu não posso comentar porque eu gosto demais. Enfim, gostei.
(...)
O PASQUIM - Como é que você consegue patrocínio e as coisas acontecem?
GONZAGA - Por eu viajar quase sempre com patrocinadores, eu me habituei a cantar para público tão numeroso que não me sentia bem em cantar para uma plateia pequena, mesmo pagando bem. Eu me sentia sozinho. Então era um martírio pra mim ter que dar um espetáculo. Até hoje eu me sinto assim. Quando me convidam pra trabalhar numa festa, a primeira coisa que eu digo é: vão cobrar ingresso pra me ver? Se dizem vamos, eu não vou. Eu não gosto. Eu gosto de cantar para o povo livre. Eu acabei achando que fiz bem, que cobrei bem porque todo mundo me viu cantar de graça. Os maiores patrocinadores que eu tie foram: o Moura Brasil, Alpargatas Roda, Martini, Cinzano, Café Caboclo. Isso no Sul. Para o norte, Aguardente Chica Boa, Serra Grande, Pitú, Casas Pernambucanas, Lojas Paulistas.
O PASQUIM - Qual foi o maior sucesso seu, o dia mais glorioso
GONZAGA - Aconteceu comigo em Recife. Por eu estar habituado a cantar pra milhares de pessoas, por mais que eu pedisse pra fazer os espetáculos em praça pública, os diretores da rádio terminaram e me botaram dentro da rádio. Então, eu fui pra rádio, eu cheguei na rua onde estava a rádio e vi um público enorme interrompendo o trânsito. Eu não sabia o que estava acontecendo. Achei que podia ter sido um incêndio, qualquer coisa. Parei o meu carro e vim a pé pelo meio do povo. Aí eu perguntei a um popular: escuta, o que houve ali? Ele me disse: o Luiz Gonzaga vai cantar aí hoje e o povo não pode entrar porque não coube. Aí eu tive a curiosidade de observar o tamanho do público, mas eu não podia, tinha que trepar em alguma coisa. Era um mar de gente. Aí eu não me contive e tive que cantar na rua.
O PASQUIM - Você é um homem rico?
GONZAGA - Não. Sou um homem que não botei pra fora o que ganhei.
O PASQUIM - Quer dizer que o Luizinho [Gonzaguinha] tá garantido?
GONZAGA - Luizinho tem uma reguenguela muito boa.
O PASQUIM - Você deu um conselho pro seu filho na televisão, mandando ele não compor nem gravar, pra ele ser economista e juntar dinheiro. Você tem medo do futuro?
GONZAGA - Eu não dei esse conselho a ele. Eu disse pra ele fazer música como passatempo. Ele se formou em economia. Se existem milhares de rapazes fazendo o diabo pra se formar em economia, pra serem financistas, por que Luizinho, que se encontra formado, vai abandonar uma coisa que todo mundo deseja?
O PASQUIM - Mas ele é um grande compositor, rapaz.
GONZAGA - Mas ele pode ser um grande compositor e trabalhar também.
O PASQUIM - Mas você só compunha e gravava. Você nunca trabalhou na vida?
GONZAGA - Eu? E fazer show, carregar sanfona nas costas? E pular de bonde andando com sanfona na mão e pegar bonde andando com sanfona na mão, não é trabalho?
O PASQUIM - Tem uma história do Paulo Mendes Campos, não sei se você conhece. Um cara chegou na casa dele e ele estava na máquina escrevendo. Aí ele virou pro Paulinho e disse assim: se eu soubesse escrever ia ser igual a você. Nunca ia trabalhar na vida.
GONZAGA - Vocês são formidáveis, logo bagunçam o negócio.
(...)
O PASQUIM - O seu nome todo, onde vocês nasceu, como você começou, esses dados todos, porque você deve ter histórias ótimas.
GONZAGA - Eu nasci em 13 de dezembro de 1912. Nasci na fazenda Araripe, município de Exu. Fazenda da família Alencar, todos sabidos como o diabo, mas eu não aprendi a ler lá porque não deu. Eu aprendi a ler no mundo. Nas placas de rua, decorando os nomes de jornais, decorando tudo por aí. Eu sou filho de dona Santana e o velho Januário, velho macho que me fez.
O PASQUIM - O que eles eram da fazenda? Eram donos da fazenda?
GONZAGA - Donos da fazenda e cedem espaços de terra para os pobres da fazenda plantarem.
O PASQUIM - Seu Januário era o quê?
GONZAGA - Meu pai trabalhava lá. Morava num alugado. Éramos agregados da fazenda.
O PASQUIM - Não é sua fazenda agora, não?
GONZAGA - Não. Quando eu ameacei tirar o meu pai de lá e comprar um pedacinho de terra pra ele, os donos da fazenda disseram: 'Não, nós não vende terra pra estranho, não. Mas pra Januário nós vende um taquinho'. Aí eu adquiri lá mesmo um pedaço de terra onde meu pai vive.
O PASQUIM - Januário está vivo?
GONZAGA - Está vivo. Nós visitamos ele esta semana mesmo.
O PASQUIM - E sua mãe?
GONZAGA - Minha mãe, infelizmente, não.
O PASQUIM - Seu Januário ainda está com os oito baixos lá dele, firme?
GONZAGA - Ainda toca pras moças ouvirem. Não toca profissionalmente.
O PASQUIM - Ele está com quantos anos?
GONZAGA - 85 anos.
O PASQUIM - Naquela época, em 'Respeita Januário' você fala no velho Jacó. Ele existiu mesmo ou foi só pra rimar?
GONZAGA - Não, o velho Jacó existia. Era nosso vizinho lá. Era muito encrenqueiro, bebedor de cachaça. Era um derrotista, não acreditava em nada. Até os 18 anos eu fiquei ali acompanhando meu pai na roça e nos forrós. Onde ele ia eu ia pra ajudar o velho, até que eu arribei. Caí, entrei no oco do mundo até hoje.
(...)
O PASQUIM - Quando é que o Humberto Teixeira apareceu na sua vida?
GONZAGA - Humberto Teixeira apareceu numa fase justamente que eu precisava de um letrista. Eu vinha lutando com outros companheiros, Miguel Lima, J. Portela, mas eles não sentiam o Nordeste. Mas eu não queria cantar uma simples embolada. Eu queria cantar coisas bonitas do Nordeste. Eu procurei ele [Lauro Maia], e ele disse: 'Luiz, eu não posso resolver o seu problema. Mas eu tenho um cunhado que com certeza vai resolver o seu problema'.
O PASQUIM - Humberto Teixeira nunca tinha se metido com música na vida dele?
GONZAGA - Não. Ele já vinha fazendo uns sambas, uns negócios aí. Ele tinha muita tendência pra fazer música meio clássica. Ele escrevia música e tudo. Quando o Lauro me apresentou ao Humberto, eu disse: 'Eu tenho um tema pra você botar uma letrinha. Chama-se Pé-de-Serra. Olha aqui'. Aí ele foi fazendo os versos no joelho. Eu disse: 'Está ótimo, Humberto'. Ele disse: 'Mas isso não é a letra definitiva'. Eu disse: 'Peraí, nessa aí você não vai bulir mais, não. A letra é essa'. Ele disse: 'Não, depois eu vou te dar a letra definitiva'. Quando ele veio com a letra eu ainda achava que a primeira era a melhor. Aí foi um sucesso.
O PASQUIM - Quais as músicas que são tuas e quais as que a ideia é de Humberto Teixeira?
GONZAGA - Ideia de Humberto Teixeira é 'Assum Preto', 'Mangaratiba'.
O PASQUIM - 'Asa Branca'?
GONZAGA - 'Asa Branca' a ideia é minha. 'Respeita Januário' a ideia é minha mas a letra é totalmente dele. Eu só contei a história pra ele. Quando eu voltei pro sertão, depois de 15, 20 anos que eu tinha me afastado, eu queria saber quem era o melhor cantor de lá, ia investigando, querendo saber notícias. Pra todo mundo que eu perguntava eles iam dizendo: tocador aqui é Januário. O menino dele foi lá pro sul, não vem mais aqui, ficou por lá mesmo. Mas Januário aqui é o maior. A primeira música que eu toquei pro público eu notei que o povo não gostou muito. Então alguém gritou: Luiz, respeita Januário. O Humberto gostou muito dessa história e fez a letra.
O PASQUIM - O teu letrista predileto é o Humberto?
GONZAGA - Não tem dúvida.
O PASQUIM - E aquele que era médico, que morreu?
GONZAGA - Zé Dantas? Zé Dantas foi outro caso espetacular. Ele veio na onda do baião. Ficou naquela área de sertão, puro, autêntico, rimas fabulosas, E Humberto nessa área de asfalto, serão, norte, sul.
O PASQUIM - Ele é um craque.
GONZAGA - É. Nós vamos voltar a produzir outra vez.
O PASQUIM - Nesse negócio da volta de Luiz Gonzaga, você não acaha que o pessoal esqueceu um pouco o Humberto?
GONZAGA - Humberto começou a ser injustiçado pelo Ceará, terra dele. Porque Lauro Maia era muito popular lá, os cearenses bebiam com o Lauro, cantavam com o Lauro e ele era tido como líder cearense. Logo após a morte de Lauro Maia aparece Humberto. Aí começaram a acusar o Humberto de ter herdado o baú de Lauro Maia. Isso foi negativo pra ele. Como você sabe, o cantor sempre leva a melhor, e se Humberto tem aparecido, é porque eu faço questão de exaltar Humberto. Lá em Fortaleza nem adianta que ninguém acredita. Ele é um homem injustiçado. Agora, é um homem fabuloso. Ele fez um baiãozinho agora pra o LP 'O canto jovem de Luiz Gonzaga', e você vai ver que beleza. A letra diz assim:
'Bicho, com todo o respeito, dá licença eu vou voltar/ O desafio pra cabra macho enfrentar/ Falei com Carmélio e Sivuca/ Pro Zé Dantas o que eu fiz foi rezar/ Mas o caso é que modestamente/ Bicho, eu vou voltar/ Bicho, falar não é preciso/ Rei Luiz vai me ajudar/ Caetano muito obrigado por me fazer lembrar/ Não a mim mas aquilo que eu fiz/ Pro meu Brasil cantar/ Tá doido é duro seu mano/ A gente tem que respeitar/ Tem Gil, Capinam, tem Chico/ Tem Tom pra dar o Tom/ Mas se pego a viola e ponteio meus acordes mais ternos/ É duro eu me esqueço os invernos/ Bicho eu vou voltar'.
O PASQUIM - A tua relação com Gonzaguinha é boa, Luiz Gonzaga?
GONZAGA - Houve uma coisa muito interessante. Eu tinha muito medo que o Gonzaguinha se desvirtuasse. Viesse a pertencer a um grupo mau-caráter.
O PASQUIM - Quantos filhos você tem?
GONZAGA - Eu tenho um casal.
O PASQUIM - Ele é o mais velho?
GONZAGA - É. Eu tenho uma filha com 19 anos, Rosinha. Pois bem, eu queria fazer aquele tipo de pai durão. Hora de chegar, essa coisa toda e ele muito vivo, inteligente pra burro. Ele não foi totalmente criado por mim desde o início. É uma história muito bonita que existe na vida dele.
O PASQUIM - Você pode contar pra gente?
GONZAGA - Posso. O Luizinho já se libertou completamente. O Luizinho encontrou uma família que dava apoio a jovens artistas e ele se sentiu bem naquele meio e me disse que eu ficasse tranquilo, que eu não me preocupasse, que se por acaso ele não viesse dormir em casa algumas noites, era porque ele estava cuidando de festivais e se sentia bem na casa do Doutor Portocarrero, essa coisa toda. Aí ele foi ficando, foi ficando e finalmente com a vitória dele nos provou que estava certo, não adquiriu vício nenhum, e hoje é ídolo lá em casa. Mesmo que eu quisesse pensar diferente, a Rosinha não deixaria porque é uma amizade muito sincera, muito pura e nós não queremos ser velhos boko moko [expressão da época que significa algo como cafona, brega]. O Luizinho é um rapaz que tem tudo pra se sentir muito seguro. Primeiro nós não escondemos nada dele. Ele é chamado de vez em quando pra ser consultado nos negócios que eu pretendo fazer. Ele pode se considerar filho do povo e isso é muio importante porque Luiz Gonzaga é povo, é gente. Ando de acordo com a minha maneira de pensar, e ele próprio tem poucas coisas a me censurar. Quando tem que discordar ele discorda mesmo.
O PASQUIM - Você gosta das músicas dele?
GONZAGA - Eu gosto muito da linha melódica das canções do Luizinho. Ele tem uma harmonização muito bonita. Eu fico por aí porque eu não entendo bem as letras.
(...)
O PASQUIM - Você disse que tinha um entusiasmo muito grande por Lampião. Você chegou a conhecer o bando?
GONZAGA - Não.
O PASQUIM - Você teve vontade de ir pro bando?
GONZAGA - Tive loucura. Eu era doido que Lampião passasse por Araripe pra eu seguir o bando. Quando deu-se um grito: 'Lampião vem aí!' as famílias todas foram para o mato e eu fui sob protesto. Ele precisava de um sanfoneiro, de um menino de chapéu de couro fazendo bonito e tirando retrato.
O PASQUIM - Quantos anos você tinha?
GONZAGA - 15, 16, por aí. Nós nos escondemos no mato. Aí no dia seguinte minha mãe disse assim: 'Quem é que quer ir lá no Araripe pra saber se Lampião já passou, se o povo já voltou?'. Eu digo: 'Eu'. Aí voltei correndo. Quando eu cheguei no Araripe todo mundo tinha voltado menos nós, e Lampião não tinha passado. Foi quando ele foi ver o Padre Cícero em Juazeiro. Tudo indicava que ele ia passar por ali, mas ele pegou outro caminho. Quando eu voltei pro rancho onde a gente estava escondido eu disse: 'vou me vingar'. Aí gritei: 'Corra gente, Lampião vem aí". Ah, menino. Foi um tal de rede debaixo do braço, todo mundo se arrumando pra correr, aí eu: 'É mentira'. Todo mundo já voltou pra casa, só nós é que estamos aqui. Minhas irmãs, meu pai, minha mãe, todo mundo me cobriu. Levei o maior pau por causa de Lampião. Não conhecia Lampião, mas a primeira chance que eu tive, mandei buscar o chapéu, quebrei na testa, peguei uma sanfona e saí cantando as histórias de cangaceiro por aí.
O PASQUIM - Luiz Gonzaga, o sanfoneiro de Lampião.
(...)
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Entrevista publicada na edição 111 do Pasquim (13 a 23 de agosto de 1971).
Postagem neste 13 de dezembro de 2012, data do Centenário de Luiz Gonzaga.
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"A gente não se perdoa de só agora, na edição 111 [17 a 23 de agosto de 1971], entrevistar uma das figuras mais quentes, mais importantes, mais talentosas da nossa música popular: Luiz Gonzaga, o velho Rei do Baião, nordestino legítimo de cara, alma e coração. Pra compensar nosso atraso, resolvemos (modéstia à parte) dar um banho em matéria de Luiz Gonzaga.
Após a entrevista, ele apanhou a sua sanfona no carro e deu um show pra gente aqui na redação. O negócio foi tão bom que juntou gente na rua. Mas isso não dá pra transcrever no jornal. Foi impossível, apesar dos nossos esforços, botar som nesta edição d'O Pasquim.
O PASQUIM - Luiz Gonzaga, como é que você está se sentindo depois que você voltou à moda?
LUIZ GONZAGA - É danado, né? É melhor vocês falarem de mim porque eu mesmo não sei o que sou, não sei porque falam de mim. Eu não entendo nada, eu vou levando. Pra mim tanto faz. Que é bacana, é, mas deixa o povo falar. Vocês me conhecem mais do que eu próprio.
O PASQUIM - Na época que você esteve afastado aqui do centro do Brasil você não sentiu falta? Você nunca parou de fazer sucesso? Quando os seus discos pararam de vender aqui no sul você continuou a fazer sucesso no interior e no Nordeste, não é?
GONZAGA - É interessante, eu nunca me senti bem para caitituagem. Chegar com o disco debaixo do braço e pedir para tocar, eu sempre achei isso horrível. Eu sabia que se eu caitituasse, se pedisse, se implorasse, eu conseguiria alguma coisa, mas meu temperamento não permitia. Uma vez eu procurei um disc jockey meu conhecido, pela afinidade de termos trabalhado na Mayrink Veiga juntos e ele ser madurão como eu, pedi para ele tocar uma música minha no programa dele e ele me disse: 'Gonzaga, você passou, me desculpe a franqueza'. Aí eu botei minha viola no saco e fiquei com vergonha de chegar em casa. Fui para Miguel Pereira, sumi. Então, daí pra cá eu fechei o balaio. Eu vou dizer o nome dele! Isaac Zaltman.
O PASQUIM - Mas você continuava enchendo praça, auditórios, circo, teatro, no interior do Brasil, não é? Ou você estava parado?
GONZAGA - Tem provérbio que diz: Deus escreve certo por linhas torras. Eu acho que eu estava fazendo um trabalho sério sem saber que estava fazendo. Eu pegava os patrocinadores, botava nas costas e ia cantar pro povo nas festas. Eu, dificilmente, dava espetáculo no cinema, no teatro, pra cobrar, pro povo me ver cantar. Eu cantava de graça na praça para o povo. Então eu consegui reunir as maiores plateias. Daí os meninos iam me assistir, os futuros gênios, como Gil, Caetano e outros e daí saíam querendo tocar sanfona.
O PASQUIM - Você gostou da gravação de'Asa Branca' do Caetano?
GONZAGA - Comentar se eu não gostei ou gostei pra mim não é muito fácil porque eu gosto demais do Caetano, gosto mesmo. Achei o trabalho dele importante, mas eu não posso comentar porque eu gosto demais. Enfim, gostei.
(...)
O PASQUIM - Como é que você consegue patrocínio e as coisas acontecem?
GONZAGA - Por eu viajar quase sempre com patrocinadores, eu me habituei a cantar para público tão numeroso que não me sentia bem em cantar para uma plateia pequena, mesmo pagando bem. Eu me sentia sozinho. Então era um martírio pra mim ter que dar um espetáculo. Até hoje eu me sinto assim. Quando me convidam pra trabalhar numa festa, a primeira coisa que eu digo é: vão cobrar ingresso pra me ver? Se dizem vamos, eu não vou. Eu não gosto. Eu gosto de cantar para o povo livre. Eu acabei achando que fiz bem, que cobrei bem porque todo mundo me viu cantar de graça. Os maiores patrocinadores que eu tie foram: o Moura Brasil, Alpargatas Roda, Martini, Cinzano, Café Caboclo. Isso no Sul. Para o norte, Aguardente Chica Boa, Serra Grande, Pitú, Casas Pernambucanas, Lojas Paulistas.
O PASQUIM - Qual foi o maior sucesso seu, o dia mais glorioso
GONZAGA - Aconteceu comigo em Recife. Por eu estar habituado a cantar pra milhares de pessoas, por mais que eu pedisse pra fazer os espetáculos em praça pública, os diretores da rádio terminaram e me botaram dentro da rádio. Então, eu fui pra rádio, eu cheguei na rua onde estava a rádio e vi um público enorme interrompendo o trânsito. Eu não sabia o que estava acontecendo. Achei que podia ter sido um incêndio, qualquer coisa. Parei o meu carro e vim a pé pelo meio do povo. Aí eu perguntei a um popular: escuta, o que houve ali? Ele me disse: o Luiz Gonzaga vai cantar aí hoje e o povo não pode entrar porque não coube. Aí eu tive a curiosidade de observar o tamanho do público, mas eu não podia, tinha que trepar em alguma coisa. Era um mar de gente. Aí eu não me contive e tive que cantar na rua.
O PASQUIM - Você é um homem rico?
GONZAGA - Não. Sou um homem que não botei pra fora o que ganhei.
O PASQUIM - Quer dizer que o Luizinho [Gonzaguinha] tá garantido?
GONZAGA - Luizinho tem uma reguenguela muito boa.
O PASQUIM - Você deu um conselho pro seu filho na televisão, mandando ele não compor nem gravar, pra ele ser economista e juntar dinheiro. Você tem medo do futuro?
GONZAGA - Eu não dei esse conselho a ele. Eu disse pra ele fazer música como passatempo. Ele se formou em economia. Se existem milhares de rapazes fazendo o diabo pra se formar em economia, pra serem financistas, por que Luizinho, que se encontra formado, vai abandonar uma coisa que todo mundo deseja?
O PASQUIM - Mas ele é um grande compositor, rapaz.
GONZAGA - Mas ele pode ser um grande compositor e trabalhar também.
O PASQUIM - Mas você só compunha e gravava. Você nunca trabalhou na vida?
GONZAGA - Eu? E fazer show, carregar sanfona nas costas? E pular de bonde andando com sanfona na mão e pegar bonde andando com sanfona na mão, não é trabalho?
O PASQUIM - Tem uma história do Paulo Mendes Campos, não sei se você conhece. Um cara chegou na casa dele e ele estava na máquina escrevendo. Aí ele virou pro Paulinho e disse assim: se eu soubesse escrever ia ser igual a você. Nunca ia trabalhar na vida.
GONZAGA - Vocês são formidáveis, logo bagunçam o negócio.
(...)
O PASQUIM - O seu nome todo, onde vocês nasceu, como você começou, esses dados todos, porque você deve ter histórias ótimas.
GONZAGA - Eu nasci em 13 de dezembro de 1912. Nasci na fazenda Araripe, município de Exu. Fazenda da família Alencar, todos sabidos como o diabo, mas eu não aprendi a ler lá porque não deu. Eu aprendi a ler no mundo. Nas placas de rua, decorando os nomes de jornais, decorando tudo por aí. Eu sou filho de dona Santana e o velho Januário, velho macho que me fez.
O PASQUIM - O que eles eram da fazenda? Eram donos da fazenda?
GONZAGA - Donos da fazenda e cedem espaços de terra para os pobres da fazenda plantarem.
O PASQUIM - Seu Januário era o quê?
GONZAGA - Meu pai trabalhava lá. Morava num alugado. Éramos agregados da fazenda.
O PASQUIM - Não é sua fazenda agora, não?
GONZAGA - Não. Quando eu ameacei tirar o meu pai de lá e comprar um pedacinho de terra pra ele, os donos da fazenda disseram: 'Não, nós não vende terra pra estranho, não. Mas pra Januário nós vende um taquinho'. Aí eu adquiri lá mesmo um pedaço de terra onde meu pai vive.
O PASQUIM - Januário está vivo?
GONZAGA - Está vivo. Nós visitamos ele esta semana mesmo.
O PASQUIM - E sua mãe?
GONZAGA - Minha mãe, infelizmente, não.
O PASQUIM - Seu Januário ainda está com os oito baixos lá dele, firme?
GONZAGA - Ainda toca pras moças ouvirem. Não toca profissionalmente.
O PASQUIM - Ele está com quantos anos?
GONZAGA - 85 anos.
O PASQUIM - Naquela época, em 'Respeita Januário' você fala no velho Jacó. Ele existiu mesmo ou foi só pra rimar?
GONZAGA - Não, o velho Jacó existia. Era nosso vizinho lá. Era muito encrenqueiro, bebedor de cachaça. Era um derrotista, não acreditava em nada. Até os 18 anos eu fiquei ali acompanhando meu pai na roça e nos forrós. Onde ele ia eu ia pra ajudar o velho, até que eu arribei. Caí, entrei no oco do mundo até hoje.
(...)
O PASQUIM - Quando é que o Humberto Teixeira apareceu na sua vida?
GONZAGA - Humberto Teixeira apareceu numa fase justamente que eu precisava de um letrista. Eu vinha lutando com outros companheiros, Miguel Lima, J. Portela, mas eles não sentiam o Nordeste. Mas eu não queria cantar uma simples embolada. Eu queria cantar coisas bonitas do Nordeste. Eu procurei ele [Lauro Maia], e ele disse: 'Luiz, eu não posso resolver o seu problema. Mas eu tenho um cunhado que com certeza vai resolver o seu problema'.
O PASQUIM - Humberto Teixeira nunca tinha se metido com música na vida dele?
GONZAGA - Não. Ele já vinha fazendo uns sambas, uns negócios aí. Ele tinha muita tendência pra fazer música meio clássica. Ele escrevia música e tudo. Quando o Lauro me apresentou ao Humberto, eu disse: 'Eu tenho um tema pra você botar uma letrinha. Chama-se Pé-de-Serra. Olha aqui'. Aí ele foi fazendo os versos no joelho. Eu disse: 'Está ótimo, Humberto'. Ele disse: 'Mas isso não é a letra definitiva'. Eu disse: 'Peraí, nessa aí você não vai bulir mais, não. A letra é essa'. Ele disse: 'Não, depois eu vou te dar a letra definitiva'. Quando ele veio com a letra eu ainda achava que a primeira era a melhor. Aí foi um sucesso.
O PASQUIM - Quais as músicas que são tuas e quais as que a ideia é de Humberto Teixeira?
GONZAGA - Ideia de Humberto Teixeira é 'Assum Preto', 'Mangaratiba'.
O PASQUIM - 'Asa Branca'?
GONZAGA - 'Asa Branca' a ideia é minha. 'Respeita Januário' a ideia é minha mas a letra é totalmente dele. Eu só contei a história pra ele. Quando eu voltei pro sertão, depois de 15, 20 anos que eu tinha me afastado, eu queria saber quem era o melhor cantor de lá, ia investigando, querendo saber notícias. Pra todo mundo que eu perguntava eles iam dizendo: tocador aqui é Januário. O menino dele foi lá pro sul, não vem mais aqui, ficou por lá mesmo. Mas Januário aqui é o maior. A primeira música que eu toquei pro público eu notei que o povo não gostou muito. Então alguém gritou: Luiz, respeita Januário. O Humberto gostou muito dessa história e fez a letra.
O PASQUIM - O teu letrista predileto é o Humberto?
GONZAGA - Não tem dúvida.
O PASQUIM - E aquele que era médico, que morreu?
GONZAGA - Zé Dantas? Zé Dantas foi outro caso espetacular. Ele veio na onda do baião. Ficou naquela área de sertão, puro, autêntico, rimas fabulosas, E Humberto nessa área de asfalto, serão, norte, sul.
O PASQUIM - Ele é um craque.
GONZAGA - É. Nós vamos voltar a produzir outra vez.
O PASQUIM - Nesse negócio da volta de Luiz Gonzaga, você não acaha que o pessoal esqueceu um pouco o Humberto?
GONZAGA - Humberto começou a ser injustiçado pelo Ceará, terra dele. Porque Lauro Maia era muito popular lá, os cearenses bebiam com o Lauro, cantavam com o Lauro e ele era tido como líder cearense. Logo após a morte de Lauro Maia aparece Humberto. Aí começaram a acusar o Humberto de ter herdado o baú de Lauro Maia. Isso foi negativo pra ele. Como você sabe, o cantor sempre leva a melhor, e se Humberto tem aparecido, é porque eu faço questão de exaltar Humberto. Lá em Fortaleza nem adianta que ninguém acredita. Ele é um homem injustiçado. Agora, é um homem fabuloso. Ele fez um baiãozinho agora pra o LP 'O canto jovem de Luiz Gonzaga', e você vai ver que beleza. A letra diz assim:
'Bicho, com todo o respeito, dá licença eu vou voltar/ O desafio pra cabra macho enfrentar/ Falei com Carmélio e Sivuca/ Pro Zé Dantas o que eu fiz foi rezar/ Mas o caso é que modestamente/ Bicho, eu vou voltar/ Bicho, falar não é preciso/ Rei Luiz vai me ajudar/ Caetano muito obrigado por me fazer lembrar/ Não a mim mas aquilo que eu fiz/ Pro meu Brasil cantar/ Tá doido é duro seu mano/ A gente tem que respeitar/ Tem Gil, Capinam, tem Chico/ Tem Tom pra dar o Tom/ Mas se pego a viola e ponteio meus acordes mais ternos/ É duro eu me esqueço os invernos/ Bicho eu vou voltar'.
O PASQUIM - A tua relação com Gonzaguinha é boa, Luiz Gonzaga?
GONZAGA - Houve uma coisa muito interessante. Eu tinha muito medo que o Gonzaguinha se desvirtuasse. Viesse a pertencer a um grupo mau-caráter.
O PASQUIM - Quantos filhos você tem?
GONZAGA - Eu tenho um casal.
O PASQUIM - Ele é o mais velho?
GONZAGA - É. Eu tenho uma filha com 19 anos, Rosinha. Pois bem, eu queria fazer aquele tipo de pai durão. Hora de chegar, essa coisa toda e ele muito vivo, inteligente pra burro. Ele não foi totalmente criado por mim desde o início. É uma história muito bonita que existe na vida dele.
O PASQUIM - Você pode contar pra gente?
GONZAGA - Posso. O Luizinho já se libertou completamente. O Luizinho encontrou uma família que dava apoio a jovens artistas e ele se sentiu bem naquele meio e me disse que eu ficasse tranquilo, que eu não me preocupasse, que se por acaso ele não viesse dormir em casa algumas noites, era porque ele estava cuidando de festivais e se sentia bem na casa do Doutor Portocarrero, essa coisa toda. Aí ele foi ficando, foi ficando e finalmente com a vitória dele nos provou que estava certo, não adquiriu vício nenhum, e hoje é ídolo lá em casa. Mesmo que eu quisesse pensar diferente, a Rosinha não deixaria porque é uma amizade muito sincera, muito pura e nós não queremos ser velhos boko moko [expressão da época que significa algo como cafona, brega]. O Luizinho é um rapaz que tem tudo pra se sentir muito seguro. Primeiro nós não escondemos nada dele. Ele é chamado de vez em quando pra ser consultado nos negócios que eu pretendo fazer. Ele pode se considerar filho do povo e isso é muio importante porque Luiz Gonzaga é povo, é gente. Ando de acordo com a minha maneira de pensar, e ele próprio tem poucas coisas a me censurar. Quando tem que discordar ele discorda mesmo.
O PASQUIM - Você gosta das músicas dele?
GONZAGA - Eu gosto muito da linha melódica das canções do Luizinho. Ele tem uma harmonização muito bonita. Eu fico por aí porque eu não entendo bem as letras.
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O PASQUIM - Você disse que tinha um entusiasmo muito grande por Lampião. Você chegou a conhecer o bando?
GONZAGA - Não.
O PASQUIM - Você teve vontade de ir pro bando?
GONZAGA - Tive loucura. Eu era doido que Lampião passasse por Araripe pra eu seguir o bando. Quando deu-se um grito: 'Lampião vem aí!' as famílias todas foram para o mato e eu fui sob protesto. Ele precisava de um sanfoneiro, de um menino de chapéu de couro fazendo bonito e tirando retrato.
O PASQUIM - Quantos anos você tinha?
GONZAGA - 15, 16, por aí. Nós nos escondemos no mato. Aí no dia seguinte minha mãe disse assim: 'Quem é que quer ir lá no Araripe pra saber se Lampião já passou, se o povo já voltou?'. Eu digo: 'Eu'. Aí voltei correndo. Quando eu cheguei no Araripe todo mundo tinha voltado menos nós, e Lampião não tinha passado. Foi quando ele foi ver o Padre Cícero em Juazeiro. Tudo indicava que ele ia passar por ali, mas ele pegou outro caminho. Quando eu voltei pro rancho onde a gente estava escondido eu disse: 'vou me vingar'. Aí gritei: 'Corra gente, Lampião vem aí". Ah, menino. Foi um tal de rede debaixo do braço, todo mundo se arrumando pra correr, aí eu: 'É mentira'. Todo mundo já voltou pra casa, só nós é que estamos aqui. Minhas irmãs, meu pai, minha mãe, todo mundo me cobriu. Levei o maior pau por causa de Lampião. Não conhecia Lampião, mas a primeira chance que eu tive, mandei buscar o chapéu, quebrei na testa, peguei uma sanfona e saí cantando as histórias de cangaceiro por aí.
O PASQUIM - Luiz Gonzaga, o sanfoneiro de Lampião.
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Entrevista publicada na edição 111 do Pasquim (13 a 23 de agosto de 1971).
Postagem neste 13 de dezembro de 2012, data do Centenário de Luiz Gonzaga.
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Luiz Gonzaga e 'o estouro do baião', por Jairo Severiano
Grifo nosso # 61
O estouro do baião
"Bem encaminhado na vida artística, há mais de quatro anos gravando valsas, polcas e chorinhos, na maioria de sua autoria, Luiz Gonzaga sentia em 1945 a necessidade de arranjar um bom parceiro, nordestino como ele, que o ajudasse a mostra ao Brasil ao Brasil a música de sua região: 'Eu me lembrava do Nordeste, eu queria cantar o Nordeste. E pensava que no dia em que encontrasse alguém capaz de escrever o que eu tinha na cabeça, aí é que me tornaria um verdadeiro cantor', afirmaria muito tempo depois à sua biógrafa Dominique Dreyfus.
Foi para isso que procurou Lauro Maia, um compositor cearense, recém-radicado no Rio, que supria boa parte do repertório dos Quatro Ases e Um Coringa. O que animava Gonzaga era que várias das músicas de Maia — como o xote 'Fa ran fun fan', o balanceio 'Eu vou até de manhã' e a ligeira 'A ribeira do Caxia' — tinham um autêntico sabor nordestino. Todavia, depois de ouvir a proposta de trabalho, o cearense confessou-se boêmio inveterado, avesso a compromissos, sendo, além disso, muito mais compositor do que letrista. Indicou-lhe, porém, seu cunhado Humberto Teixeira, cearense do Iguatu, poeta e compositor inspirado, com músicas gravadas, o elemento ideal para aquela empreitada.
Então, numa tarde de agosto de 1945, Luiz Gonzaga teve seu primeiro encontro com o futuro parceiro. É o próprio Teixeira quem descreve esse encontro, em depoimento prestado ao pesquisador Nirez, em 11 de dezembro de 1977: 'Um dia estou eu lá no escritório, na avenida Calógeras (centro do Rio), quando me procurou o Luiz Gonzaga, que conhecia de nome, mas era a primeira vez que o via. Ele começou contando a conversa com o Lauro e, em seguida, explicou-me a história de deflagrar a música do Norte nos grandes centros (na época, usava-se muto o termo Norte no lugar de Nordeste). Aí, ficamos conversando de quatro e meia à meia-noite. Eu fechei o escritório (de advocacia), como fazia quando tratava de música, e relembramos aqueles ritmos do Ceará, de Pernambuco, e naquele dia mesmo nós chegamos à conclusão de que a música a ser utilizada (no projeto) deveria ser o baião, pois era a que tinha a característica mais fácil, mais uniforme pra se lançar'.
(...) Dos encontros iniciais nasceram as primeiras composições da dupla, o xote 'No meu pé de serra' e 'Baião', uma espécie de canção-manifesto que apresentava ao público o gênero homônimo e convidava-o a dançã-lo: 'Eu vou mostra pra vocês/ como se dança o baião/ oi quem quiser aprender/ é favor prestar atenção...'. O curioso é que Gonzaga gravou 'No meu pé de serra' (em 27 de novembro de 1946), entregando o 'Baião' (que só gravaria três anos depois) aos Quatro Ases e Um Coringa, talvez por achar que a composição atingiria um público maior se cantada pelo popular conjunto. Ao que se sabe, esta seria a segunda vez em que se empregava a palavra 'baião' para designar o ritmo de uma canção na discografia brasileira. A primeira foi usada por João Pernambuco em sua composição 'Estrela d'alva', cantada em 1930 por Stefana de Macedo no disco Columbia nº 5157.
Em outubro de 1946, mês da chegada às lojas da gravação dos Quatro Ases e Um Coringa, teve início a Era do Baião, quando a música nordestina, devidamente amaciada para o público urbano, alcançaria um sucesso de proporções jamais imaginadas pelos deflagradores da onda, Gonzaga e Teixeira. Infelizmente, a conjunção dos talentos musical do primeiro e poético do segundo desfez-se em 1952, quando eles, já não se entendendo muito bem, passaram a pertencer a diferentes sociedades arrecadadoras de direitos autorais. Mesmo assim, rendeu 27 composições das mais expressivas, como os baiões 'Juazeiro' (1949); 'Baião de dois','Paraíba', 'Qui nem jiló', e 'Respeita Januário' (1950); as toadas 'Asa Branca' (1947), 'Légua tirana' (1949), 'Assum preto' e Estrada do Canindé' (1950); a polca 'Lorota boa' (1949); e o xote 'Mangaratiba', além dos citados 'Baião' e 'No meu pé de serra'. Feminina no século XIX, quando se tornou conhecida no Brasil, a denominação 'schottisch' passou para o masculino ao popularizar-se como um gênero musical rural, aportuguesando-se na forma 'xote'.
Com Zé Dantas, seu segundo melhor parceiro, como foi ressaltado, Luiz Gonzaga fez 46 composições, entre as quais clássicos como as toadas 'A volta da Asa Branca' (1950) e 'Vozes da seca' (1953), os xotes 'Cintura fina' (1950) e 'O xote das meninas' (1953), o baião 'Dança da moda' (1950) e o 'Forró de Mané Vito' (1949). Sertanejo cem por cento, embora tenha vivido vários anos no Rio de Janeiro, onde exerceu a profissão de médico obstetra, Zé Dantas era um apaixonado pela técnica nordestina, motivo único, praticamente, de sua obra.
(...) A Era do Baião durou, pode-se dizer, de 1946 a 1957, alcançando o auge no triênio 1949-1951. Nesse auge, Gonzaga fixou a banda ideal para acompanhá-lo, que se tornaria o conjunto padrão adotado pelos cultores do baião: acordeão, zabumba e triângulo. Na verdade, a ideia dessa formação ele descobrira em antigos grupos que ouvira tocar nos tempos de criança.
Ainda que dividindo , a partir de 1953, a atenção do público adepto da canção nordestina como o novo astro Jackson do Pandeir, Luiz Gonzaga continuou soberano pelo resto do período de evidência do baião, compondo, cantando e tocando pelo Brasil afora, em incessante atividade. Famoso e realizado, vendo coroado de êxito seu projeto artístico, com a música do Nordeste definitivamente incorporada à história da música brasileira."
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Jairo Severiano, no capítulo "O estouro do baião", de seu livro Uma história da música popular brasileira: das origens à modernidade (Editora 34).
Postagem neste 13 de dezembro de 2012, data do centenário do nascimento de Luiz Gonzaga.
Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira falando sobre "Asa Branca":
"Baião" (Luiz Gonzaga / Humberto Teixeira):
O estouro do baião
"Bem encaminhado na vida artística, há mais de quatro anos gravando valsas, polcas e chorinhos, na maioria de sua autoria, Luiz Gonzaga sentia em 1945 a necessidade de arranjar um bom parceiro, nordestino como ele, que o ajudasse a mostra ao Brasil ao Brasil a música de sua região: 'Eu me lembrava do Nordeste, eu queria cantar o Nordeste. E pensava que no dia em que encontrasse alguém capaz de escrever o que eu tinha na cabeça, aí é que me tornaria um verdadeiro cantor', afirmaria muito tempo depois à sua biógrafa Dominique Dreyfus.
Foi para isso que procurou Lauro Maia, um compositor cearense, recém-radicado no Rio, que supria boa parte do repertório dos Quatro Ases e Um Coringa. O que animava Gonzaga era que várias das músicas de Maia — como o xote 'Fa ran fun fan', o balanceio 'Eu vou até de manhã' e a ligeira 'A ribeira do Caxia' — tinham um autêntico sabor nordestino. Todavia, depois de ouvir a proposta de trabalho, o cearense confessou-se boêmio inveterado, avesso a compromissos, sendo, além disso, muito mais compositor do que letrista. Indicou-lhe, porém, seu cunhado Humberto Teixeira, cearense do Iguatu, poeta e compositor inspirado, com músicas gravadas, o elemento ideal para aquela empreitada.
Então, numa tarde de agosto de 1945, Luiz Gonzaga teve seu primeiro encontro com o futuro parceiro. É o próprio Teixeira quem descreve esse encontro, em depoimento prestado ao pesquisador Nirez, em 11 de dezembro de 1977: 'Um dia estou eu lá no escritório, na avenida Calógeras (centro do Rio), quando me procurou o Luiz Gonzaga, que conhecia de nome, mas era a primeira vez que o via. Ele começou contando a conversa com o Lauro e, em seguida, explicou-me a história de deflagrar a música do Norte nos grandes centros (na época, usava-se muto o termo Norte no lugar de Nordeste). Aí, ficamos conversando de quatro e meia à meia-noite. Eu fechei o escritório (de advocacia), como fazia quando tratava de música, e relembramos aqueles ritmos do Ceará, de Pernambuco, e naquele dia mesmo nós chegamos à conclusão de que a música a ser utilizada (no projeto) deveria ser o baião, pois era a que tinha a característica mais fácil, mais uniforme pra se lançar'.
(...) Dos encontros iniciais nasceram as primeiras composições da dupla, o xote 'No meu pé de serra' e 'Baião', uma espécie de canção-manifesto que apresentava ao público o gênero homônimo e convidava-o a dançã-lo: 'Eu vou mostra pra vocês/ como se dança o baião/ oi quem quiser aprender/ é favor prestar atenção...'. O curioso é que Gonzaga gravou 'No meu pé de serra' (em 27 de novembro de 1946), entregando o 'Baião' (que só gravaria três anos depois) aos Quatro Ases e Um Coringa, talvez por achar que a composição atingiria um público maior se cantada pelo popular conjunto. Ao que se sabe, esta seria a segunda vez em que se empregava a palavra 'baião' para designar o ritmo de uma canção na discografia brasileira. A primeira foi usada por João Pernambuco em sua composição 'Estrela d'alva', cantada em 1930 por Stefana de Macedo no disco Columbia nº 5157.
Em outubro de 1946, mês da chegada às lojas da gravação dos Quatro Ases e Um Coringa, teve início a Era do Baião, quando a música nordestina, devidamente amaciada para o público urbano, alcançaria um sucesso de proporções jamais imaginadas pelos deflagradores da onda, Gonzaga e Teixeira. Infelizmente, a conjunção dos talentos musical do primeiro e poético do segundo desfez-se em 1952, quando eles, já não se entendendo muito bem, passaram a pertencer a diferentes sociedades arrecadadoras de direitos autorais. Mesmo assim, rendeu 27 composições das mais expressivas, como os baiões 'Juazeiro' (1949); 'Baião de dois','Paraíba', 'Qui nem jiló', e 'Respeita Januário' (1950); as toadas 'Asa Branca' (1947), 'Légua tirana' (1949), 'Assum preto' e Estrada do Canindé' (1950); a polca 'Lorota boa' (1949); e o xote 'Mangaratiba', além dos citados 'Baião' e 'No meu pé de serra'. Feminina no século XIX, quando se tornou conhecida no Brasil, a denominação 'schottisch' passou para o masculino ao popularizar-se como um gênero musical rural, aportuguesando-se na forma 'xote'.
Com Zé Dantas, seu segundo melhor parceiro, como foi ressaltado, Luiz Gonzaga fez 46 composições, entre as quais clássicos como as toadas 'A volta da Asa Branca' (1950) e 'Vozes da seca' (1953), os xotes 'Cintura fina' (1950) e 'O xote das meninas' (1953), o baião 'Dança da moda' (1950) e o 'Forró de Mané Vito' (1949). Sertanejo cem por cento, embora tenha vivido vários anos no Rio de Janeiro, onde exerceu a profissão de médico obstetra, Zé Dantas era um apaixonado pela técnica nordestina, motivo único, praticamente, de sua obra.
(...) A Era do Baião durou, pode-se dizer, de 1946 a 1957, alcançando o auge no triênio 1949-1951. Nesse auge, Gonzaga fixou a banda ideal para acompanhá-lo, que se tornaria o conjunto padrão adotado pelos cultores do baião: acordeão, zabumba e triângulo. Na verdade, a ideia dessa formação ele descobrira em antigos grupos que ouvira tocar nos tempos de criança.
Ainda que dividindo , a partir de 1953, a atenção do público adepto da canção nordestina como o novo astro Jackson do Pandeir, Luiz Gonzaga continuou soberano pelo resto do período de evidência do baião, compondo, cantando e tocando pelo Brasil afora, em incessante atividade. Famoso e realizado, vendo coroado de êxito seu projeto artístico, com a música do Nordeste definitivamente incorporada à história da música brasileira."
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Jairo Severiano, no capítulo "O estouro do baião", de seu livro Uma história da música popular brasileira: das origens à modernidade (Editora 34).
Postagem neste 13 de dezembro de 2012, data do centenário do nascimento de Luiz Gonzaga.
Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira falando sobre "Asa Branca":
"Baião" (Luiz Gonzaga / Humberto Teixeira):
quarta-feira, 12 de dezembro de 2012
'Pássaro Azul', filme de Walter Lang, em exibição no Cine Café
Cine Café (com mediação de Elvis Pinheiro)
Exibição do filme O Pássaro Azul
Título original: The Blue Bird
Direção: Walter Lang
Roteiro: Walter Bullock, baseado em peça de Maurice Maeterlinck
Elenco: Shirley Temple, Spring Byington, Nigel Bruce, Gale Sondergaard
Duração: 88 minutos
Ano: 1940
País de origem: Estados Unidos
"Grande clássico com a atriz mirim Shirley Temple no papel da adorável Mytyl, que junto com seu irmãozinho Tyltyl procuram o Pássaro Azul da Felicidade através do Presente, do Passado e do Futuro, numa viagem poético-mística que marcará profundamente a vida daqueles que a assistirem." (sinopse da divulgação do evento)
Exibição no sábado, 15 de dezembro de 2012, às 17h30
No Centro Cultural Banco do Nordeste Cariri (Juazeiro do Norte). Entrada gratuita.
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terça-feira, 11 de dezembro de 2012
Geraldo Junior na Mostra Cariri 2012
por Hudson Jorge
Quase um mês depois do fim da Mostra SESC Cariri de Culturas 2012, volto aqui displicentemente para publicar umas fotografias e fazer um breve comentário sobre o show de Geraldo Junior, no largo da RFFSA, em Crato.
Numa noite com bastantes amigos presentes e um público que esperava por rever várias músicas do seu repertório, Geraldo Junior, como prometido, fez um passeio por algumas músicas que fizeram a história da banda Dr. Raiz, da qual fez parte no início de sua carreira. O show teve participações especiais e trouxe uma pegada bem rock’n’roll, resgatando um pouco da performance de palco que caracterizou o seu trabalho junto ao grupo.
Pra variar, o músico caririense arrasou com os corações das donzelas com seu carisma e algumas músicas românticas do disco Calendário. No repertório, pôde-se curtir ainda músicas do disco Warakidzã e do novo álbum que está sendo trabalhado em estúdio.
Veja mais fotos do show na nossa página no facebook: facebook.com/blog.oberro.net
Veja mais sobre o trabalho de Geraldo Junior na sua página: geraldojunior.com.br
Quase um mês depois do fim da Mostra SESC Cariri de Culturas 2012, volto aqui displicentemente para publicar umas fotografias e fazer um breve comentário sobre o show de Geraldo Junior, no largo da RFFSA, em Crato.
Numa noite com bastantes amigos presentes e um público que esperava por rever várias músicas do seu repertório, Geraldo Junior, como prometido, fez um passeio por algumas músicas que fizeram a história da banda Dr. Raiz, da qual fez parte no início de sua carreira. O show teve participações especiais e trouxe uma pegada bem rock’n’roll, resgatando um pouco da performance de palco que caracterizou o seu trabalho junto ao grupo.
Pra variar, o músico caririense arrasou com os corações das donzelas com seu carisma e algumas músicas românticas do disco Calendário. No repertório, pôde-se curtir ainda músicas do disco Warakidzã e do novo álbum que está sendo trabalhado em estúdio.
Veja mais fotos do show na nossa página no facebook: facebook.com/blog.oberro.net
Veja mais sobre o trabalho de Geraldo Junior na sua página: geraldojunior.com.br
segunda-feira, 10 de dezembro de 2012
'Nem Sansão Nem Dalila', filme de Carlos Manga, em exibição no Cinematógrapho
Cinematógrapho (com mediação de Elvis Pinheiro)
Exibição de Nem Sansão Nem Dalila
Título original: Nem Sansão Nem Dalila
Direção: Carlos Manga
Roteiro: Vitor Lima
Elenco: Oscarito, Fada Santoro, Cyll Farney, Eliana Macedo, Carlos Cotrim, Wilson Grey
Duração: 88 minutos
Ano: 1954
País de origem: Brasil
"Um humilde barbeiro é transportado para uma 'época antes de Cristo', por uma máquina do tempo apresentada numa conferência científica. Lá se torna o poderoso Sansão e se vê às voltas com manobras de poder dos políticos locais que procuram privá-lo de suas forças com os encantos da sedutora Dalila." (sinopse da divulgação do evento)
Exibição na quarta-feira, dia 12 de dezembro de 2012, às 19h
No Teatro SESC Patativa do Assaré (Juazeiro do Norte-CE). Entrada gratuita.
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50 anos do nascimento de Cássia Eller
Grifo nosso # 60
"Raros são os artistas que, em pouco mais de uma década de carreira profissional no cenário musical brasileiro, somam tantas conquistas, despertando desde a estreia especial atenção da crítica, traduzida por elogios sempre reiterados, a cada novo trabalho, alcançando a admiração imensa de colegas já consagrados de gerações anteriores, bem como de seus contemporâneos, e transitando por estilos musicais diversos sem perder a menor fração de qualidade nas interpretações, atingindo, como resultado natural, imensas vendagens de discos e obtendo merecidos prêmios.
Cássia Eller: a voz grave e plena de expressividade enchia palcos, teatros, arenas, e transbordava emoção pelos poros ao executar canções de Nando Reis, Arnaldo Antunes, Renato russo, Cazuza, Caetano Veloso, Djavan, Gilberto Gil, Itamar Assumpção, Marisa Monte, Arrigo Barnabé, Hermelino Neder, ou dos Beatles, entre tantos outros.
(...) Capaz de ousar e navegar com desenvoltura por diferentes rumos e estilos musicais, do rock ao blues, do samba à MPB, experimentando raps e até mesmo um tango, Cássia respirava a liberdade de cada gesto novo e, com seu modo irreverente, repaginou obras consagradas da música brasileira e internacional, mostrando e confirmando que, em arte, nenhuma versão é definitiva ou acabada, e as possibilidades interpretativas ilimitadas, quando precisas, soam sempre enriquecedoras. Em suas 'viagens musicais', ia reiventando timbres, nuances e cores, e conferindo a todos os seus trabalhos, discos e shows um tom de irretocável originalidade.
Criativa, energia-pura, sempre conjugando todos os sentidos ao executar uma canção e deixando brotar de sua voz o calor que emana do fogo. Dona de absoluta precisão rítmica, saboreava cada síncope e sabia dar a cada sílaba o devido peso."
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Beatriz Helena Ramos Amaral, na introdução de seu livro Cássia Eller: canção na voz do fogo (Escrituras Editora, 2002).
Postagem neste 10 de dezembro de 2012, data em que Cássia Eller completaria 50 anos.
"Blues da Piedade" (Frejat / Cazuza):
Cássia Eller: a voz grave e plena de expressividade enchia palcos, teatros, arenas, e transbordava emoção pelos poros ao executar canções de Nando Reis, Arnaldo Antunes, Renato russo, Cazuza, Caetano Veloso, Djavan, Gilberto Gil, Itamar Assumpção, Marisa Monte, Arrigo Barnabé, Hermelino Neder, ou dos Beatles, entre tantos outros.
(...) Capaz de ousar e navegar com desenvoltura por diferentes rumos e estilos musicais, do rock ao blues, do samba à MPB, experimentando raps e até mesmo um tango, Cássia respirava a liberdade de cada gesto novo e, com seu modo irreverente, repaginou obras consagradas da música brasileira e internacional, mostrando e confirmando que, em arte, nenhuma versão é definitiva ou acabada, e as possibilidades interpretativas ilimitadas, quando precisas, soam sempre enriquecedoras. Em suas 'viagens musicais', ia reiventando timbres, nuances e cores, e conferindo a todos os seus trabalhos, discos e shows um tom de irretocável originalidade.
Criativa, energia-pura, sempre conjugando todos os sentidos ao executar uma canção e deixando brotar de sua voz o calor que emana do fogo. Dona de absoluta precisão rítmica, saboreava cada síncope e sabia dar a cada sílaba o devido peso."
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Beatriz Helena Ramos Amaral, na introdução de seu livro Cássia Eller: canção na voz do fogo (Escrituras Editora, 2002).
Postagem neste 10 de dezembro de 2012, data em que Cássia Eller completaria 50 anos.
"Blues da Piedade" (Frejat / Cazuza):
domingo, 9 de dezembro de 2012
'Paisagem na Neblina', filme do diretor grego Theo Angelopoulos
Grifo nosso # 59
Paisagem na Neblina (Topio Stin Omichli, 1988)
"No plano de abertura de Paisagem na neblina, de Theo Angelopoulos, um garotinho, Alexandre (Michalis Zeke) e sua irmã pré-adolescente, Voula (Tania Palaiologou), emergem da escuridão e se aproximam de um ponto próximo à câmera. Param. A câmera começa a circular lentamente ao redor deles. Ela pergunta: 'Você está com medo?' Ele responde: 'Não, não estou. De repente de separam e começam a andar, desta vez mais rápido, em direção a uma estação de trem que agora vemos ao longe.
Essa tomada de um minuto é impressionante e define o padrão do que virá em seguida. Pessoas e veículos obstinadamente se mantendo em seus caminhos, alheios a todo o resto, algumas vezes parando, outras mudando de velocidade; paisagens desertas ou sombrias com uma única referência bem definida; sons naturais e estridentes substituídos, quando a cena se esvazia, pela música intensa de Eleni Karaindrou. E, sobretudo, a câmera de Giorgos Avanitis circulando, avançando e recuando em um ritmo e com uma intenção sempre distintos da ação, sempre gravando a curiosidade, paixão, sabedoria e o pathos do olhar de Angelopoulos.
Tais padrões dão feição e forma aos eventos deliberadamente esparsos e em aberto da trama: as crianças fogem de sua casa e tentam chegar à Alemanha de trem para procurar um pai que talvez nem exista, encontrando, em seu caminho, estranhos que podem ser prestativos ou ameaçadores. Este é um road movie sombrio mas exultante, situado em algum ponto entre as crônicas de fragmentação do pós-guerra de Roberto Rossellini e os panoramas centrados em paisagens por Chantal Akerman que retratam uma 'nova ordem mundial' vazia.
Quase nada nunca se junta nesses espaços e lugares sem nome entre Atenas e a fronteira alemã: enquanto Voula e Alexandre estão em um pátio, na frente delesum trator desatola um cavalo moribundo e, atrás deles, um grupo de convidados de um casamento sai do quadro cantando e dançando. É apenas na relação hesitante entre Voula e o músico itinerante Orestis (Stratos Tzortzoglou) que a imagem começa a zumbir com a tensão da atração e da repulsão. Contudo, isso dura apenas um pequeno e precioso intervalo de tempo: novamente essas crianças irão andar, parar e andar, ainda mais rápido, ao longo de uma estrada sem fim, enquanto a câmera se eleva bem alto no ar gélido e Orestis acena duas vezes uma despedida desamparada para ninguém."
França / Grécia / Itália (Basic, ETI, French Film Center, Paradise) 127 minutos, cor; idioma: grego; direção: Theo Angelopoulos; produção: Theo Angelopoulos, Eric Heumann, Stéphane Sorlat; roteiro: Theo Angelopoulos, Tonino Guerra, Thanassis Valtinos; fotografia: Gorgos Arvanitis; música: Eleni Karaindrou; elenco: Tania Palaiologou, Dimitris Kaberidis, Vassilis Kolovos, Gerasimos Skiadaressis, Stratos Tzortzoglou, Michalis Zeke; Festival de Veneza: Theo Angelopoulos (Leão de Prata), (Prêmio OCIC), em patado com La Leggenda del Santo Bevitore; Festival de Berlim: Theo Angelopoulos (Prêmio Interfilm - fórum do cinema novo).
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Adrian Martin, no livro 1001 filmes para ver antes de morrer (Editora Sextante, 2008).
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"No plano de abertura de Paisagem na neblina, de Theo Angelopoulos, um garotinho, Alexandre (Michalis Zeke) e sua irmã pré-adolescente, Voula (Tania Palaiologou), emergem da escuridão e se aproximam de um ponto próximo à câmera. Param. A câmera começa a circular lentamente ao redor deles. Ela pergunta: 'Você está com medo?' Ele responde: 'Não, não estou. De repente de separam e começam a andar, desta vez mais rápido, em direção a uma estação de trem que agora vemos ao longe.
Essa tomada de um minuto é impressionante e define o padrão do que virá em seguida. Pessoas e veículos obstinadamente se mantendo em seus caminhos, alheios a todo o resto, algumas vezes parando, outras mudando de velocidade; paisagens desertas ou sombrias com uma única referência bem definida; sons naturais e estridentes substituídos, quando a cena se esvazia, pela música intensa de Eleni Karaindrou. E, sobretudo, a câmera de Giorgos Avanitis circulando, avançando e recuando em um ritmo e com uma intenção sempre distintos da ação, sempre gravando a curiosidade, paixão, sabedoria e o pathos do olhar de Angelopoulos.
Tais padrões dão feição e forma aos eventos deliberadamente esparsos e em aberto da trama: as crianças fogem de sua casa e tentam chegar à Alemanha de trem para procurar um pai que talvez nem exista, encontrando, em seu caminho, estranhos que podem ser prestativos ou ameaçadores. Este é um road movie sombrio mas exultante, situado em algum ponto entre as crônicas de fragmentação do pós-guerra de Roberto Rossellini e os panoramas centrados em paisagens por Chantal Akerman que retratam uma 'nova ordem mundial' vazia.
Quase nada nunca se junta nesses espaços e lugares sem nome entre Atenas e a fronteira alemã: enquanto Voula e Alexandre estão em um pátio, na frente delesum trator desatola um cavalo moribundo e, atrás deles, um grupo de convidados de um casamento sai do quadro cantando e dançando. É apenas na relação hesitante entre Voula e o músico itinerante Orestis (Stratos Tzortzoglou) que a imagem começa a zumbir com a tensão da atração e da repulsão. Contudo, isso dura apenas um pequeno e precioso intervalo de tempo: novamente essas crianças irão andar, parar e andar, ainda mais rápido, ao longo de uma estrada sem fim, enquanto a câmera se eleva bem alto no ar gélido e Orestis acena duas vezes uma despedida desamparada para ninguém."
França / Grécia / Itália (Basic, ETI, French Film Center, Paradise) 127 minutos, cor; idioma: grego; direção: Theo Angelopoulos; produção: Theo Angelopoulos, Eric Heumann, Stéphane Sorlat; roteiro: Theo Angelopoulos, Tonino Guerra, Thanassis Valtinos; fotografia: Gorgos Arvanitis; música: Eleni Karaindrou; elenco: Tania Palaiologou, Dimitris Kaberidis, Vassilis Kolovos, Gerasimos Skiadaressis, Stratos Tzortzoglou, Michalis Zeke; Festival de Veneza: Theo Angelopoulos (Leão de Prata), (Prêmio OCIC), em patado com La Leggenda del Santo Bevitore; Festival de Berlim: Theo Angelopoulos (Prêmio Interfilm - fórum do cinema novo).
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Adrian Martin, no livro 1001 filmes para ver antes de morrer (Editora Sextante, 2008).
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Filme 'Paisagem na Neblina' em exibição no Cinemarana
Cinemarana (com mediação de Elvis Pinheiro)
Exibição de Paisagem na Neblina
Título original: Topio Stin Omichli
Direção: Theodoros Angelopoulos
Roteiro: Tonino Guerra, Thanassis Valtinos
Elenco: Michalis Zeke, Tania Palaiologou, Stratos Tzortzoglou, Eva Kotamanidou
Duração: 127 minutos
Ano: 1988
Países de origem: Grécia / Itália / França
Exibição na segunda-feira, dia 10 de dezembro de 2012, às 19h
No SESC Crato-CE. Entrada gratuita.
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sábado, 8 de dezembro de 2012
'Economia da Cultura': oficina gratuita para artistas e produtores do Cariri
"A criatividade é um dom, uma atitude, um processo e uma estratégia. Como está sua motivação para criar? Podemos despertar e expandir continuamente um produto artístico. É possível estimular o desenvolvimento sustentável de nossa região a partir da sua diversidade cultural. A Economia da Cultura promove a inclusão social e um impacto na renda das cidades criativas." (sinopse da divulgação do evento)
Oficina de Formação Artística
Economia da Cultura - Do Potencial à Ação Criadora
Facilitadores: João Bosco Dumont e Paula Izabela (Juazeiro do Norte-CE)
Público alvo: produtores culturais e artistas
Vagas: 40; Carga horária: 16h/a
De 11 a 14 de dezembro de 2012, das 14h às 18h
No Centro Cultural Banco do Nordeste Cariri (Juazeiro do Norte)
Inscrições gratuitas na recepção do CCBNB Cariri
+ info.: (88) 3512.2855.
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sexta-feira, 7 de dezembro de 2012
Embalado pra viagem # 88
a noite dos vendavais
aquele homem cansado
vazio cheio de mágoas
um homem devorado
seus olhos rasos d’água
mil pausas para seu coração
já não seriam suficientes
a vida em descoloração
descabida e descontente.
aquele homem aos pedaços
espalhado pelo caminho dos canibais
pensara findar seu cansaço
na noite dos vendavais.
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Da série "Observatório do desencanto", parte do livro Obras completas, previsto para 2013.
Ythallo Rodrigues é poeta e cineasta.
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aquele homem cansado
vazio cheio de mágoas
um homem devorado
seus olhos rasos d’água
mil pausas para seu coração
já não seriam suficientes
a vida em descoloração
descabida e descontente.
aquele homem aos pedaços
espalhado pelo caminho dos canibais
pensara findar seu cansaço
na noite dos vendavais.
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Da série "Observatório do desencanto", parte do livro Obras completas, previsto para 2013.
Ythallo Rodrigues é poeta e cineasta.
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quinta-feira, 6 de dezembro de 2012
Covernation nesta sexta e sábado em Juazeiro
Covernation
Sexta-feira, 07 de dezembro de 2012, 22h:
Com as bandas Puccinia (Nirvana Cover) e Fuckin'Up (Pearl Jam Cover)
Sábado, 01 de dezembro de 2012, 22h:
Com a banda vencedora da sexta e a banda 4º ao Lado (Ramones Cover)
No Black Dog Rock Bar (Av. Virgílio Távora, Juazeiro do Norte-CE)
Entrada (cada noite): R$5,00
Classificação: 18 anos.
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'De Repente, no Último Verão', filme de Mankiewicz, em exibição no Cine Café
Cine Café (com mediação de Elvis Pinheiro)
Exibição do filme De Repente, no Último Verão
Título original: Suddenly, Last Summer
Direção: Joseph L. Mankiewicz
Roteiro: Gore Vidal, baseado em peça de Tennessee Williams
Elenco: Elizabeth Taylor, Katharine Hepburn, Montgomery Clift, Mercedes McCambridge
Duração: 114 minutos
Ano: 1959
País de origem: Estados Unidos
"Um elenco estelar composto pela perigosa sogra (Katherine Hepburn) que contrata um jovem neurologista (Montgomery Clift) para lobotomizar a ardente nora (Elizabeth Taylor) traumatizada com a morte violenta de seu marido, Sebastian. Texto explosivo e cheio de insinuações do dramaturgo estadunidense Tennessee Willams." (sinopse da divulgação do evento)
Exibição no sábado, 08 de dezembro de 2012, às 17h30
No Centro Cultural Banco do Nordeste Cariri (Juazeiro do Norte). Entrada gratuita.
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quarta-feira, 5 de dezembro de 2012
Apresentação do espetáculo 'Teu Nome', do Circo du Sopé, em Crato
"...'Quero Paz, Não Escrevo Teu Nome Nunca Mais'...
O porquê do nome nos Seres Vivos, A Influência da Natureza na Origem dos nomes, As relações Humanas, Afetivas e Outros fatores do cotidiano, Serviram de Mote Para o Circo Du Sopé Lançar Teu Nome, um Espetáculo Que Envolve Dança, Teatro e Circo, Deixando de Lado a Ludicidade Bastante Comum do Circo Tradicional, Para Embarcar Numa Viajem a Um Mundo de Silêncio, Mistérios e Sensações. Com Base nas Técnicas Desenvolvidas, a Interferência do Clown e o Urbanismo Inserido na Ancestralidade, o Espetáculo Mostra as Mais Diferentes e Comuns das Cenas Cotidianas: O Abraço, O Beijo, o Toque, o Sim e o Não, Proporcionando à Plateia a Sensação de Ator-Espectador." (sinopse da divulgação do evento)
Espetáculo Teu Nome
Circo Du Sopé (Crato-CE)
Sábado, dia 08, e domingo, dia 09 de dezembro de 2012, 19h30
No Teatro Rachel de Queiroz (Crato-CE)
Entrada: R$12,00 (inteira); R$6,00 (meia e antecipada).
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Troca de Ideias em Juazeiro com lançamento de livro sobre o ICVC
"O ICVC tem como objetivos: o cultivo, o incremento e a difusão das ciências e das artes; como também a preservação da tradição histórica e antropológica do Cariri. Lançamento do livro 38 anos do ICVC – Instituto Cultural do Vale Caririense e bate-papo com a pesquisadora." (sinopse da divulgação do evento)
Troca de Ideias
38 Anos de História: Instituto Cultural do Vale Caririense
Convidados: Renato Casimiro e Rosário Lustosa
Produção e mediação: Paula Izabela
Sexta-feira, dia 07 de dezembro de 2012, 19h
Auditório do 6º andar
Centro Cultural Banco do Nordeste Cariri (Juazeiro do Norte-CE)
+ info.: (88) 3512.2855.
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terça-feira, 4 de dezembro de 2012
Em Juazeiro: curso 'Revisitando Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira'
"O curso busca revisitar os compositores Luiz Gonzaga, consagrado como o 'Rei do Baião', e Humberto Teixeira, como o 'Doutor do Baião', e suas principais parcerias que ganharam grande notoridade com as antológicas canções 'Baião' (1946), 'Asa Branca' (1947), 'Juazeiro' (1948), 'Qui nem Jiló' (1949) e 'Baião de Dois' (1950), entre outras composições. Ambos iriam consagrar o Baião como um gênero musical autêntico. O foco são as composições das décadas de 40 e 50 que ficaram imortalizadas até os dias atuais." (sinopse da divulgação do evento)
Curso de Apreciação de Arte
Revisitando Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira:
Cem Anos de Nascimento de Gonzagão (Rei do Baião)
Facilitadora: Luiza Maria Aragão Pontes (Fortaleza-CE)
Dias 04, 05, 06 e 07 de dezembro, 14h
No Centro Cultural Banco do Nordeste Cariri (Juazeiro do Norte-CE)
Inscrição gratuita.
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segunda-feira, 3 de dezembro de 2012
'Um Céu de Estrelas', filme de Tata Amaral, no Cinematógrapho
Cinematógrapho (com mediação de Elvis Pinheiro)
Exibição de Um Céu de Estrelas
Título original: Um Céu de Estrelas
Direção: Tata Amaral
Roteiro: Jean-Claude Bernardet, Márcio Ferrari e Roberto Moreira, baseados em livro de Fernando Bonassi
Elenco: Paulo Vespúcio, Leona Cavalli, Lígia Cortez, Néa Simões, Alexandra Marzo
Duração: 78 minutos
Ano: 1996
País de origem: Brasil
"Dalva, uma cabeleireira do bairro da Mooca, São Paulo, decide romper seu relacionamento de dez anos com o metalúrgico Vitor, também do bairro. Em seguida, ganha um concurso e uma passagem para concorrer às finais em Miami. Vê na viagem a possibilidade de se livrar do universo opressivo em que vive e pensa em ficar por lá, para se afastar da mãe e do ex-noivo. A história se passa um dia antes da viagem, quando Dalva está arrumando sua mala. Ela ainda não teve coragem de contar para a mãe. Toca a campainha. É Vitor quem chega." (sinopse da divulgação do evento)
Exibição na quarta-feira, dia 05 de dezembro de 2012, às 19h
No Teatro SESC Patativa do Assaré (Juazeiro do Norte-CE). Entrada gratuita.
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sexta-feira, 30 de novembro de 2012
'O Espantalho', filme de Jerry Schatzberg, em exibição no Cinemarana
Cinemarana (com mediação de Elvis Pinheiro)
Exibição de O Espantalho
Título original: Scarecrow
Direção: Jerry Schatzberg
Roteiro: Garry Michael White
Elenco: Gene Hackman, Al Pacino, Dorothy Tristan, Ann Wedgeworth
Duração: 112 minutos
Ano: 1973
País de origem: Estados Unidos
Exibição na segunda-feira, dia 03 de dezembro de 2012, às 19h
No SESC Crato-CE. Entrada gratuita.
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Fernando Pessoa, os poetas
por Ythallo Rodrigues
Nascido em Lisboa, Portugal, ainda no século XIX, o homem Fernando Antonio Nogueira Pessoa durante 47 anos criou em vida uma das maiores e mais significativas obras da literatura portuguesa (compreenda-se aqui que ele não escreveu somente em português, o poeta também tem profícua escritura em língua inglesa).
Há 77 anos, em 1935, ele se despedia dessa nossa matéria, partindo para outras paragens. Não me atrevo porém, a quaisquer elogios a sua persona poética, sem pensá-lo como um múltiplo de poetas (o que de fato foi). Tendo sua poesia se multifacetado nas obras de Fernando Pessoa, o ortônimo, Alberto Caeiro, o mestre, Ricardo Reis, o monarquista e Álvaro de Campos, o futurista, para citar apenas os principais.
Tendo participado com fundamental relevância das revistas Orpheu números 01 e 02, e da revista Athena (revistas de grande importância para o modernismo português), Fernando Pessoa, no entanto, publicou apenas um livro intitulado Mensagem, em 1934. Nesse seu único livro publicado, o poeta por ele mesmo, busca refletir sobre a história de Portugal, levando em consideração o percurso dos grandes heróis e de sua pátria através dos tempos. Um livro de poemas com forte apelo nacionalista. Sendo ainda, um livro de complexidade apaixonante, Mensagem é composto por 44 poemas repletos de símbolos patríoticos (o brasão português, as coroas, o encoberto e etc.) e de história (os reis, o império, o "mar português" e etc.).
Para os interessados em adentrar nos meandros do livro Mensagem, existe um ótimo livro disponibilizado na rede, intitulado As Mensagens da Mensagem - A Mensagem de Fernando Pessoa, anotada e comentada, escrito por Nuno Hipólito. Segue o link aqui para quem queira.
Abaixo alguns poemas dos mestres da literatura de língua portuguesa.
Este poema encerra o livro Mensagem, de Fernando Pessoa
Quinto / Nevoeiro
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer —
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.
Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
É a Hora!
Poema de Álvaro de Campos, 15-1-1928
Tabacaria
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.
(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente
Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.
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Nascido em Lisboa, Portugal, ainda no século XIX, o homem Fernando Antonio Nogueira Pessoa durante 47 anos criou em vida uma das maiores e mais significativas obras da literatura portuguesa (compreenda-se aqui que ele não escreveu somente em português, o poeta também tem profícua escritura em língua inglesa).
Há 77 anos, em 1935, ele se despedia dessa nossa matéria, partindo para outras paragens. Não me atrevo porém, a quaisquer elogios a sua persona poética, sem pensá-lo como um múltiplo de poetas (o que de fato foi). Tendo sua poesia se multifacetado nas obras de Fernando Pessoa, o ortônimo, Alberto Caeiro, o mestre, Ricardo Reis, o monarquista e Álvaro de Campos, o futurista, para citar apenas os principais.
Tendo participado com fundamental relevância das revistas Orpheu números 01 e 02, e da revista Athena (revistas de grande importância para o modernismo português), Fernando Pessoa, no entanto, publicou apenas um livro intitulado Mensagem, em 1934. Nesse seu único livro publicado, o poeta por ele mesmo, busca refletir sobre a história de Portugal, levando em consideração o percurso dos grandes heróis e de sua pátria através dos tempos. Um livro de poemas com forte apelo nacionalista. Sendo ainda, um livro de complexidade apaixonante, Mensagem é composto por 44 poemas repletos de símbolos patríoticos (o brasão português, as coroas, o encoberto e etc.) e de história (os reis, o império, o "mar português" e etc.).
Para os interessados em adentrar nos meandros do livro Mensagem, existe um ótimo livro disponibilizado na rede, intitulado As Mensagens da Mensagem - A Mensagem de Fernando Pessoa, anotada e comentada, escrito por Nuno Hipólito. Segue o link aqui para quem queira.
Abaixo alguns poemas dos mestres da literatura de língua portuguesa.
Este poema encerra o livro Mensagem, de Fernando Pessoa
Quinto / Nevoeiro
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer —
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.
Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
É a Hora!
Poema de Álvaro de Campos, 15-1-1928
Tabacaria
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.
(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente
Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.
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